Por estes dias (e não há tão poucos como isso) temos sido bombardeados com as mais diversas loas ao concerto de Madonna. Começou por ser um movimento ténue, a propósito da possibilidade de o dito concerto ter que ser cancelado, devido ao agendamento anterior para a mesma data de um congresso da Igreja Maná - o que, vendo bem, até faz sentido, pois trata-se de acontecimentos com graus de importância equivalentes - mas rapidamente se alargou a toda a classe pensante, com a blogosfera também ela rendida à virgem.
No entanto, a profusão de reportagens nestes últimos dias - aliada ao facto de eu ter estado de férias, sem acesso à net, e com (demasiado) acesso à televisão - tornou-se verdadeiramente insuportável. Ontem à noite era ver as entrevistas com quem saía do Pavilhão Atlântico, e a ladaínha era sempre a mesma: entre muita baba, meninas muito loiras e meninos muito bronzeados diziam a uma voz "foi o melhor espectáculo que já vi", "inesquecível", "patati", "patatá" - e isto, note-se, a propósito de um concerto "de plástico", milimetricamente coreografado e planeado para fazer delirar as hostes.
O que se torna aqui verdadeiramente fascinante é verificar até que ponto os media influenciam o homem comum; vendo aquelas almas tão genuinamente saciadas com um bocado de concerto "a metro", quase somos levados a pensar que fizémos mal em não ter ido esperar umas horas para uma fila, a fim de ver a - so called - diva.
Mas depois pensamos melhor; se as televisões tivessem estado em peso uns dias antes à saída do Paradise Garage, onde decorreu, muito provavelmente, um dos últimos espectáculos dos The Libertines, não teria ouvido comentários semelhantes, ainda que de gente diferente?
E se tivessem estado há umas semanas à saída da muralha de Óbidos, depois do concerto de Lloyd Cole, debaixo de uma magnífica lua cheia, ter-me-iam certamente ouvido dizer que poucos momentos na minha vida me deram a mesma satisfação daquelas duas horas. Mas a televisão real vai para a porta do concerto da Madonna e não para Óbidos - e ainda bem que assim é!
Governar
Há 12 horas
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