Por vezes há coisas assim: a solidão de um quarto de hotel torna-se difícil de suportar, e nada melhor que uma leitura para ajudar a passar as horas mortas longe de tudo (sim, já sei que há quem ache que há coisas melhores para fazer num quarto de hotel, mas este é um blog sério).
Numas breves incursões pela Bertrand lá do sítio, já por diversas vezes a minha atenção tinha ficado presa num volume azul, de capa muito do tipo easy reading, intitulado "Pai ao Domingo", e assinado por Claire Calman, uma ilustre inglesa desconhecida - pelo menos para mim. Já tinha lido até a badana do calhamaço, mas algo de púdico impedia-me sempre de o comprar; medo de ser "qualquer-coisa-do-tipo-Margarida-Rebelo-Pinto".
Mas ontem, num acesso de coragem, li as primeiras páginas ainda na livraria, e comprei o volume; em boa hora o fiz, pois só na primeira noite cheguei à página 122. Afinal a escrita está muito mais perto desta nova geração de escritores ingleses - como Nick Hornby ou Martin Amis - e a história... Bem, a história é simplesmente fascinante, sendo deliciosamente divertida ao mesmo tempo. Não vou adiantar grande coisa sobre o enredo, mas penso que não estragarei o prazer de quem vier a ler o livro posteriormente à leitura deste post, se revelar que o tema subjacente a toda a narrativa (pelo menos até onde li), tem a ver com inseguranças - mais concretamente, a insegurança que nós, adultos, sentimos face a tudo o que nos rodeia; a forma como, de repente, e sem aviso prévio, nos tornámos "crescidos", e nos é pedido e esperado que nos portemos como "crescidos".
E, no entanto, continuamos a sentir-nos crianças inseguras, apenas com a diferença de que já não temos quem olhe por nós; olhamos ao espelho e não notamos grandes diferenças entre a pessoa que somos e aquela que costumava arranjar-se para ir à discoteca, ou às festas de garagem.
Fomos nós que mudámos, ou foi o mundo que andou demasiado depressa?
Nota: Ainda sobre este tópico, se bem que abordado de forma diferente, não deixem também de ler um excelente artigo de Pedro Boucherie Mendes publicado na revista "Maxmen" deste mês.
Governar
Há 11 horas
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