2003/08/19

Um mundo perfeito

Desde que se soube do ignóbil atentado terrorista ocorrido esta tarde, em Bagdad, tenho estado de ouvido atento à TSF. Mais para o fim da tarde, quando foi conhecida a notícia da morte de Sérgio Vieira de Mello, emocionei-me - como todos - e segui com atenção os diversos depoimentos.

Muita coisa ouvi, desde as palavras sinceramente emocionadas de Ana Gomes até aos incríveis depoimentos do Partido Comunista e do BE que, mais do que lamentarem a morte de um homem de causas, ou condenarem inequivocamente o terrorismo, preferiram aproveitar o tempo de antena para - mais uma vez - encontrarem enviesadas responsabilidades no acontecimento a assacar às "forças imperialistas". Sem comentários.

Mas um depoimento me ficou especialmente a bailar na cabeça. Foi o de Pedro Bacelar de Vasconcelos, homem atipicamente do Norte, com algumas conotações socialistas, que ganhou especial notoriedade quando, na sua qualidade de Governador Civil de Braga, se deslocou pessoalmente a um problemático acampamento de ciganos para tentar resolver uns litígios existentes com a população. O desplante foi mediático mas, infelizmente para ele, o tempo vir-lhe-ia a tirar a razão quando vários dos integrantes do mencionado acampamento foram presos e condenados mais tarde por comprovado tráfico de droga.

Mas adiante: P.B.V., que também trabalhou directamente com S.V.M. e que, por isso mesmo, também se mostrou emocionado, não enjeitou a possibilidade de fazer também um pouco de propaganda esquerdista e, a certa altura do seu discurso, disse que "este atentado vem provar que a forma como até aqui se tem combatido o terrorismo - pela força - não resulta; há que encontrar um novo modelo de combate ao terrorismo" (cito de memória).

Óptimo, digo eu; quanto menos violência existir no mundo, melhor. Mas isto vem-me lembrar, de certa forma, uma mirabolante proposta do BE de aqui há uns anos, que sugeria que, em determinadas zonas, os polícias deveriam andar desarmados. Seria bom, se estivéssemos a lidar com pessoas com os mesmos valores da comunidade ocidental; mas não estamos. O inimigo - o terrorismo - não se guia pela mesma moral de nós. A sua arma é a cobardia. E contra gente (!) desta não há diálogo possível; sejam da ETA, da Jihad Islâmica ou da Al-Qaeda, só há uma linguagem que eles percebem: sofrerem (pelo menos) o mesmo que infligem a tantos inocentes!

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