2005/03/16

"Caça à multa"

A semana passada, na zona de Beja, um invisível radar das autoridades apanhou-me em excesso de velocidade. A falta é assumidamente minha, e não há nada a fazer, a não ser pagar voluntariamente a coima aplicada e aguardar serenamente pela notificação da sanção acessória.

Mas há algo aqui que me revolta profundamente; o radar estava, como é costume, emboscado, por forma a que o incauto automobilista não o descortinasse, e assim incorresse mais facilmente em infracção. Ora, ao não ter conhecimento da existência de um aparelho de medição de velocidade nas proximidades, o condutor não moderará a sua velocidade, e não diminuirá naturalmente o risco de acidentes, mas colaborará, involuntariamente é certo, para a engorda dos cofres do Estado. A isto chama-se fazer repressão, ao invés de uma muito mais desejável prevenção.

Parece-me a mim - mas estou disposto a aceitar outras opiniões - que muito mais se poderia ganhar em termos de diminuição da sinistralidade nas nossas estradas se a existência de radares fosse profusamente noticiada, mesmo nos casos em que eles não existem ou em que se encontram fora de funcionamento; desta forma as pessoas tenderiam a abrandar automaticamente, sem saber exactamente qual a localização ou fiabilidade do aparelhómetro, e assim poderiam diminuir consideravelmente a perigosidade das estradas. Mas este procedimento apresenta um inconveniente óbvio para as autoridades: se os radares estivessem visíveis, e as pessoas pudessem abrandar quando os vissem, muito menos gente seria multada, e menos dinheiro entraria nos cofres da corporação e, por inerência, do Estado. Então, que se lixe a segurança - nós queremos é muita gente a "dar gás" para poder encher os bolsos!

Aqui há uns tempos vi, numa auto-estrada, uma viatura de controle de velocidade, que possuía um placard com letras garrafais no tejadilho onde se podia ler a inscrição: "controle de velocidade". Resultado? Todos os condutores diminuiam automaticamente a velocidade. Poderá não ser uma boa política para as finanças públicas, mas é, seguramente, uma iniciativa de efectividade comprovada e merecedora de enaltecimento em termos de segurança rodoviária.

Já agora, lembro-me também de uma curiosa reportagem que passou na TV há mais tempo ainda, sobre uma tosca imitação de radar, feita a partir de um tripé e de umas caixas coladas, que a GNR de Portalegre decidiu instalar junto á entrada sul da cidade. Receitas para a corporação? Zero. Diminuição da velocidade de passagem dos veículos, naquele ponto tão perigoso? Enorme!

Os mais cínicos dir-me-ão que apenas falo desta maneira porque fui multado há pouco tempo, mas a esses poderei mostrar um editorial do "Jornal de Azeitão", escrito há mais de três anos, onde defendi precisamente o que refiro acima: a exposição dos radares, mesmo quando falsos!

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