2008/08/06

It´s the oil, stupid!

Se há coisa absolutamente deprimente entre aquelas a que temos assistido nos últimos tempos, é a candura, quase ingenuidade, com que as gasolineiras pensam que enganam e iludem os consumidores. Até um certo nível parece um insulto à nossa inteligência, se esperam que alguém engula as suas descaradas patranhas. Mas, a partir de uma certa altura, e inebriados pela facilidade com que pensavam estar a fazer passar as suas manobras de simplórios, deixaram de passar a considerar-nos estúpidos, e a assumirem eles mesmo uma estupidez e uma descontração completamente irrealistas.

Foi estupidez pensar que ninguém repararia que as oscilações no preço do combustível só se verificavam quando o preço do petróleo subia. Foi estupidez pensar que ninguém repararia na discrepância e desproporção entre os aumentos e as poucas diminuições. Foi estupidez, também, pensar que ninguém questionaria essa abstrusa dualidade de critérios, que faz com que os reflexos dos aumentos do preço do petróleo no do combustível sejam imediatos, enquanto que as descidas terão que ser diferidas vários meses, sempre devido a algo difuso e mal explicado, que é a reserva de stocks, que curiosamente só funciona como justificação quando interessa, e sempre no mesmo sentido. Também pensaram, estupidamente, que ninguém perceberia que, apesar de negarem com ar de virgens ofendidas a existência de cartel ou concertação, os aumentos de preços aconteciam sempre e inevitavelmente à mesma hora do mesmo dia, e com o mesmo valor. Isto não é facilitismo, nem sequer gestão de mercearia; é estupidez várias vezes, apenas.

Quando, finalmente, acordaram da sua letargia, estes gestores de pacotilha acabaram por dar novas mostras da sua infinita estupidez. Não podiam ser mais directas e óbvias as manobras: queixavam-se de que os preços só subiam, e que não baixavam quando o petróleo baixa? Então aqui vão uns amendoins para os macaquinhos, alguns cêntimos de descida. Esqueceram-se que, apesar de este ser um país de fracas matemáticas, ainda há quem saiba fazer contas e perceber que, se fossem aplicados os mesmos coeficientes para as descidas que têm sido aquando dos aumentos, neste momento o gasóleo estaria em cerca de 1,15€ o litro - mas está em 1,37€... Esqueceram-se que seria demasiado óbvio e a tresandar a combinação que, dum momento para o outro, os aumentos dos combustíveis passassem a ser anunciados com diferenças de dias e décimas de cêntimo pelas diferentes gasolineiras - isto logo após negarem veementemente que a coincidência de datas que antes se verificava era apenas... coincidência.

E a prova da linearidade e limitação de raciocínio de quem estava habituado a apenas encher os bolsos com conversas que nem crianças enganariam, veio hoje; depois de terem percebido que estavam a "colocar-se na boca do lobo" ao anunciarem aumentos desmesurados nos seus lucros do primeiro trimestre, isto quando por outro lado argumentavam que apenas efectuavam os acertos estritamente necessários no preço do combustível, depois desse "gato escondido com (enorme) rabo de fora", dizia, aparece-me hoje o administrador da Galp a anunciar na TV com ar pesaroso a descida dos lucros da sua companhia, no segundo trimestre do ano. A mensagem já era embaraçosa de tão óbvia, mas no final, para que não houvesse dúvidas de que o indígena percebia onde se queria chegar, o tal administrador ainda acrescentou qualquer coisa como "isto é a prova de que, contrariamente ao que se dizia, a Galp não está a ter lucros astronómicos à custa das oscilações do preço do petróleo". Estúpido demais...

1 comentário:

Paulo Lopes disse...

Claro que a GALP está a obter lucros obscenos com a subida dos preços do petróleo.
Esses lucros, como são incómodos nesta altura, imagino estarem a ser divididos dentro do "castelo" e enviados para as respectivas contas na Suíça.
Quanto tempo mais iremos aguentar este governanço?????