Já por diversas vezes confidenciei aos meus leitores alguns dos meus vícios de estimação, pelo que não estranharão agora que vos revele mais um: não consigo resistir a ler aqueles questionários tipo "Questionário de Proust", seja qual for a publicação ou o inquirido. Pode ser a mais pindérica das "revistas-de-sala-de-espera", e o mais pimba dos cantores, que eu devoro sempre até ao fim as suas respostas. Normalmente fico a saber que a viagem de sonho de 99% dos portugueses é ao Brasil, que todas as meninas da moda - apresentadoras, cantoras, actrizes - elegem como prato favorito o bacalhau com natas, e mais um sem número de informações relevantes que rapidamente se perdem nos recantos mais esconsos da minha já muito sobrelotada memória.
Muitas vezes faço até o exercício narcisístico de pensar quais as respostas que eu próprio daria se alguma vez fosse indagado de forma semelhante - mas emperro sempre no mesmo tipo de perguntas: aquelas em que é requerido ao visado que nomeie o livro ou disco da sua vida. Não há, não pode haver, uma tal coisa - há, isso sim, livros ou discos que foram ou são importantes para nós em determinados momentos das nossas vidas. Lembro-me, assim de repente, da pulsão de emoções que senti quando li pela primeira vez "Um amor feliz", de David Mourão-Ferreira; ou das sensações de liberdade que o "London calling", dos Clash, me transmitiu. Mas não são esses os livros ou discos da minha vida, simplesmente porque isso não existe!
Davam grandes passeios pelo jornal
Há 1 hora