Quem me conhece minimamente não questionará a minha grande paixão pelos automóveis - mas ficará decerto admirado se eu lhe confessar que há já vários anos que não fico a hora de almoço em casa, a um domingo, para ver um Grande Prémio de Fórmula 1.
Com efeito, a Fórmula 1 moderna tornou-se numa competição monótona e desinteressante, disputada em circuitos assépticos, desenhados por computadores, e com carros carregados de electrónica que bem poderiam ser telecomandados a partir das boxes. Num cenário destes, emerge a razoável perícia para a condução de alguns, mas principalmente a maior ou menor capacidade de um determinado carro - e é por isso que um piloto médio (e um homem indigno desse nome), como Michael Schumacher, consegue facilmente ir coleccionando vitórias em linha, enquanto se vai enterrando bem fundo o interesse da Fórmula 1.
Mas há um Grande Prémio que tento não perder todos os anos: o do Mónaco. Porque é o último de uma linhagem de Grandes Prémios feitos para homens, e não para vedetas que, mal vêem uns pingos de chuva, logo se juntam em associações e piquetes de greve para exigirem condições de segurança. Esquecem-se estas
primas donnas que são pagos a peso de ouro para praticar um desporto de risco, e que é esse mesmo risco que nós, espectadores, esperamos que eles corram. De resto, qualquer um deles sabia de antemão as regras do jogo.
Que saudades de homens com "H" grande, como Jackie Stewart, François Cévert, James Hunt, Gilles Villeneuve, Ronnie Peterson, Nigel Mansell, ou o grande Ayrton Senna (e falo apenas de alguns dos que vi correr). Que pena não serem as "meninas" de agora feitas da mesma fibra de Jacques Villeneuve, que se recusou a assinar um pacto de não ataque nas primeiras voltas de um qualquer Grande Prémio, "furando" assim a combinação que todos os outros pilotos haviam cozinhado para nos defraudar, a nós, espectadores.
Há uns anos, assistia eu a uma tourada em Espanha, e um velho aficcionado ao meu lado não se cansava de vaiar o toureiro que, na minha modesta opinião, até não se estava a sair nada mal. Ao fim de algumas vaias, e percebendo tacitamente a minha admiração com tamanho descontentamento, o velho explicou-me: "o toureiro ganha mais por esta
faena, do que muitos de nós ganhamos num ano, e o bilhete custa quase uma semana de trabalho a muitas das pessoas que aqui estão; por isso, ele não pode tourear razoavelmente - ele tem que tourear bem!"
Se não, senhores da fórmula 1, dediquem-se ao
golf.
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