O meu filho Lou tem dois anos e meio; está na altura de começar a descobrir as vantagens (e desvantagens) de conseguir produzir um conjunto de sons minimamente inteligíveis por quem o rodeia, vulgo a falar. Ele bem se esforça, mas a fonética ainda não é o seu ponto mais forte. No entanto, com algum esforço de compreensão, e doses maciças de amor, é perfeitamente possível perceber tudo o que ele quer dizer. Mesmo um leigo poderá facilmente depreender que "ruia" significa "rua", ou que "Lodendo Miguelo" é o seu próprio nome (Lourenço Miguel). Já será, contudo, necessária mais alguma habituação para descortinar o sentido exacto de, por exemplo, "ôtabadê" ("outra vez").
Como, pelos vistos, sucede a várias crianças nestas idades, uma das suas maiores fixações são os carros e suas marcas; identifica com facilidade as mais diversas marcas, seja de viaturas reais, ou das miniaturas que adora. Desde o "Ópia" (Opel) do pai, ao "Ondabidique" (Honda Civic) da mãe, passando pelos "Moquemaguém" (Volkswagen) de ambos os avôs, ou pelos milhares de viaturas que encontra na rua, todos ele identifica e memoriza.
Esta manhã, na Zambujeira do Mar, quando fui comprar o jornal, o Lou perdeu-se de amores pela miniatura de um Mercedes 300 SL, de 1957, que se encontrava estrategicamente colocada junto aos diários; diga-se, em abono da verdade, que o pai também gostou do modelo (se bem que preferisse o original...) pelo que lhe fez a vontade e o comprou. Mas, para que se concretizasse o negócio, era necessário que o Lou fosse dizer à senhora do balcão que queria o carro. Nada que o incomodasse; sem atrapalhações, aquele "setenta-e-tal-centímetros-de-gente" furou por entre os muitos veraneantes que tentavam pagar os jornais e revistas e, chegado ao balcão, tentou dizer: "Senhora, eu quero um Mercedes!" - só que o que saíu, perante uma série de pessoas em expectativa, foi "Cinôra, quer putedo!".
2003/08/31
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