2005/01/04

Derivas e derrapagens

Segundo tenho ouvido, existem telenovelas cujos primeiros episódios começam a ser exibidos sem que o final da série esteja ainda pronto, ou sequer programado; destina-se este procedimento a, através de sondagens de opinião, ir aferindo o grau de receptividade que o enredo está a ter junto do público e, caso seja necessário, alterar o rumo dos acontecimentos por forma a agradar a esse mesmo público. É assim possível que uma personagem que teve um sério acidente e se encontra em coma há uns meses - à espera dos resultados da tal sondagem - ressuscite ao fim de alguns episódios para vir a casar com a heroína (essa ou a outra).

Ora, o comportamento da liderança do Partido Socialista, nestes dias que antecedem uma campanha que se quer esclarecedora, têm-me feito lembrar essa forma de seguir, "ao sabor das ondas".

Primeiro, Sócrates lembrou-se de desenterrar o fantasma da co-incineração, pela qual se bateu para lá do razoável enquanto Ministro do Ambiente, e prometeu retomar o processo; contudo, várias entidades, entre as quais as "chatas" das populações dos sítios então designados para a instalação dos aparatos, vieram desde logo a terreiro lembrar-lhe que a coisa não é assim tão pacífica (a propósito, um destes dia ainda hei-de comentar aqui aquilo que considero ser uma negociata escandalosa para viabilizar por mais uns anitos o cancro que constitui a fábrica da Secil no Outão, no meio da Serra da Arrábida). Bom, confrontado então com esta falta de entusiasmo, logo o putativo Primeiro Ministro se apressou a esclarecer que afinal não era bem assim, que se iriam estudar as várias opções, patati, patatá.

Ontem, foi um porta-voz dos socialistas, cujo nome agora me escapa, que considerou como plausível o aumento da taxa do I.V.A. para os 20%, como forma de amealhar receita para a reposição dos benefícios fiscais aos Planos Poupança-Reforma. Em pânico, pelas consequências que um anúncio destes poderia trazer em termos eleitorais, lá veio hoje novamente Sócrates (não há lá mais ninguém?) dizer que era uma falsidade, que ninguém tinha afirmado isso, e o arrrazoado do costume.

Se isto é assim e ainda não chegaram ao Governo, Deus nos livre de os ver lá. É que o último deles que por lá andou também era especialista em zigue-zagues e recuos - e deixou o País como se sabe!

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