2006/06/17

Orçamento

Apesar de, graças a Deus, nunca ter passado dificuldades financeiras por aí além, noto em mim, por vezes e cada vez mais, uma tendência para o "forretismo", se bem que, na maior parte dos casos, a consiga justificar com a simples invocação da razão.

Para ilustrar o que digo, não consigo conceber como, por exemplo, se gastam fortunas abissais em peças de roupa quando, muitas vezes, apenas estamos a comprar o emblema ou a griffe. Como diz com alguma graça e muita razão o meu amigo P.R., é absolutamente despudorado comprar uma peça de vestuário, seja ela qual for, cujo custo seja superior ao ordenado mínimo nacional. Claro que este raciocínio não poderá valer, por exemplo, para uma camisa, em que o plafond terá que ser forçosamente muito mais baixo, e cujo valor razoável de aquisição não poderá exceder nunca os cinquenta ou sessenta euros, e isto para casos de comprovada qualidade.

O mesmo para os automóveis: por muitos Euromilhões que me pudessem sair, não me veria em caso algum a comprar aqueles carros estranhos que os príncipes árabes ou o Vítor Baía compram, com preços superiores a meio milhão de euros. Acho que é um desrespeito a todas as pessoas com necessidades este tipo de desperdícios e, apesar de ser um grande adepto de automóveis em muitas das suas vertentes, considero que existem excelentes carros com todas as comodidades exigíveis muito abaixo dos cinquenta mil euros.

Por fim, um fenómeno recente: os telemóveis. Observo frequentemente, mesmo no meu círculo de amigos mais restrito, mudanças frequentes e dispendiosas de aparelhos cujo único defeito é não serem os últimos do catálogo, por forma a dispor permanentemente de toda a parafernália dos gadgets mais recentes que estes aparelhos oferecem, tais como máquina fotográfica, berbequim, cortadora de fiambre, máquina de café, e sei lá mais o quê. Esta mentalidade impressiona-me e arrepia-me, a mim que só compro um telemóvel quando o anterior está mesmo kaput. Aconteceu há dias e, contrariado, dirigi-me a uma loja da especialidade para adquirir um novo telemóvel. O vendedor bem me queria convencer da utilidade de comprar um modelo que podia receber e-mails, telegramas e correio azul, mas os meus olhos desde a entrada na loja recaíram num singelo aparelho que, por cerca de cinquenta euros, me oferece a possibilidade de fazer e receber chamadas, afinal tudo aquilo para que eu quero um telemóvel!

Em adenda às reflexões expressas acima, gostaria ainda de informar que o anterior aparelho, talvez ressabiado com a sua troca por uma unidade mais jovem e pujante, se recusou a colaborar na hora de passagem do testemunho, isto é, quando tentei salvar os números que possuía em agenda. É, pois, por esse motivo, que aproveito a amplitude deste espaço blogosférico para solicitar a todos os meus leitores e amigos, principalmente àqueles que ainda não incomodei através de e-mail ou mensagem de Hi5, o favor de me reenviarem os vossos números, usando para o efeito o endereço electrónico situado ao lado (em "Recados"), ou, caso o possuam já, o meu número de telemóvel, que não sofreu alterações.

2006/06/12

Problemas de hardware

Ontem, enquanto tentava criar um manjerico para o Lourenço, utilizando, como me mandaram no infantário, papel crepe e um copo de plástico, deixei cair umas grossas gotas de cola-tudo UHU aqui em cima do computador portátil (e agora perguntam vocês: mas para que raio usaste cola UHU numa coisa que se resolve só com agrafos e jeito, e eu, em vez de vos responder, mostro-vos as minhas notas do secundário em trabalhos manuais, ou oficinais, ou lá o que lhes chamam agora). Bom, mas voltando aqui ao meu fiel companheiro, tentei limpá-lo de imediato com um lenço de papel, mas só consegui espalhar mais o visco. Agora, a coisa já secou e o plástico apresenta uma textura como que "arrepanhada" junto ao mouse digital - mas o aparelhómetro vai funcionando na mesma.

Será grave, doutor?

Lindo!

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


(Alexandre O'Neill by M.G.)

A ternura dos quarenta

Este blog teve a característica original de acompanhar o final da minha quarta década de vida (os "trintas") e a entrada na quinta (os "quarentas"). Se bem que pareça um lugar comum, a verdade, verdadinha mesmo, é que muita coisa mudou "aqui dentro" com este franquear.

Houve diversos e importantíssimos factos que aconteceram nestes quase três anos que modificaram de forma irreversível a minha vida, mas houve também mudanças de atitude importantes, quando percebi que me estava irremediavelmente a afastar da minha juventude. Uma das principais diferenças que noto, e pela qual já me fizeram pagar a incoerência, foi o meu súbito interesse pelo futebol, quiçá por falta de coisas mais apelativas por que me interessar. Mas nada de precipitações! Consigo ver um jogo de princípio ao fim mas, em relação por exemplo aos lugares que cada jogador ocupa em campo, continuo a apenas distinguir o guarda-redes e todos os outros. Isto para grande desespero de quem me acompanha ao estádio (do Vitória de Setúbal, claro!), e que, com grande paciência, me vai elucidando sobre mudanças de flanco, faltas de ânimo e outras preciosidades do género (obrigado, F.C., grande amigo!).

Mas, se há coisa para que ainda não consegui a devida garra (e, nesta fase, duvido que venha a obtê-la já), é para embandeirar (literalmente) em relação à selecção Nacional. Que me desculpem os mais nacionalistas, e acreditem que gostaria tanto que os portugueses ganhassem este Mundial como qualquer um de vós - apesar de confessar que, se tivesse dinheiro para apostar, o faria no Brasil, ou melhor, na sua selecção. Talvez a coisa melhore, mas para me galvanizarem têm que passar a jogar bem melhor do que fizeram esta noite. Depois falaremos.

Entretanto, lembrem-me um destes dias de postar aqui qualquer coisa sobre outras mudanças fundamentais que chegaram com os quarentas - as que já chegaram e as que podem estar para vir.