O meu calamitoso estado físico assim mo pedia, e há uns dias acabei por me decidir: comprei uma bicicleta - uma daquelas de BTT, com suspensões e toda uma série de
gadgets cuja utilidade ainda não descortinei com clareza. Não foi barata, mas mesmo assim o seu preço ficou a anos-luz do que já vi praticar no mercado.
Mas não me fiquei pela
bike (nota-se muito que já ando a ler umas revistas sobre o assunto?); comprei também um capacete e umas luvas apropriadas, bem como uns estofadinhos calções para melhorar o conforto de utilização.
Estou preparado para uns quilómetros de todo-o-terreno (desta vez sem barulho), mas eis que uma crucial dúvida se me depara: como em muitos outros aspectos da vida, aqui também há elites. Diz-me quem anda nisto há já uns anos que a minha
bicla é uma "bicicleta de cromo", presumo que por não ter custado uma quantia com quatro algarismos, ou por não ser um modelo
taylor made - quadro desta marca, suspensões daquela, travões daqueloutra, numa miscelânea qua acrescenta profissionalismo e conhecimento a quem a ostenta. Ignomínia maior, até o capacete deve obedecer a alguns cânones específicos, entre os quais a segurança é ofuscada pela
griffe - e o meu é um modelo que me pareceu simpático, mas cuja marca não consta nos compêndios da coisa.
Consulto as revistas, e confirmo o que oiço: os "verdadeiros" ciclistas, ou "bêtêtistas", insurgem-se contra os "cromos" que, com "bicicletas de hipermercado", cometem a suprema afronta de se imiscuir nos seus passeios campestres, chegando até a sugerir que este tipo de equipamento não deveria estar ao alcance de um comum mortal.
Resta-me apenas a hipótese de passear sozinho, para não deixar ficar mal ninguém; mas antes de ficar convencido, ainda arrisco perguntar: "e nessas corridas que existem um pouco por todo o país, ganham sempre aqueles que usam bicicletas de mil contos e mais?". "Não", respondem-me, "muitas vezes os mais rápidos até são os que usam os
chaços ("bicicletas de hipermercado", para os distraídos)". Pois...
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