Paulo Tunhas, no Atlântico, diz que é "a costela de esquerda" que o leva a simpatizar com um candidato "preto". À primeira vista a ideia iconoclasta até parece bem atribuída: normalmente, por vício, atribui-se à esquerda o exclusivo da defesa das minorias - e, se bem que a raça negra não seja propriamente uma minoria, o seu acesso a lugares de destaque continua a ser demasiado escasso.
A mesma coisa com a homossexualidade; a esquerda considera-se assim uma espécie de patriarca compreensivo, que alberga no seu regaço todos os comportamentos que, desejavelmente, seriam alvo de crítica pela direita, conservadora e intolerante. O problema está no pressuposto que a esquerda quer, falaciosamente, impingir: a verdade é que a direita não condena comportamentos, não distingue raças e, apesar de maioritariamente cristã, continua a ser tolerante com todas as religiões, pelo menos com os seus representantes que não apresentem instintos bélicos.
Por isso é que a esquerda fica desorientada quando percebe a grandeza do gesto de Stefan Petzner, que ao herdar a liderança de um dos maiores partidos de direita (não direi extrema-direita porque tal me obrigaria a chamar extremistas de esquerda ao BE, por exemplo) da Europa, assume a sua homossexualidade e a sua paixão pelo líder falecido, Jorg Haider. E, esquecendo-se da dignidade que aparenta quando fala dos seus "grupos de trabalho", logo desata numa chacota pegada sobre o assunto. Do tipo: uma relação homossexual só é digna e respeitável se se verificar entre duas pessoas de esquerda - se for entre dois "fascistas" já é paneleirice.
E ninguém lembra já Pim Fortuyn, assumidamente gay, assumidamente de direita, e não completamente branco, que foi assassinado em 2002 por Volkert Van Der Graaf, um activista de esquerda radical.
As causas dão muito jeito quando as conseguimos tomar como nossas, mas há sempre uns chatos inconvenientes dispostos a mostrar que não existe exclusividade para o pensamento.
Davam grandes passeios pelo jornal
Há 1 hora