2008/11/04

O Monopólio das Causas

Paulo Tunhas, no Atlântico, diz que é "a costela de esquerda" que o leva a simpatizar com um candidato "preto". À primeira vista a ideia iconoclasta até parece bem atribuída: normalmente, por vício, atribui-se à esquerda o exclusivo da defesa das minorias - e, se bem que a raça negra não seja propriamente uma minoria, o seu acesso a lugares de destaque continua a ser demasiado escasso.

A mesma coisa com a homossexualidade; a esquerda considera-se assim uma espécie de patriarca compreensivo, que alberga no seu regaço todos os comportamentos que, desejavelmente, seriam alvo de crítica pela direita, conservadora e intolerante. O problema está no pressuposto que a esquerda quer, falaciosamente, impingir: a verdade é que a direita não condena comportamentos, não distingue raças e, apesar de maioritariamente cristã, continua a ser tolerante com todas as religiões, pelo menos com os seus representantes que não apresentem instintos bélicos.

Por isso é que a esquerda fica desorientada quando percebe a grandeza do gesto de Stefan Petzner, que ao herdar a liderança de um dos maiores partidos de direita (não direi extrema-direita porque tal me obrigaria a chamar extremistas de esquerda ao BE, por exemplo) da Europa, assume a sua homossexualidade e a sua paixão pelo líder falecido, Jorg Haider. E, esquecendo-se da dignidade que aparenta quando fala dos seus "grupos de trabalho", logo desata numa chacota pegada sobre o assunto. Do tipo: uma relação homossexual só é digna e respeitável se se verificar entre duas pessoas de esquerda - se for entre dois "fascistas" já é paneleirice.

E ninguém lembra já Pim Fortuyn, assumidamente gay, assumidamente de direita, e não completamente branco, que foi assassinado em 2002 por Volkert Van Der Graaf, um activista de esquerda radical.

As causas dão muito jeito quando as conseguimos tomar como nossas, mas há sempre uns chatos inconvenientes dispostos a mostrar que não existe exclusividade para o pensamento.

Fazer a festa, lançar os foguetes e apanhar as canas!

A melhor parte, para além da ideológica, de ver Obama perder, seria assistir às crises subsequentes em toda esta intelligentzia lusa, que, contudo, precavidamente já preparou essa remota hipótese deixando por tudo quanto é lado a mensagem (assim meio a raiar o paranóico avant la lettre) de que, se McCain ganhar, é porque houve fraude eleitoral.

Se eles assim já o asseguram, quem somos nós para nos intrometermos em tão doutas opiniões?

Esperemos antes tranquilos que ganhe aquele que eles agoram pensam tratar-se de um novo messias, e sorríamos de soslaio quando, daqui a um ano ou menos, eles começarem a perceber que afinal elegeram um americano, as usual.

2008/11/03

Parabéns, Campeão!


Serei eu o único que ficou genuinamente contente com a vitória de Lewis Hamilton no Campeonato do Mundo de Fórmula 1?

E serei também o único que não acredita em abstrusas teorias da conspiração sobre a forma como Timo Glock (em slicks, à chuva, o que não é despiciendo) se deixou passar quase na praia?

Nunca confiei muito nesse pessoal que só vê Ferraris, nem que ao seu volante esteja sentado um alemão sem pingo de carácter.

P.S.: Bem sei que Hamilton não é brasileiro mas, quando o vejo conduzir, consigo mais facilmente lembrar-me de Ayrton Senna do que quando vejo Massa, que o é - e isso para mim é suficiente.

2008/11/02

Elogio da Mediocridade

O BPN vai ser nacionalizado, devido a graves irregularidades detectadas e acumuladas no seu funcionamento. Nada que surpreenda o cidadão comum, pelo menos aquele que, no mínimo, costumava conversar com outros exemplares da espécie e observava com um mínimo de atenção o funcionamento da coisa.

No entanto, houve quem ficasse surpreendido: um fulano, que por acaso é Governador do Banco de Portugal, funções pelas quais aufere um vencimento superior ao de Alan Greenspan - mas que mais parece um mostruário ambulante das últimas novidades em termos de colorações capilares - não encontrou coisa melhor para dizer, frente aos jornalistas, do que alegar que não podia suspeitar porque "não tinha indícios".