2007/02/09

Scoop

Noutros realizadores não seria mau, mas vindo de Woody Allen, estava à espera de bem melhor.

2007/02/07

Desculpem lá, mas até dia 11 vai ter que ser assim...

Às vezes penso que os defensores do "sim" se acham especialmente inteligentes, assim acima do mortal comum, com aquele ar "eu-sei-mais-que-tu" do Francisco Louçã; a parte especialmente irritante deste comportamento é a maneira que eles têm de achar que todas as pessoas que não estão especialmente iluminadas pela sua luz, são estúpidas.

É só isso que eu posso pensar quando oiço atentados à minha inteligência como o de há pouco, no Telejornal da RTP: contava a Dra. Maria José Alves, uma acérrima e empolgada (às vezes demais) defensora da liberalização do aborto, que, na sua vida de médica, se deparou há uns anos com uma rapariga grávida, de nome Natália, com graves problemas de saúde - não percebi se decorrentes da gravidez ou com outra origem. Diz ela que, reunidos em conselho de emergência, os vários médicos presentes resolveram tentar o parto em lugar de provocar o aborto, ao que se deu a entender para não contrariar a lei vigente. A coisa correu mal, o bébé salvou-se, mas a mãe faleceu, o que lamento profunda e sinceramente. Isto foi o que contou a dita médica, e logo, de forma oportunista, aproveitou para chamar a atenção dos portugueses (que ela deve pensar que andam todos a dormir), para a vida que assim se perdeu devido ao cumprimento da lei. O que a doutora não explicou foi que a lei já prevê - e previa, nessa altura - o aborto, completamente justificado e descriminalizado, sempre que haja conflito entre a saúde do bébé e a da mãe ou, por outras palavras, quando a vida da mãe está em perigo. Ou seja, se houve a lamentável morte da mãe, ela só se pode atribuir à incompetência técnica dos médicos na altura da avaliação, pois do ponto de vista legal possuíam todos os instrumentos para efectuar um aborto.

Lembra-me esta outra falácia propalada pelo "sim": a de que, a aprovar-se a por eles tão desejada liberalização do aborto até às dez semanas, deixariam de haver as humilhações públicas de mulheres como as que se verificaram nos julgamentos da Maia, de Setúbal e outros. Só que, muito convenientemente, não referem que todos estes casos de julgamento sucederam com mulheres que abortaram com mais de dez semanas de gravidez, pelo que, com a sua aberrante lei que prevê a criminalização e prisão às dez semanas e um dia, sucederiam na mesma.

Haja paciência.

E agora, para desanuviar:


Podem preparar as palmatórias; como já muitos me disseram, pela boca morre o peixe. Neste caso é pior, porque as minhas opiniões de ontem estao registadas algures nas catacumbas deste blog. Mas é verdade: mudei de opinião. Detestava futebol e agora até me entusiasmo com a coisa. Ainda não sei distinguir as posições dos jogadores em campo, a não ser a do guarda-redes, mas tambem não se pode querer tudo duma vez, não é?

E inscrevi-me no único clube que, mesmo durante os tempos em que reneguei o fenómeno, me fazia desviar o olho para a televisão: o Vitória de Setúbal, evidentemente.

Mas os tipos só me dão desgostos...

2007/02/06

A mim, a paternidade deixa-me susceptível...

Pois é, Ana. Também eu tenho registado alguns comportamentos e impressões inesperadas nesta campanha:

- À Dra. Maria de Belém Roseira, parece-me que lhe devia ter sido concedida uma autorização especial para fazer o número de abortos que muito bem entendesse. A educação que tem não chega para ela, e muito menos para educar terceiros;

- O Engenheiro Sócrates nao é tão parvo como parece. Antes que lhe falassem da interrupção de vida que tem que fazer no Governo, ele, ainda de olhos em bico, já se encarregou de amuar de forma a pressionar e amedrontar os defensores do "não" mais impressionáveis, com ameaças radicais e inquisitórias;

- Deveria ser obrigatória a utilização de legendas ou tradução simultânea sempre que o Professor Vital Moreira aparece na televisão, principalmente quando começa a ficar roxinho e a falar com voz de Pato Donald;

- O Dr. Rui Pereira e o Dr. Miguel Oliveira e Silva deveriam contratar um assessor de imagem para resolver os seus problemas bucais. Num denota-se facilmente o grau de irritação pela quantidade de espuma que se acumula nos cantos da boca, enquanto que o outro passa o tempo, enquanto fala, a passar a língua pelos labios para retirar cascas de tremoços, ou coisa parecida;

- O Dr. José Pinto da Costa não tem ar de maluco;

- Lídia Jorge devia escrever mais e falar menos. E talvez ler qualquer coisa: "O Princípio de Peter", por exemplo;

- A comunicação social perdeu a vergonha e decidiu atacar decididamente pelo lado do "sim" (leia-se de quem está no poder). Mesmo os órgãos habitualmente isentos e insuspeitos, como o "Público" (hoje com 6 - seis! - artigos de opinião pelo "sim", com erros de ortografia até, e apenas 1 - um! - pelo "não"), a TSF, ou o Portugal Diário alinharam na euforia. O patrão está de volta e o respeitinho é muito bonito;

- Em bom rigor, nesta campanha, e até agora, pelo lado do "sim" a única pessoa que me convenceu foi a Dra. Marta Rebelo - e não foi por nada que ela tivesse dito;

- Mas continuo a achar que há muito boa gente no "sim"...

De regresso

Antes de mais, não tenho palavras para demonstrar o meu reconhecimento por quem esperou que eu voltasse a escrever neste espaço, apesar do hiato decorrido. A todos o meu penhoradíssimo agradecimento.

Muita coisa aconteceu, e muita coisa teria agora para dizer, mas como tenciono incrementar uma mais sadia regularidade na escrita, até por questões de sanidade mental, apenas escreverei para já o fundamental e inadiável.

Como alguns já saberão, estou à espera do meu segundo filho; em princípio será um rapaz, cujo nome não está ainda decidido (a propósito, aceito sugestões, sem contudo me comprometer a segui-las), e que entrou há dias na sua décima terceira semana de gestação. Devido a uma ligeira confusão da médica que segue a gravidez, a ecografia que se encontrava prevista para algures entre a décima primeira e a décima segunda semanas de gravidez, acabou por se realizar à décima. Foi assim, pois, que vi o meu filho com dez semanas, a idade com que os defensores da liberalização do aborto acham razoável eliminar uma vida, a colocar as mãozinhas na cara e a procurar a melhor posição no ventre materno.

O actual debate a que assistimos na praça publica a propósito da dita liberalização de algo a que eufemisticamente se chama "interrupção", como se pudesse haver mais tarde um reatamento da vida, tem-nos mostrado o quão falha de valores se tornou grande parte da sociedade portuguesa, eminentemente rendida aos capitalistas valores do consumismo e da progressão, não obstante o "sim" ser principalmente defendido por uma esquerda que se tem por "moderna". Há um ruído enorme à volta dos direitos de opção da mulher, mas um ensurdecedor silencio sobre os direitos do bébé que, por não ter possibilidade de se exprimir ou defender, acaba por ser eliminado liminarmente precisamente pela unica pessoa no mundo em que poderia confiar para a sua protecção.

Apesar disso, é evidente que a mulher (e o homem, já agora) tem direito a optar por ter ou não um filho - só que essa opção, manda o bom senso, deve ser tomada a montante, ie, antes da concepção. Não existirá, no cantinho mais recôndito deste país, e pesem embora todas as deficiências acumuladas do nosso sistema educativo ao nível da educação sexual, uma unica alma adulta, ou em idade de procriar, que desconheça que, caso tenha relações, pode vir a engravidar. Em aparente desorientação ou desespero de causa, invoca-se agora insistentemente a falibilidade dos métodos contraceptivos; de repente, sistemas que nos eram apresentados pelos seus fabricantes como possuindo taxas de deficiência meramente residuais, aparecem agora como toscas e primárias formas de protecção que falham em mais de metade dos casos.

Sejamos sérios, amigos: por muito que haja quem o tente maquilhar, existe uma vida humana em plena formação a partir da data da sua concepção, e essa vida tem que ser protegida. Os nossos actos têm que ser consequentes, e temos que nos responsabilizar por eles. O curioso é que a maior parte das pessoas que agora fala da liberdade "da mulher" para não assumir as consequencias de algo que fez voluntariamente - sim, porque em caso de violação, ou outras situações anómalas, já existe o devido enquadramento jurídico - sabe condenar veementemente, por exemplo, a irresponsabilidade e imoralidade de quem aceitou um cachorrinho "porque era muito fofinho", mas que mais tarde, perdido o encanto e roídos alguns sofás, o foi abandonar numa qualquer zona industrial.

Outros aspectos desta proposta de liberalização que servem aos seus defensores para justificar a mesma, prendem-se com o actual enquadramento penal existente para uma mãe que faz um aborto. É um facto que a lei em vigor prevê uma pena de até três anos de prisão efectiva para quem praticar esse ilícito, mas a verdade é que os juízes perceberam desde logo o espírito da lei, e nunca uma mulher foi presa por ter feito um aborto em Portugal. Afirmar o contrário, em imagens choque tão queridas ao Bloco de Esquerda e ao Partido Socialista que vai a seu reboque, é uma desonestidade e uma manipulação grosseira da verdade que em nada abona quanto à idoneidade de quem a pratica. Aliás, tanto quanto se sabe, as mulheres que até hoje têm sido indiciadas pela prática de aborto não o são por iniciativa isolada do Ministério Publico, antes surgindo como réus na sequência das investigações efectuadas por aquele relativamente a clínicas "de vão de escada", estas sim, merecedoras de efectiva punição. E a exposição publica que esta "moderna" esquerda tanto condena, apenas se deve ao folclore que a mesma vai fazer para as portas dos tribunais, chamando a atenção massiva dos media para uma pessoa que, noutra situação, se apresentaria discretamente a julgamento e sairia absolvida no espírito da lei.

Isto dito, não se pense que eu, e a maioria - arriscaria a quase totalidade - dos defensores do "não" concorda com a actual legislação relativamente a quem aborta. Mas existem, e os ultimos dias têm-nos demonstrado isso, meios efectivos de transformar a sanção aplicável, sem no entanto promover a liberalização total do aborto. Mas, no seu pânico de poder perder terreno e até o referendo, o Primeiro Ministro José Sócrates, no seu tom arrogante de criança mimada, ja nos veio dizer que, caso vença o "não", o Governo não se encontra disponível para alterar a actual lei, mesmo que seja no objectivo interesse da população. Um típico caso de amuo que mostra bem que, para este Governo, o referendo apenas constitui um medir de forças políticas, e a situação de quem aborta pouco interessa.

Muito mais haveria aqui a dizer, designadamente a discutibilidade de um aborto a pedido, sem mais explicações, poder ser feito num hospital público, passando à frente, por exemplo, de uma operação de cancro ou de transplante (muito) anteriormente agendada. Também se pergunta onde ficou a coerência, quando vemos pessoas a defender que uma mulher com uma gravidez de dez semanas pode abortar livremente, e é até ajudada a fazê-lo pelo Estado, enquanto que a que tem uma gravidez de dez semanas e um dia, para além de ter de procurar outros meios (ilegais) para o fazer, pratica um crime punível com os "famosos" três anos de prisão. Também merecedora de atenção especial é a proposta de se legalizar algo que não se consegue (ou não se quer?) combater doutra forma, o que nos abriria um precedente que nos permitiria legalizar em seguida a droga, a prostituição e, no limite, os furtos ou assassinatos. Não são, pois, todas estas coisas que sempre existirão, pese embora a legislação contraria?

Sem comentários, pelo menos da minha parte, ficam as declarações de Lídia Jorge em pleno directo na RTP, chamando ao bébé no ventre materno, "coisa humana". Mostra o nível, afere os valores...

Muito mais haveria a dizer, é verdade, mas ficará para outra altura. Hoje o meu filho mais velho, o Lourenço, faz seis anos e é altura de festejar a sua presença neste mundo, perto de mim.