2003/08/20

Dentro do baú

Para quem não sabe, "O País relativo" não é apenas uma expressão criada por Alexandre O'Neill; é também nome de um blog criado por um grupo de jovens e modernos socialistas, que até conhecem o "Portugal profundo" - pelo menos vão à  Zambujeira do Mar quando há festival!

Uma das principais actividades deste blog - que, aliás, não é original entre a esquerda - consiste em zurzir "a torto e a direito" o ministro Paulo Portas. P.P. elogiou a atitude de Maggiolo Gouveia ao colocar os interesses pátrios à frente de outros interesses dúbios? Então P.P. está a fazer um aproveitamento político da coisa; P.P. tem um fato azul às riscas? Então é "insuportável" a pose de P.P.; P.P. espirrou? Então P.P. está a tentar, com jogos de palavras e actos, chamar a atenção para o problema da descolonização. Estão a ver o género? Basta lembrarem-se de que P.P. existe para logo entrarem em descontrolados acessos de histerismo justiceiro (vd. Ana Gomes). Seria um pouco como embirrar com José Sócrates, putativo líder da tribo, só porque ele tem aquela irritante voz de falsete, ou com Ferro Rodrigues porque o homem diz mais vezes "pá" numa simples frase do que uma claque de futebol durante um jogo inteiro!

O curioso desta atitude esquerdista, é que ela apenas tem como alvo o próprio Portas, deixando de lado todos e quaisquer companheiros de Partido ou coligação. O ressabiamento e a inveja pelo mérito e pela competência alheia é, pelos vistos, um engulho difícil de engolir.

A mais recente diatribe destes aprumados jovens socialistas contra o ministro, consiste num post ontem publicado, intitulado "O baú de certa direita portuguesa I" (note-se a discreta nuance do "I" - os socialistas fizeram o trabalho de casa e, à  espera de provável polémica, resolveram desde já precaver a hipótese de terem que vir a criar um "baú II", e mesmo um "III", e sabe-se lá que mais...), no qual, novamente a propósito da distinção póstuma prestada a M.G., tentam entrever enviesadas alusões e saudosismos, na direita portuguesa, aos tempos do "império colonial"; en passant, deixam cair com desprendimento a reclamação de que esta direita invoca permanentemente os crimes cometidos na descolonização, como se estes fossem um assunto menor, uma espécie de "bóia de salvação" a que os detractores de Soares se agarram quando o querem menosprezar. Na opinião destes "aprendizes do soarismo", este é um assunto enterrado, e com uma dimensão injusta e artificialmente empolada por quem não gosta do patriarca da casa.

Mas há mais quem faça os trabalhos de casa; a "descolonização exemplar" de Soares não é um assunto despiciendo, e o "ídolo com pés de barro" de um partido falho de referências deveria algum dia responder pela forma como conduziu um processo nada transparente. Milhares de espoliados sonham com o improvável dia em que hão-de confrontar M.S. com os seus fantasmas. Mais: tantos dirigentes africanos, que acusam M.S. & clã das mais diversas negociatas escuras, estarão todos enganados?

A respeito das colónias imperiais, e das virtudes que a ditadura lhes encontrava - e cuja perda, alegadamente, a direita "chora" - também encontrei alguma informação curiosa; pelo que descobri, a criação do "império português" não se ficou a dever a Portas, nem tampouco se verificou durante o Estado Novo, tendo começado há alguns séculos atrás, penso que ainda Salazar não tinha nascido. Salvo melhor opinião ou visões revisionistas da história de Portugal, parece-me que, a irem por aí, terão um longo caminho a percorrer.

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