2004/09/15

O melhor espectáculo do mundo!

Por estes dias (e não há tão poucos como isso) temos sido bombardeados com as mais diversas loas ao concerto de Madonna. Começou por ser um movimento ténue, a propósito da possibilidade de o dito concerto ter que ser cancelado, devido ao agendamento anterior para a mesma data de um congresso da Igreja Maná - o que, vendo bem, até faz sentido, pois trata-se de acontecimentos com graus de importância equivalentes - mas rapidamente se alargou a toda a classe pensante, com a blogosfera também ela rendida à virgem.

No entanto, a profusão de reportagens nestes últimos dias - aliada ao facto de eu ter estado de férias, sem acesso à net, e com (demasiado) acesso à televisão - tornou-se verdadeiramente insuportável. Ontem à noite era ver as entrevistas com quem saía do Pavilhão Atlântico, e a ladaínha era sempre a mesma: entre muita baba, meninas muito loiras e meninos muito bronzeados diziam a uma voz "foi o melhor espectáculo que já vi", "inesquecível", "patati", "patatá" - e isto, note-se, a propósito de um concerto "de plástico", milimetricamente coreografado e planeado para fazer delirar as hostes.

O que se torna aqui verdadeiramente fascinante é verificar até que ponto os media influenciam o homem comum; vendo aquelas almas tão genuinamente saciadas com um bocado de concerto "a metro", quase somos levados a pensar que fizémos mal em não ter ido esperar umas horas para uma fila, a fim de ver a - so called - diva.

Mas depois pensamos melhor; se as televisões tivessem estado em peso uns dias antes à saída do Paradise Garage, onde decorreu, muito provavelmente, um dos últimos espectáculos dos The Libertines, não teria ouvido comentários semelhantes, ainda que de gente diferente?

E se tivessem estado há umas semanas à saída da muralha de Óbidos, depois do concerto de Lloyd Cole, debaixo de uma magnífica lua cheia, ter-me-iam certamente ouvido dizer que poucos momentos na minha vida me deram a mesma satisfação daquelas duas horas. Mas a televisão real vai para a porta do concerto da Madonna e não para Óbidos - e ainda bem que assim é!

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