2003/09/14

Confissão

Não queria politizar demasiado este blog - apesar de essa ser uma possibilidade destas coisas - mas não posso esconder a evidência: toda a gente se apercebeu já que eu simpatizo fortemente como o CDS/PP. Pois bem, mesmo correndo o risco de afugentar muitos leitores, informo-vos a todos de que sou, há mais de vinte anos, militante da coisa, e também de que, neste momento, desempenho um cargo no dirigismo local. Isto tornar-me-á, necessariamente, suspeito para falar de política, mas não mais do que os autores de muitos outros blogs, quer de esquerda, quer de direita.

Sou do CDS/PP porque acredito que a melhor opção para a nossa sociedade passa por uma concepção conservadora em termos de costumes, liberal no que toca à economia e, principalmente, humanista para as pessoas. Rejeito qualquer epíteto de "radicalismo", tal como toda a esquerda (o Pedro Adão e Silva que me perdoe, mas já há alguns meses que não consigo detectar qualquer diferença entre os discursos do PS, PCP, ou BE - surgidos normalmente por ordem cronológica inversa) gosta de apodar o CDS/PP; na minha já muito longa convivência com a política, nunca encontrei um único skinhead, ou neo-fascista nas fileiras do meu partido, mas encontrei muitos fundamentalistas intratáveis a militar nos partidos da dita esquerda.

Feito este intróito, e a propósito dele, informo-vos de que estive ontem em Aveiro na rentrée política do partido. Mas, como não sou faccioso, confesso a todos ("Frente de esquerda" incluída) que não gostei do modelo adoptado; ainda não li uma única linha sobre o assunto, mas pareceu-me o programa demasiado extenso e complexo, bem como a logística desajustada e subvalorizada para a grande adesão que se veio a verificar. Mas, isto dito, não se infira daqui que não valeu a pena a deslocação; várias e boas surpresas tive ontem. Confesso, no entanto, que preferi assistir a alguns dos painéis e conferências que decorreram durante a tarde, do que propriamente aos discursos de encerramento.

Gostei em particular da performance desse grande pensador que é António Lobo Xavier, mas retive principalmente algo em que já tinha pensado antes, e que foi dito numa das primeiras conferências da tarde por João Marques de Almeida, jornalista d'"O Independente", assumidamente de direita, mas sem qualquer vínculo ao partido. A propósito da festa de rentrée do PCP, vulgarmente designada por "Festa do Avante", e da intolerância e perseguição de que sempre foi e é alvo a direita democrática deste país, disse J.M.A. qualquer coisa parecida com isto: como é possível que na dita festa, decorrida algures no Seixal, se vendessem t-shirts com a efígie de Estaline, autor de crimes contra a humanidade de uma dimensão apenas comparável a Hitler, como se de um ícone se tratasse? O que diria a esquerda (toda, já que não se vislumbram diferenças ideológicas entre os diversos partidos, e isto dando de barato que ainda há alguma réstia de ideologia na tribo), o que diria, dizia eu, se, nos comícios do CDS/PP se vendessem t-shirts com a efígie de Salazar, por exemplo? Provavelmente que nós éramos saudosistas, reaccionários e revisionistas - e di-lo-iam entre duas "passas" no seu charro, sentados numa sombra da Quinta da Atalaia, e ostentando orgulhosamente no peito a "carantonha" de um crápula que matou milhões, em nome de um duvidoso ideal!

Mas não, descansem as mentes mais inquietas - não se vendia ontem em Aveiro nenhum merchandising com inscrições sobre Salazar, Pinochet, ou quaisquer outros ditadores; apenas os jovens da JP vendiam, numa inciativa bem interessante, umas t-shirts que muito poderiam fazer pela cultura política do jovem ortodoxo Bernardino Soares; traziam estas t-shirts, estampados, os nomes de todos as pessoas actualmente detidas na "democrática" Cuba, por delito de opinião!

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