Há umas horas, em digressão profissional por este horrível Algarve estival, resolvi entrar em negociações com um indivíduo que, numa banca montada numa rua de Olhão, vendia descontraidamente produtos de contrafacção. O motivo do meu interesse foi uma camisete, vulgo polo, imitação não assim tão perfeita (o crocodilo parece querer esconder-se debaixo do sovaco) da marca Lacoste - contudo, aproveitei assim o ensejo de comprar uma peça de vestuário que aprecio especialmente por ser prática, e que parece ter caído em relativo desuso: uma camisete lisa, de uma só cor. Com efeito, na maior parte das lojas que visito só me apresentam pedaços de pano com todo o tipo de riscas e estampagens, mais próprios doutro tipo de culturas e etnias do que da minha pacata simplicidade de vestuário. Que saudades dos meus tempos de adolescência, em que era fácil encontrar um polo de malha piqué da Lacoste, de uma só cor - e, quando o preço era proibitivo, havia diversos sucedâneos igualmente de bom gosto e discrição, da Mike Davis ou da portuguesíssima Coronel (alguém se lembra desta?).
Bom, mas voltando às minhas negociações com o simpático comerciante de raça cigana, que me garantiu estar a comprar um produto original, e que o podia procurar se aquilo encolhesse na primeira lavagem, que prontamente a trocaria, voltando a isso, dizia, fiquei a pensar: se existe, em tão grandes quantidades, lotes de produtos contrafeitos, é porque alguém os faz, evidentemente. E quem? Naturalmente muitas fábricas de têxteis, principalmente da zona Norte do país, que vêem no negócio da contrafacção, e na procura de que são alvo por parte dos vendedores ambulantes, uma forma de fugir ao descalabro que a ausência de encomendas e a deslocalização para Leste do fabrico de muitas marcas estrangeiras, lhes provocou.
Ou seja, a contrafacção parece-me algo absolutamente necessário à viabilidade económica de muitas pequenas e até médias indústrias deste país. Curioso, não?
Governar
Há 12 horas
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