Normalmente é mais fácil repetir o que se ouve, sem averiguar da sua veracidade, ou pelo menos da sua verosimilhança, do que tentar usar os neurónios e questionar o que nos é enfiado todos os dias pela cabeça. A vida dos nossos dias predispõe-nos para o
ready made, sem sentimentos de culpa ou de qualquer outra espécie. A tendência não será tão antiga como a imagem que a ela associo, mas esta espécie de alienação voluntária leva-me sempre ao desenho animado de
"Another brick in the wall", quando um maquiavélico professor harmoniza os pensamentos de alunos passando-os por um triturador de carne. Hoje são os alunos, toda a gente, que amavelmente se atira para o dito triturador, a fim de que alguém lhe faça o favor de formar uma opinião no seu lugar.
A ladaínha sobre Pedro Santana Lopes e as "trapalhadas" foi uma manobra de tal forma bem criada, que todo o rebanho continua a repetir o estribilho, ainda que nem uma pessoa consiga apontar, de forma objectiva, uma das ditas "trapalhadas". George W. Bush também se tornou uma presa fácil do anedotário internacional; duvido que alguém me consiga estruturar, mesmo que disponha de mais do que um dia para o fazer, uma razão para achar o Presidente Americano o incapaz que, no sábio entender das conversas de café das redacções, nem um café saberia tirar numa máquina - mas toda a gente usa e abusa da piada pronta a usar.
Agora vejo algumas agitações por movimentos internos no CDS: Paulo Portas não quis aceitar desde logo a demissão de Nobre Guedes, alguém fez a história sair para fora do partido e, como de costume, já temos o coro de carpideiras à porta a chorar - pela 830ª vez! - o "fim definitivo" do partido. Mas a questão que alguém com um mínimo do indispensável espírito crítico deveria colocar era a seguinte: mas a quem é que isto interessa a não ser aos militantes do partido? O que é que eu tenho a ver com a maneira como os responsáveis do restaurante onde vou escolhem o gerente ou os funcionários? O que é que me interessa a mim que os deputados do BE andem constantemente numa roda viva de substituições, sem que eu conheça os critérios para as mesmas? Quem é que escolhe, ou escolheu, o incontornável Louçã para ser o eterno presidente do partido, assim uma espécie de "querido líder"? E o que é que eu quero saber disso? E por que raio é que lhes interessa tanto o que se passa dentro do CDS?
Get a life!P.S.: Obrigado aos Pink Floyd pelas duas inspirações para este post.