2003/07/24

António Lobo Antunes

Aqui há algum tempo a minha amiga Patrícia enviou-me um mail com um poema que tinha achado muito bonito, e que, por isso, queria partilhar com os amigos. Era (é) um poema do nosso putativo Nobel António Lobo Antunes, e chama-se "Todos os homens são maricas quando estão com gripe".

Quando o li, não pude deixar de sorrir; isto porque, apesar de já não o ler ou ouvir há algum tempo, conheço-o de cor. Faz parte de um conjunto que L.A. escreveu propositadamente para musicar um álbum de Vitorino, com cerca de dez anos, chamado "Eu que me comovo por tudo e por nada". Escusado será dizer que esse CD já foi resgatado da estante, e voltou a ser powerplay no meu carro.

Como se sabe, L.A. não é profícuo a escrever poesia; lembro-me até de, na altura em que este álbum surgiu, ter lido que esta era a primeira vez que escrevia poesia, pelo menos para consumo externo.

E é uma pena que não escreva mais, pois "mete no chinelo" muito pseudo-poeta que por aí anda. Podia transcrever aqui o lindíssimo "Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto", mas ficará para outra ocasião. Com a devida vénia, prefiro transcrever este:

Ana

O mar não é tão fundo que me tire a vida
Nem há tão larga rua que me leve a morte
Sabe-me a boca ao sal da despedida
Meu lenço de gaivota ao vento norte

Meus lábios de água, meu limão de amor
Meu corpo de pinhal à ventania
Meu cedro à lua, minha acácia em flor
Minha laranja a arder na noite fria

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