Todos os anos a história se repete irritantemente: a indústria cinematográfica americana monta uma operação gigantesca de propaganda, e o resto do mundo assiste, embevecido, à suposta consagração dos "melhores filmes do mundo". Será que sou eu o único que acha que os Oscares apenas premeiam os "melhores filmes do mundo, desde que sejam americanos"?
Sim, já adivinho as objecções dos defensores da coisa: há uns anos atrás o genial Roberto Benigni foi premiado com "A vida é bela" (a propósito: nunca viram "O monstro"?), mas mesmo isso parece-me ter sido uma clara manobra de charme e de
marketing dos responsáveis da Academia, para calar quem, como eu, acusa a cerimónia do
Kodak Theatre de ser um mero exercício de auto adoração. E, se me vierem com o argumento de que os Estados Unidos são o país de origem de grande parte dos filmes de todo o mundo, eu respondo: então porque é que nunca aparece um filme indiano para amostra, sabendo que a Índia é o maior produtor cinematográfico do globo?
De resto, e se a cerimónia é tão internacional como a querem pintar, por que raio é que há um prémio para o "melhor filme estrangeiro"? Porque os americanos não são estrangeiros, claro!
A propósito, acabei de ver há mais de uma hora "Mar adentro", e a verdade é que ainda não consegui recuperar o fôlego - que sucessão esplendorosa de paisagens (a Galiza, meu deslumbramento...) e de histórias de amor. As escolhas são sempre injustas, mas se me perguntarem qual o amor que mais me tocou neste filme de culto, elegeria sem pestanejar o fraterno de José por Ramon. Alguém tem um lenço?