2004/04/01

Inseguranças

Por vezes há coisas assim: a solidão de um quarto de hotel torna-se difícil de suportar, e nada melhor que uma leitura para ajudar a passar as horas mortas longe de tudo (sim, já sei que há quem ache que há coisas melhores para fazer num quarto de hotel, mas este é um blog sério).

Numas breves incursões pela Bertrand lá do sítio, já por diversas vezes a minha atenção tinha ficado presa num volume azul, de capa muito do tipo easy reading, intitulado "Pai ao Domingo", e assinado por Claire Calman, uma ilustre inglesa desconhecida - pelo menos para mim. Já tinha lido até a badana do calhamaço, mas algo de púdico impedia-me sempre de o comprar; medo de ser "qualquer-coisa-do-tipo-Margarida-Rebelo-Pinto".

Mas ontem, num acesso de coragem, li as primeiras páginas ainda na livraria, e comprei o volume; em boa hora o fiz, pois só na primeira noite cheguei à página 122. Afinal a escrita está muito mais perto desta nova geração de escritores ingleses - como Nick Hornby ou Martin Amis - e a história... Bem, a história é simplesmente fascinante, sendo deliciosamente divertida ao mesmo tempo. Não vou adiantar grande coisa sobre o enredo, mas penso que não estragarei o prazer de quem vier a ler o livro posteriormente à leitura deste post, se revelar que o tema subjacente a toda a narrativa (pelo menos até onde li), tem a ver com inseguranças - mais concretamente, a insegurança que nós, adultos, sentimos face a tudo o que nos rodeia; a forma como, de repente, e sem aviso prévio, nos tornámos "crescidos", e nos é pedido e esperado que nos portemos como "crescidos".

E, no entanto, continuamos a sentir-nos crianças inseguras, apenas com a diferença de que já não temos quem olhe por nós; olhamos ao espelho e não notamos grandes diferenças entre a pessoa que somos e aquela que costumava arranjar-se para ir à discoteca, ou às festas de garagem.

Fomos nós que mudámos, ou foi o mundo que andou demasiado depressa?

Nota: Ainda sobre este tópico, se bem que abordado de forma diferente, não deixem também de ler um excelente artigo de Pedro Boucherie Mendes publicado na revista "Maxmen" deste mês.

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