2005/01/23

Onomatopeia do amor

- É possível que duas pessoas se apaixonem sem que exista um clic dos dois lados?
- Sei lá, pá. Olha mas é para o mar e deixa-me ler o jornal!
- Sim, eu sei que é estranho, mas pensa lá: tem que haver um clic instantâneo, simultâneo, para que a relação entre duas pessoas possa funcionar?
- De que raio de coisa tu havias de te lembrar agora...
- Vá lá, dá-me lá a tua opinião.
- Bom, parece-me que tem que haver um clic, sim, mas, agora que me perguntas, não me parece indispensável que ele tenha que surgir em simultâneo.
- Achas?
- Sim; acho até que essas coisas só surgem em simultâneo nos filmes. Na vida real há sempre apenas uma pessoa que faz clic e que, a partir daí, passa a vida a tentar que a outra pessoa também faça clic - a tentar cativá-la; não leste "O Príncipezinho"?
- Li, claro; és capaz de ter razão. E quanto tempo deve esperar a primeira pessoa que fez clic pelo clic da segunda?
- Sei lá, bolas. Acho que depende da intensidade do clic da primeira. Se tiver sido uma coisa muito forte, pode esperar o resto da vida!
- O resto da vida?
- Sim, o resto da vida!
- E isso não será demasiado tempo?
- Se, como te disse, o clic tiver sido dos fortes, não!
- E se a pessoa esperar pelo clic da outra o resto da vida e ele nunca acontecer?
- Azar; mas ao menos provou, pelo menos a si próprio, o quão estava apaixonada.
- Sim, mas isso de nada lhe adiantou.
- O que é que queres que te diga mais? Não há explicação lógica, e ainda menos racional, para essas coisas. Mas também há casos em que vale a pena esperar, em que o clic da segunda pessoa surge ao fim de anos.
- Quer dizer que nos casos em que não há clic, não vale a pena esperar?
- Eu não disse isso. De resto, como é que sabes se vai haver clic ou não? Se te aconteceu um clic dos fortes, só te resta esperar pelo outro clic - e é claro que vale sempre a pena esperar, aconteça o que acontecer.
- Sim, mas quanto tempo devo eu esperar por esse clic, afinal de contas?
- Porra, não percebeste mesmo nada do que eu te disse!
- ...
- Olhe, sefáxavor! Traga-me uma tosta de frango e um galão com espuma.
- Diz-me lá: quanto tempo achas que devo eu esperar por esse clic da outra parte?
- Tu? Bom, se estás mesmo apaixonado, no mínimo o resto da vida. Agora deixa-me ler o jornal!
- O resto da vida?

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