2005/11/04

Sindroma do alpinista

Nunca vos aconteceu sentirem-se à beira da conquista, mas em pânico por saberem que, não obstante todo o difícil percurso efectuado, a parte decisiva só agora começa? Aquela fase em que qualquer escorregadela, qualquer passo em falso, pode comprometer e deitar a perder todo o esforço, todo o empenho, todo o sacrifício anterior?

Quando estamos longe, uma montanha é igual a outra montanha, a outra montanha, a outra montanha... Mas, uma vez iniciada a subida, cada passo, cada gota de suor, cada socalco superado, tornam-se parte de um património que nos vai engrandecendo, que nos vai dando ânimo para prosseguir - contudo, nesse progresso, carregamos cada vez mais a responsabilidade de todo o investimento anterior, e sabemos que não podemos, não temos o direito de dar passos em falso, por respeito ao que já fomos capazes de fazer. E é a história da pescadinha de rabo na boca: o saber que não podemos errar cria-nos uma tal tensão que passamos a questionar doentiamente tudo o que fazemos, para saber se está certo ou errado - e vem então a ansiedade de percebermos finalmente que não sabemos que raio é isso de "certo ou errado", que nem sabemos como chegámos ali, não fazemos a mínima de qual o passo correcto a seguir, e tudo o que nos resta é arriscar e acreditar.

Mas nunca ninguém se gabou de ter chegado quase ao topo do Everest, pois não?