2006/06/20

O dinheiro afinal não compra tudo!

Ontem, ao folhear uma revista que se encontrava na mesa do café onde parei ao fim da tarde, daquelas que saem como suplemento num jornal qualquer, dei com uma entrevista de um tal Renato Berardo, filho de um famoso coleccionador de arte moderna com o mesmo apelido. A minha costela voyeur não me poupou, e lá acabei por dar comigo a ler as declarações do herdeiro. Não comentarei agora a maior parte do que lá ficou dito, mas não consegui conter um enorme arrepio quando li a descrição, pelo próprio, das suas primeiras tentativas de comprar arte. Segundo o entrevistado, só depois de ter adquirido, há alguns anos, um quadro, é que teve conhecimento de que este era uma reprodução, e isto por amável esclarecimento da esposa. Indignado, perguntou então a quem lhe facultou a informação por que motivo não tinham comprado o original, ao que a sua consorte conselheira o voltou a informar de que tal teria sido muito, mas mesmo muito difícil, já que o original se encontra no Louvre e se chama Mona Lisa. E ele contou isto, assim, numa revista.

Pensando bem, acho que também não vou comentar esta parte da entrevista.

2006/06/18

Carta aberta a Sílvia Alberto

Existem, definitivadamente, duas épocas no jornalismo escrito português: antes e depois de Miguel Esteves Cardoso (MEC). Para além da informalidade e paródia que introduziu na escrita, desde os seus tempos do "Se7e", passando pelas crónicas no "Expresso" (assim de repente lembro-me da "Causa das Coisas", "As minhas aventuras na República Portuguesa", "Os meus problemas"...), e culminando nos excelentes textos e legendas de "O Independente", que comprei desde o número 1, para além disso, dizia, MEC tinha ainda uma outra capacidade extraordinária: a de nos pôr a sofrer os seus próprios problemas, tal a forma como expunha despudoradamente os seus estados de espírito pessoais nas páginas das publicações em que escrevia. Foi talvez por isso que me veio há bocado à memória um artigo (mais à frente já perceberão porque me lembrei disto agora) em que o autor, tanto quanto sabemos encantado com as belezas de uma apresentadora de um programa televisivo de surf - também isto uma novidade naqueles dias - de sua graça Rita Seguro, dedicava toda uma crónica, em jeito de declaração pública, a confessar-nos o seu deslumbramento e paixão pela radical diva; aliás, se não estou em erro, o autor dirigia-se directamente à visada, isto apesar de, aparentemente, nunca terem sido sequer apresentados. Nunca percebi ao certo se a coisa era mesmo sentida ou se havia ali uma pequena pontinha de ironia, mas fascinou-me absolutamente a forma como escarrapachou nas páginas de um jornal coisas que até aí só se diziam em privado ao melhor amigo - e, mesmo assim, nunca antes do segundo gin tónico!

Lembrei-me disto há bocado quando, depois de jantar em casa da minha mãe com o meu filho, acabei por ceder às insistências de ambas as gerações para assistir a um programa televisivo, aparentemente de grande popularidade, chamado "Dança comigo". Curiosamente, foi a primeira vez que assisti a tal coisa (quem me conhece melhor já sabe da minha obstinada abstinência - tentem lá dizer isto depressa - em relação à televisão), e foi também, feliz ou infelizmente, o último programa exibido ("desta série", conforme nos foi dito, o que não augura nada de bom). O programa em si é banalíssimo, apelando permanentemente à palmadinha nas costas entre intervenientes e às emoções facilmente manipuladas de uma plateia já convenientemente instruída para assistir ao espectáculo das suas vidas, com muita lagriminha marota à mistura. Nada a acrescentar, portanto.

Contudo, algo ali me fez assistir ao programa com redobrada atenção até ao seu final: o "reencontro" com Sílvia Alberto, agora mulher, mas com o mesmo ar de menina que, há já alguns anos, me fazia levantar de manhã aos domingos para assistir ao "Clube dos Amigos Disney"! Sim, já sei, não esperavam isto de mim, mas também nunca vos garanti que não vos iria desiludir, pois não?

Bom, mas voltando ao assunto, e aproveitando a introdução sobre a desavergonhada atitude de MEC, e transpondo-a para este micro-espaço, vou, eu também, aproveitar a prolixidade e o desaforo que tenho na escrita para fazer aqui um convite público: convido-a, pois, a si, Sílvia Alberto, caso eventualmente faça uma pesquisa no Google e venha aqui parar, para dois almoços ou jantares por estes dias, preferencialmente depois de Outubro, altura em que a temperatura começa a voltar a níveis civilizados. Relativamente à escolha dos lugares, e como bom cavalheiro que prezo ser, deixarei este agradável assunto ao seu cuidado, Sílvia, certo aliás de que o seu leque de conhecimentos nesta área é muito superior ao meu. No entanto, se tiver a amabilidade de me incumbir dessa tarefa, poderei sugerir alguns que fujam ao óbvio de Lisboa como, por exemplo, o "Mar do Peixe" no Meco, o "Ribamar" em Sesimbra, o "Sacas" na Zambujeira do Mar, o "Aqui há peixe" no Carvalhal, o "Trinca-Espinhas" em São Torpes, ou outros em que pensarei se se dignar aceitar este convite duplo. Por fim, calculo que esteja intrigada pelo preciosismo de a convidar para duas refeições, e não simplesmente para almoçar ou jantar; bom, é que, conhecendo-me como me conheço, sei que no primeiro deles não conseguirei dizer mais que "pois...", "ah..." e "ia dizer qualquer coisa mas passou-me" - assim, só o segundo servirá para conversarmos normalmente. Está explicado?