2008/02/11

Sonhos adiados



E, para desanuviar de tanta escrita, aqui fica mais um oldtimer para a minha putativa garagem de sonho; com a vantagem de desta vez se tratar de um projecto mais modesto, económico e, pour cause, exequível - assim as coisas se comecem a endireitar...

A ponte é uma passagem...



Nesta discussão sobre pontes e aeroportos, com uma enchente de pedidos de pareceres a encherem de trabalho os funcionários do LNEC (infelizmente "esqueceram-se" apenas de pedir um parecer sobre o interesse de gastar muitos milhões de euros num comboio TGV, num país onde um Alfa Pendular já ultrapassa os 200km/h e onde a auto-estrada A6, de Setúbal a Badajoz, está permanentemente sem trânsito...), parece-me, dizia e desculpem-me a petulância, que se está a esquecer o óbvio: é que, se olharmos para um mapa da Estremadura e nos fixarmos na parte Norte do distrito de Setúbal, reparamos que os concelhos de Almada e do Seixal já estão servidos pela Ponte ex-Salazar, agora 25 de Abril, enquanto que qualquer residente nos concelhos do Montijo ou Alcochete está agora muito satisfatoriamente servido, nas suas viagens de e para Lisboa, pela Ponte Vasco da Gama. Aliás, a construção desta ponte aumentou visivelmente a densidade demográfica naquelas zonas, principalmente por parte de quem procurou preços mais atractivos no imobiliário e melhor ambiente, continuando a trabalhar em Lisboa. Por outro lado, quem conhece a zona sabe bem que, antes da existência da ponte, eram poucos os montijenses ou alcochetanos que trabalhavam em Lisboa, tantas eram as dificuldades de deslocação, tendo esse fluxo aumentado exponencialmente depois de 1998 por motivos óbvios. Curiosamente, alguns dos concelhos que forneceram, desde sempre, maior quantidade de mão de obra para Lisboa são o Barreiro e a Moita, bastando, para confirmar o que digo, atentar nos milhares de pessoas que diariamente atravessam o Tejo de barco (no Barreiro ainda há quem lhes chame "vapores") - mas, paradoxalmente, são actualmente os concelhos, com estas características demográficas, mais mal servidos em termos de acessibilidades. Ora, se é verdade que na elaboração do estudo deverão ser levados em linha de conta os factores técnicos (facilidade de construção) e económicos (principalmente o custo das obras, mas também a sua rentabilização), parece-me, contudo, da mais óbvia justiça que a primeira pergunta a fazer seja precisamente qual a localização que melhor serve as populações. Decerto seria mais barato e tecnicamente mais simples fazer uma nova travessia do Tejo em Vila Velha de Rodão, mas certamente isso não resolveria o problema de um único habitante da margem Sul que tivesse que se deslocar diariamente para Lisboa.

Assim sendo, e sabendo que os concelhos mais a Sul da península, ie, Palmela, Setúbal e Sesimbra, se encontram equidistantes de Lisboa, seja qual for a opção tomada, que os habitantes dos concelhos de Almada, Seixal, Montijo e Alcochete estão, todos, a escassos minutos de uma das pontes actualmente existentes (sem considerar problemas de trânsito, presentes em qualquer caso), e que os habitantes dos concelhos do Barreiro ou da Moita, apesar de se encontrarem junto ao Tejo, encontram-se sempre a mais de trinta quilómetros da capital, e ainda que as opções em cima da mesa são a construção de uma nova ponte no Barreiro ou no Montijo (surgindo ainda agora uma ainda mais lunática de construir mais uma ponte em Alcochete), pergunto-me, e pergunto-vos, qual seria a ponte de utilidade mais efectiva?

Triste aniversário

Passa hoje exactamente um ano sobre a data em que a maioria dos portugueses que se deram ao trabalho de ir votar escolheram a legalização da IVG, eufemismo para aborto, desde que praticada até às dez semanas de vida do feto. Segundo tenho ouvido, e se tenho interpretado bem, parece que os "objectivos" estão a ser cumpridos, ou talvez não, nem é isso o que mais me interessa. O que me choca é a forma como se podem estabelecer "objectivos" quando é da morte de seres humanos que falamos, como se fossem generais a determinar qual o número de baixas a infligir ao adversário. Tudo, realço como fiz há um ano, decidido por quem cá anda, e que o pode agradecer a quem decidiu pela sua vida, mas que agora se arroga o direito divino de decidir sobre a vida alheia.

Bom, mas passada que está esta batalha dura para tão galvanizados lutadores, outras se aproximam. Não falo ainda da abolição, tout court, das toiradas, previsível próxima etapa de quem defende sem dúvidas a morte de seres humanos indefesos, por decisão da mãe, mas que se indigna com o sofrimento infligido a um toiro de quatro anos. Continuo ainda no tema do aborto (desculpem lá, mas não usarei o vosso querido eufemismo de "Interrupção blá blá blá", apenas e tão só porque ele representa uma mentira nos próprios termos, já que uma interrupção pressupõe um reatamento posterior), para dar conta de uma nova reclamação que o Movimento Democrático das Mulheres (MDM) passou largos minutos a defender, em tempo de antena pago pelos contribuintes, há bocado, antes do Telejornal na RTP1. Regozijando-se com o sucesso da nova lei, sucesso esse consubstanciado no número de mortes de bebés, estas mulheres não se encontram ainda satisfeitas, e reclamam agora uma maior urgência no atendimento de um caso de aborto a pedido. Não reivindicam, curiosamente, mais consultas de apoio psicológico e de aconselhamento a quem quer abortar, mas sim que as pessoas que atravancam os hospitais com os seus extravagantes pedidos de ser tratados a cancros ou fracturas, tenham respeito pelos casos muito mais graves e prioritários de quem engravidou porque não lhe apeteceu estar a pensar muito no assunto, e agora precisa rápida e urgentemente de matar a vida que traz no ventre.

Os defensores do "sim" sempre se ofenderam muito por ser tratados como criminosos, mas para mim é difícil pensar noutro nome para quem, conscientemente, defende a morte de vidas humanas.

Balanço



Este blog tem andado meio parado, não só por falta de disposição - que não de tempo, infelizmente - do seu autor para nele escrever, mas também por me ter dado conta, de há uns tempos para cá, de que os blogs perderam a sua força da altura do lançamento, em que éramos apenas uns poucos (perdoem-me o pretensiosismo, mas a verdade é que este espaço fará em breve seis anos). Agora os blogs estão demasiado banalizados e servem para tudo, desde colocar fotos de um casamento até aos resultados de uma equipa de futsal lá da empresa, e esta dispersão acabou por ter efeitos práticos nefastos para o núcleo que se mantinha: apenas uma meia dúzia se aguentou com leitores fiéis, precisamente aqueles que mais vezes eram actualizados ou citados em órgãos de comunicação mais abrangentes. A este propósito, e perdoem-me desviar a conversa, não posso deixar de me sentir intrigado com os critérios que o "Público" utiliza para os seus destaques diários do que é escrito em blogs; a verdade é que aparecem sempre meia dúzia de blogs absolutamente desconhecidos, as opiniões neles expressas são incipientes e revelam frequentemente desconhecimento de causa, e até se conseguem encontrar vezes demasiadas erros crassos de ortografia e de outro tipo (lembro-me, por exemplo, de um "especialista", que viu o seu blog transcrito no "Público", referir-se a um jogo de futebol entre o Porto e o Sporting como um derby!). Não sou adivinhador, mas não deverei andar muito longe da verdade se imaginar que aqueles retalhos de blogs são da responsabilidade de algum estagiário a quem se diz, por exemplo, para fazer um apanhado do que dizem os blogs sobre o atentado a Ramos Horta. Vai daí, o esperto estagiário faz uma pesquisa no Google com as palavras "Ramos Horta atentado blog", e faz um copy/paste dos cinco ou seis primeiro blogs que encontrar, sem cuidar sequer de averiguar da relevância do seu conteúdo. Fácil, prático e nada profissional.

Mas desviei-me do assunto que aqui trazia, a minha actualização cultural e de lazer nestes dias de forçada inactividade, como forma de manter o espírito tão são quanto possível. Não serei exaustivo, e desde já espero que os meus leitores relevem a petulância de lhes dizer o que ando a fazer como forma de guia espiritual. Mas, se não acharem necessário este aconselhamento, sem qualquer finalidade comercial, sabem que são livres de clicar lá em cima num botão qualquer e saltar para outro site tão depressa como aqui vieram parar.

Posto isto, ficam a saber que, descoberta a minha veia monárquica recentemente, ando a ler a biografia dessa grande personagem portuguesa que foi D. Carlos, cobarde e infamemente assassinado. A propósito, há dias, nas comemorações do centenário do regicídio, ouvi a troupe do costume, ie, o Bloco de Esquerda e os seus "artistas" justificarem o voto contra um voto de pesar por D. Carlos proposto por um deputado do PSD, por alegadamente se estar assim a branquear a imagem de uma pessoa e de um regime que "já na altura eram alvo de grande contestação popular". Dando de barato que a pessoa que pronunciou isto, penso que o inefável Dr. Fernando Rosas, não estava a confundir monarquia com a ditadura que sucedeu pouco depois da instauração da república - esta sim, culpa dos republicanos, que depois de tomarem o poder com um criminoso golpe de estado, não souberam conduzir o país - aceitando que não há confusão, dizia, só podemos concluir que a afirmação é dolosa e intencionalmente mentirosa, já que a contestação partia apenas de um limitado grupo de revoltados, incluindo Aquilino Ribeiro, cuja memória - essa sim - se tenta branquear agora. A "contestação popular" a que alude o BE era tanta que, nas eleições democráticas que já durante a monarquia se realizavam em Portugal, nunca o Partido Republicano atingiu sequer os 10%! Mas também pouco mais se poderia esperar de quem não tem dignidade nem honra: bastava observar meia dúzia de provocadores disfarçados de palhaços (uma redundância, o disfarce era desnecessário...) que foram nesse mesmo dia para o Terreiro do Paço provocar quem relembrava a memória do Rei e do Príncipe Real, dando vivas ao Buiça no verso de faixas usadas anteriormente noutros "números artísticos" do bloco.

Hoje estou para divagar, como João Bénard da Costa nas suas lindas crónicas de domingo no "Público", desculpem outra vez a imodéstia de me comparar a tão grande figura. Voltemos pois ao livro que ando a ler, "D. Carlos", da autoria de Rui Ramos, edição do Círculo de Leitores (o que eu penei para arranjar este livro, já que eles mantêm aquela abstrusa regra de só vender a sócios - obrigado, cunhada!), apesar de recentemente ter surgido numa outra edição mais portátil (pelo menos não tem capa dura) e fácil de adquirir, da Temas e Debates. Entretanto, já está ali em fila de espera "D. Carlos - a vida e o assassinato de um Rei", de José M. de Castro Pinto, da Plátano Editora. Aparentemente trata-se de uma versão menos aprofundada mas mais objectiva do reinado e da morte da mesma personagem marcante da nossa nacionalidade, bem como das nossas ciências e artes.

Mudando de tema, mas ainda na leitura, também ali está já "O Crocodilo que voa", série de entrevistas ao recém falecido Luiz Pacheco por João Pedro George, livro a que aludi no post anterior. Não vai demorar muito a chegar à mesinha de cabeceira, palpita-me. Lá vai encontrar a companhia do "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, extraordinário exercício de antecipação, que só não tem tido a merecida rapidez de leitura devido à concorrência de outras obras. E vai encontrar também a Autobiografia dos Monty Python, algo que ninguém nascido nas décadas de sessenta ou setenta devia perder. De saída há uns dias veio "A Vida de Pi", de Yann Martel, lido com algum atraso relativamente à sua saída, mas que nada perdeu com o tempo. Vivamente aconselhado.

Ainda nas leituras, mas passando à imprensa, continuo, malgré tout, a ler o "Público", a "Sábado" idem, e a recusar-me terminantemente a passar os olhos sequer por pasquins como o "Expresso", o "Sol" ou o "24 Horas", o que, contudo, não me impede de ir acompanhando à distância as divertidas acrobacias do arquitecto para rebaptizar as ofertas. Leio de ponta a ponta a "Atlântico" todos os meses, assim como a "Retro Course" e a "Motor Clássico" - estas são, de resto, as únicas duas revistas de automóveis que compro, já que no que toca aos modelos actuais e às corridas, de que tanto gosto, a qualidade da oferta é abaixo de medíocre e mais vale actualizar-me na net.

Passemos à música, só para dar conta, sem grandes comentários, dos dois últimos power play do meu carro: "Versus", dos Kings of Convenience (& amigos) e "Distortion", dos Magnetic Fields. Ouçam e digam qualquer coisa depois.

A minha condição caseira, que eu muito prezo, também me levou a aumentar levemente os meus tempos de visualização de televisão. Na "caixinha" recomendo, pois, "A Quadratura do Círculo" sempre, "Conta-me como foi" e "Men in Trees" série americana que vale especialmente pelas paisagens e pelos ambientes, estupidamente "traduzida" em português para "O Amor no Alasca". Aliás, já que falo nisto, e perdoem-me outro desvio, sempre achei que havia uma atitude generalizada de quem traduz títulos de filmes, no sentido de nos tentarem explicar, logo no título, pelo menos metade do enredo, não vá o portuguesinho típico não saber do que se trata. Haveria milhares de exemplos, mas lembro por exempo a "tradução" de "Little Miss Sunshine" para um muito mais explícito "Uma família à beira de um ataque de nervos" - para mais plagiando, ou copiando quase, um título famoso de Pedro Almodovar. E, como as cerejas, falo-vos ainda dos "Devotchka", autores da banda sonora do filme. Um espanto. Voltando, no entanto, à televisão, de destacar a mais linda sitcom romântica que me lembro de ver: é inglesa, passa aos domingos à noite na "Britcom", por enquanto, tem paisagens maravilhosas de Gales, e chama-se "Gavin and Stacey".

De resto continuo a ir sempre que posso ver o Vitória de Setúbal (ainda ontem lá estive, a ver como se coloca o Guimarães, uma equipa que tem sido "levada ao colo" pelos árbitros, no seu devido sítio), os ralis, e só tenho faltado aos toiros porque toiros decentes só para lá da fronteira.

E pronto: a Madalena e o Lourenço estão cada vez maiores e mais bonitos, e falta-me muito pouco para estar completamente feliz!