Não sei se já mencionei aqui o Padre Manuel mas, se não o fiz ainda, devia tê-lo feito. O Padre Manuel Frango de Sousa foi, provavelmente, a mais polémica figura pública que passou por Azeitão nas últimas décadas - e digo "foi" porque, infelizmente, morreu há pouco tempo, num estúpido acidente doméstico.
Foi ele quem celebrou o meu casamento, na capela da quinta de Nossa Senhora d'El Carmen, no coração da Serra Mãe, e também o da maioria dos meus amigos, quase sempre na Igreja de São Lourenço, a sua paróquia. O Padre Manuel, entre outras idiossincrasias, tinha uma forma de celebrar os casamentos que arrepiava todos aqueles que não estavam familiarizados com a personagem, mas que divertia todos os autóctones; começava sempre as cerimónias dizendo: "se algum dos presentes conhecer algum motivo pelo qual este casamento não se deva realizar, peço-lhe que fale agora!" - assim, a frio!
Depois, fazia um silêncio de mais de um minuto (uma eternidade nessas circunstâncias, acreditem), em que todos nos entreolhávamos, na expectativa de ver aparecer uma mulher com três crianças ao colo, a reclamar a assunção da paternidade por parte do noivo. Durante esse hiato, olhava fixamente para todos os presentes, e, por vezes, interpelava mesmo directamente algum porventura mais sorridente, perguntando no seu tom circunspecto: "o senhor (ou senhora) conhece algum motivo? Quer partilhá-lo connosco?", ou outra coisa do género.
Uma vez, em conversa informal e meio divertido, o Padre Manuel confidenciou-me que procedia dessa forma para garantir a atenção dos presentes que, doutro modo, tenderiam a dispersá-la.
Contudo, outra das características dos casamentos por si celebrados, que normalmente horrorizavam as "beatas" mais fervorosas e menos habituadas a inovações, consistia no facto de pedir sempre uma salva de palmas aos presentes para festejar a união dos noivos.
Não pude, por isso, deixar de me lembrar do bom Padre Manuel, quando li
esta notícia de hoje no, "Público", em que se refere que o Vaticano se encontra a ultimar um documento, no qual, entre outras inanidades, se prevê a futura proibição de palmas nas igrejas. O Padre Manuel era um Padre Católico, e acredito que, apesar da admissível surpresa, nunca ninguém terá pensado estar a lavrar em pecado ao bater palmas na Casa de Deus.
E ainda falam em modernização, e em cativar fiéis...