2008/09/09

Sheep


Normalmente é mais fácil repetir o que se ouve, sem averiguar da sua veracidade, ou pelo menos da sua verosimilhança, do que tentar usar os neurónios e questionar o que nos é enfiado todos os dias pela cabeça. A vida dos nossos dias predispõe-nos para o ready made, sem sentimentos de culpa ou de qualquer outra espécie. A tendência não será tão antiga como a imagem que a ela associo, mas esta espécie de alienação voluntária leva-me sempre ao desenho animado de "Another brick in the wall", quando um maquiavélico professor harmoniza os pensamentos de alunos passando-os por um triturador de carne. Hoje são os alunos, toda a gente, que amavelmente se atira para o dito triturador, a fim de que alguém lhe faça o favor de formar uma opinião no seu lugar.

A ladaínha sobre Pedro Santana Lopes e as "trapalhadas" foi uma manobra de tal forma bem criada, que todo o rebanho continua a repetir o estribilho, ainda que nem uma pessoa consiga apontar, de forma objectiva, uma das ditas "trapalhadas". George W. Bush também se tornou uma presa fácil do anedotário internacional; duvido que alguém me consiga estruturar, mesmo que disponha de mais do que um dia para o fazer, uma razão para achar o Presidente Americano o incapaz que, no sábio entender das conversas de café das redacções, nem um café saberia tirar numa máquina - mas toda a gente usa e abusa da piada pronta a usar.

Agora vejo algumas agitações por movimentos internos no CDS: Paulo Portas não quis aceitar desde logo a demissão de Nobre Guedes, alguém fez a história sair para fora do partido e, como de costume, já temos o coro de carpideiras à porta a chorar - pela 830ª vez! - o "fim definitivo" do partido. Mas a questão que alguém com um mínimo do indispensável espírito crítico deveria colocar era a seguinte: mas a quem é que isto interessa a não ser aos militantes do partido? O que é que eu tenho a ver com a maneira como os responsáveis do restaurante onde vou escolhem o gerente ou os funcionários? O que é que me interessa a mim que os deputados do BE andem constantemente numa roda viva de substituições, sem que eu conheça os critérios para as mesmas? Quem é que escolhe, ou escolheu, o incontornável Louçã para ser o eterno presidente do partido, assim uma espécie de "querido líder"? E o que é que eu quero saber disso? E por que raio é que lhes interessa tanto o que se passa dentro do CDS?

Get a life!


P.S.: Obrigado aos Pink Floyd pelas duas inspirações para este post.

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Já há imenso tempo que aaqui não vinha. Mas, pelo que vejo neste post, continuas a tratar de temas interessantes.
"Hoje são os alunos, toda a gente, que amavelmente se atira para o dito triturador". Subscrevo esta frase. Na verdade, a sociedade em geral está a ficar cada vez mais acrítica.
Fugindo (de propósito) aos exemplos que deste, o que de mais grave nos acontece tem a ver com a informação que temos. E, o que não deixa de ser curioso, parace que estão todos orquestrados, pois dizem todos a mesma coisa e passam as mesmas notícias, sejam televisões, jornais ou rádios.

Abraço.