2009/02/10
Apanhar moscas com vinagre
Uma história breve, pessoal, mas que poderia acontecer com qualquer:
Sou divorciado. O meu casamento foi católico e, por isso, e a menos que o Papa intervenha, não poderei voltar a casar pela Igreja. Há poucos anos encontrei outra pessoa, com quem estou bem, e com quem tive uma filha, que fez há dias dezoito meses. Católico que sou, naturalmente que pensei em baptizar a minha menina. Escolhi os padrinhos, pessoas em quem eu confio, e dirigi-me à Paróquia onde vivi a maior parte da minha vida, São Lourenço, Azeitão. Não conheço o nome do padre e, francamente, dada a tacanhez da figura, nem tal me parece relevante. Mas retenho que lhe expliquei que pensava efectuar uma celebração conjunta, com passagem pelo Registo Civil de manhã de forma a actualizar o meu estado civil (vulgo casar), e em seguida proceder a um baptizado Católico da minha filha. Da forma mais brusca possível, a figurinha, que aparenta uma idade física bem inferior ao reaccionarismo intelectual, explicou-me, tout court, que apenas celebraria o baptizado se os padrinhos fossem duas pessoas casadas uma com a outra, em cerimónia católica, primeiras núpcias para ambos, e que, além disso, teriam que ser baptizados, com primeira comunhão e crismados.
Evidentemente que as pessoas que eu escolhi reunem, com boa vontade, talvez 10% destas condições, para além de que, nos dias que correm, poucos terão tempo para frequentar arcaicos cursos de preparação para a função. Agradeci-lhe, evidentemente, a informação, e voltei-lhe costas, certo de que, a menos que se trate de alguma cerimónia de amigos, dificilmente voltarei àquela igreja para ver a performance de tão triste personagem.
Lembrei-me depois de uma situação que vivi de perto, há uns dez anos ou mais, em que uma determinada mãe convidou uma amiga para ser madrinha da sua filha. Só que a convidada residia em Lisboa, como tal não podia frequentar as ditas aulas e a solução arranjada pela própria Igreja foi a de ser outra pessoa, uma acólita que provavelmente nunca mais viu a sua "afilhada", mas que tinha tempo de sobra para frequentar cursos, a madrinha "oficial" - pois só ela preenchia os requisitos. Enquanto isso, a pessoa que ficou a ser a madrinha de facto da menina, não pôde participar nessa qualidade na cerimónia porque, para a Igreja, não reunia condições para ser madrinha - mas uma qualquer beata, sem nenhuma relação familiar ou afectiva com a menina, só porque fazia os cursos e era crismada, já o podia ser. Uma fantochada ignóbil promovida por representantes da Igreja Católica, em suma.
Lembra-me aqueles velhos que antigamente se encontravam em alguns notários com o seu bilhete de identidade, e que avalizavam qualquer assinatura a rogo, quase sempre sem conhecerem o signatário e a troco de uma nota de quinhentos escudos. O velho sabia que não conhecia o signatário, este sabia que não conhecia aquele, e o notário sabia que ninguém conhecia ninguém, mas todos fingiam acreditar em algo que era consabidamente mentira.
Penso nisto, e penso nas queixas que de vez em quando oiço da parte da Igreja, do afastamento de fiéis. Mas se é este o tratamento arrogante e reaccionário que espera quem voluntariamente procura a Igreja, como pensarão eles promover a tal (re)aproximação que dizem ambicionar?
Sou divorciado. O meu casamento foi católico e, por isso, e a menos que o Papa intervenha, não poderei voltar a casar pela Igreja. Há poucos anos encontrei outra pessoa, com quem estou bem, e com quem tive uma filha, que fez há dias dezoito meses. Católico que sou, naturalmente que pensei em baptizar a minha menina. Escolhi os padrinhos, pessoas em quem eu confio, e dirigi-me à Paróquia onde vivi a maior parte da minha vida, São Lourenço, Azeitão. Não conheço o nome do padre e, francamente, dada a tacanhez da figura, nem tal me parece relevante. Mas retenho que lhe expliquei que pensava efectuar uma celebração conjunta, com passagem pelo Registo Civil de manhã de forma a actualizar o meu estado civil (vulgo casar), e em seguida proceder a um baptizado Católico da minha filha. Da forma mais brusca possível, a figurinha, que aparenta uma idade física bem inferior ao reaccionarismo intelectual, explicou-me, tout court, que apenas celebraria o baptizado se os padrinhos fossem duas pessoas casadas uma com a outra, em cerimónia católica, primeiras núpcias para ambos, e que, além disso, teriam que ser baptizados, com primeira comunhão e crismados.
Evidentemente que as pessoas que eu escolhi reunem, com boa vontade, talvez 10% destas condições, para além de que, nos dias que correm, poucos terão tempo para frequentar arcaicos cursos de preparação para a função. Agradeci-lhe, evidentemente, a informação, e voltei-lhe costas, certo de que, a menos que se trate de alguma cerimónia de amigos, dificilmente voltarei àquela igreja para ver a performance de tão triste personagem.
Lembrei-me depois de uma situação que vivi de perto, há uns dez anos ou mais, em que uma determinada mãe convidou uma amiga para ser madrinha da sua filha. Só que a convidada residia em Lisboa, como tal não podia frequentar as ditas aulas e a solução arranjada pela própria Igreja foi a de ser outra pessoa, uma acólita que provavelmente nunca mais viu a sua "afilhada", mas que tinha tempo de sobra para frequentar cursos, a madrinha "oficial" - pois só ela preenchia os requisitos. Enquanto isso, a pessoa que ficou a ser a madrinha de facto da menina, não pôde participar nessa qualidade na cerimónia porque, para a Igreja, não reunia condições para ser madrinha - mas uma qualquer beata, sem nenhuma relação familiar ou afectiva com a menina, só porque fazia os cursos e era crismada, já o podia ser. Uma fantochada ignóbil promovida por representantes da Igreja Católica, em suma.
Lembra-me aqueles velhos que antigamente se encontravam em alguns notários com o seu bilhete de identidade, e que avalizavam qualquer assinatura a rogo, quase sempre sem conhecerem o signatário e a troco de uma nota de quinhentos escudos. O velho sabia que não conhecia o signatário, este sabia que não conhecia aquele, e o notário sabia que ninguém conhecia ninguém, mas todos fingiam acreditar em algo que era consabidamente mentira.
Penso nisto, e penso nas queixas que de vez em quando oiço da parte da Igreja, do afastamento de fiéis. Mas se é este o tratamento arrogante e reaccionário que espera quem voluntariamente procura a Igreja, como pensarão eles promover a tal (re)aproximação que dizem ambicionar?
2009/02/09
Da dualidade de critérios:
Fernanda Câncio publica, no seu blog (ou no blog em que escreve, para ser exacto), um post em que critica ferozmente Mário Crespo pela sua suposta falta de imparcialidade numa crónica publicada hoje, em que o jornalista desfia uma série de verdades - e que por acaso até está reproduzida aqui abaixo.
Mas, nessa réplica, Fernanda Câncio, que não faz declaração de interesse (talvez por a achar supérflua) para tal defesa da honra, nem possui, que se saiba, cargo directivo ou sequer cartão do PS, consegue ser bem mais parcial do que aquele que critica, o que não deixa de ser assinalável.
Neste universo socialista, de e para socialistas e seus protegidos, ficamos de novo a saber que a liberdade de opinião é coisa muito bonita, mas desde que devidamente controlada.
Mas, nessa réplica, Fernanda Câncio, que não faz declaração de interesse (talvez por a achar supérflua) para tal defesa da honra, nem possui, que se saiba, cargo directivo ou sequer cartão do PS, consegue ser bem mais parcial do que aquele que critica, o que não deixa de ser assinalável.
Neste universo socialista, de e para socialistas e seus protegidos, ficamos de novo a saber que a liberdade de opinião é coisa muito bonita, mas desde que devidamente controlada.
Chapeau!
Mário Crespo, nesta sua feliz ressurreição para o bom jornalismo (que tão de rastos anda nas mãos de Santos Silvas e outros ditadorzinhos de pacotilha), já nos tinha mostrado que a fasquia se encontra muito mais alta agora. Mas este texto é absolutamente sublime. Com a devida vénia, aqui fica:
"Está bem... façamos de conta
Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos."
"Está bem... façamos de conta
Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos."
2009/02/07
Sondagens em profundidade
É curioso perceber como a comunicação social institucionalizada, assim como todo o aparelho alinhado, manipula de forma aparentemente inócua a informação que nos chega. Numa sondagem recente da Eurosondagem (não encontrei link), a propósito do "caso Freeport", uma das hipóteses de resposta à questão que os inquiridores colocavam sobre o grau de envolvimento de Sócrates no assunto, era qualquer coisa como "Sócrates não tem culpa do que a família faz". Consegue-se assim, de forma tosca (mas pretensamente subtil), insinuar o duvidoso pressuposto de que tudo isto não passa de um problema de terceiros, a que o primeiro ministro é completamente alheio.
Aproveitando o ensejo, e nesta tendência laudatória e desculpabilizante, gostaria desde já de deixar à Eurosondagem sugestões de perguntas para próximas inquiriçoes:
- Acha que o nosso competentíssimo primeiro ministro tem alguma culpa das asneiras que fazem os seus ministros?
- Com que percentagem de votos é que acha que Sócrates vai conquistar a próxima maioria absoluta?
- Considera o desempenho do nosso primeiro ministro: a) Excelente, b) Excepcional, c) Brilhante.
Aproveitando o ensejo, e nesta tendência laudatória e desculpabilizante, gostaria desde já de deixar à Eurosondagem sugestões de perguntas para próximas inquiriçoes:
- Acha que o nosso competentíssimo primeiro ministro tem alguma culpa das asneiras que fazem os seus ministros?
- Com que percentagem de votos é que acha que Sócrates vai conquistar a próxima maioria absoluta?
- Considera o desempenho do nosso primeiro ministro: a) Excelente, b) Excepcional, c) Brilhante.
2009/02/05
Quantos são, quantos são?
Vital Moreira, para quem não sabe, é aquela figura que se tem desdobrado na defesa de Sócrates neste caso Freeport, mais até do que o próprio, se tal é possível. A genuina raiva que VM nutre por quem quer que seja que lhe tente atingir o impoluto líder, leva-o a escrever pérolas como esta: "Manuel Pedro, associado da Smith & Pedro, em comunicado enviado à Lusa, afirma que nunca procedeu a «pagamentos ilícitos» e que a única vez que se encontrou com Sócrates foi no Ministério do Ambiente numa reunião pedida pela autarquia de Alcochete. Ficam assim categoricamente desmentidas pelos próprios as suspeitas de reuniões "clandestinas" e de pagamento de "luvas" (o mesmo desmentido já tinha sido feito por Charles Smith)". O itálico é citado de outro lado, mas o rosa (não foi de propósito...), incluindo o bold, é do próprio que, na sua ingenuidade, aguarda ainda que os criminosos ou suspeitos emitam comunicados "categóricos" a assumir o seu envolvimento em ilícitos.
No entanto, VM, apesar da lealdade apenas comparável à do ministro iraquiano da propaganda de há uns anos, também é humano, e certamente a sua tensão arterial não lhe permitirá passar 24 sobre 24 horas a escrever posts chamados "Freeport número não sei quantos" - e, nesses intervalos, preocupa-se solidariamente com acontecimentos fortuitos que possam prejudicar outros percursos, como o cruzamento com Sócrates tem prejudicado o seu.
Mas, com o devido respeito pelo seu estado de nervos actual, que se deve afigurar calamitoso, não lhe ocorrerá que há coisas que dirão respeito a outros e não a si - ainda que lhe fique bem a preocupação?
No entanto, VM, apesar da lealdade apenas comparável à do ministro iraquiano da propaganda de há uns anos, também é humano, e certamente a sua tensão arterial não lhe permitirá passar 24 sobre 24 horas a escrever posts chamados "Freeport número não sei quantos" - e, nesses intervalos, preocupa-se solidariamente com acontecimentos fortuitos que possam prejudicar outros percursos, como o cruzamento com Sócrates tem prejudicado o seu.
Mas, com o devido respeito pelo seu estado de nervos actual, que se deve afigurar calamitoso, não lhe ocorrerá que há coisas que dirão respeito a outros e não a si - ainda que lhe fique bem a preocupação?
2009/02/03
O espírito da coisa
Está descoberto o mistério: a pessoa que tramou o Belenenses, por achar que "goal average" significa "diferença de golos", só pode ser alguém que escreve no seu blog "who do girls like they're boys".
2009/02/01
Obrigatório:
Termómetro
Na sua edição de ontem, o "Semanário Económico" apresenta os resultados de uma nova sondagem de opinião relativa às eleições que terão local este ano. Como são forretas, no link para a notícia não incluiram os resultados da dita auscultação, para obrigar os curiosos a comprar o jornal, mas o "Margens de Erro" fez-nos o favor de transcrever o que lá vem escrito, que reproduzimos com a devida vénia:
PS: 39,6%
PSD: 24,9%
CDU: 11,9%
BE: 10,1%
CDS-PP: 9,7%
Três notas breves sobre o assunto, uma específica e duas genéricas, se bem que todas factuais e não subjectivas:
1. Como bem nota o autor do post linkado, o trabalho de inquirição terminou a 23 de Janeiro, pelo que não poderá reflectir o evidente decréscimo de confiança, justo ou injusto, que o "caso Freeport" e as "forças ocultas" trouxeram ao primeiro ministro e, por arrastamento, ao seu governo;
2. Desde sempre que nas sondagens o BE surge com uma simpática votação, que em muitos casos lhe dá a terceira posição nas preferências dos eleitores, mas nunca, na sua curta carreira, atingiu melhor que o quinto lugar em eleições - sempre a considerável distância do quarto, normalmente menos de metade;
3. Ao invés, o CDS é normalmente "massacrado" nas sondagens, onde amiúde surge com votações residuais de 2 ou 3%, para gáudio do exército de carpideiras que salivam com este tipo de exercícios. Contudo, e felizmente, na realidade o partido oscila entre o terceiro e o quarto lugares no escalonamento das forças políticas em Portugal, e obtém sistematicamente votações bastante superiores às sondagens - em alguns casos, como recentemente nos Açores, quase o triplo do anunciado. E não me lembro de uma única ocasião em que o resultado efectivo do partido tenha sido inferior a qualquer sondagem que tenha visto antes.
PS: 39,6%
PSD: 24,9%
CDU: 11,9%
BE: 10,1%
CDS-PP: 9,7%
Três notas breves sobre o assunto, uma específica e duas genéricas, se bem que todas factuais e não subjectivas:
1. Como bem nota o autor do post linkado, o trabalho de inquirição terminou a 23 de Janeiro, pelo que não poderá reflectir o evidente decréscimo de confiança, justo ou injusto, que o "caso Freeport" e as "forças ocultas" trouxeram ao primeiro ministro e, por arrastamento, ao seu governo;
2. Desde sempre que nas sondagens o BE surge com uma simpática votação, que em muitos casos lhe dá a terceira posição nas preferências dos eleitores, mas nunca, na sua curta carreira, atingiu melhor que o quinto lugar em eleições - sempre a considerável distância do quarto, normalmente menos de metade;
3. Ao invés, o CDS é normalmente "massacrado" nas sondagens, onde amiúde surge com votações residuais de 2 ou 3%, para gáudio do exército de carpideiras que salivam com este tipo de exercícios. Contudo, e felizmente, na realidade o partido oscila entre o terceiro e o quarto lugares no escalonamento das forças políticas em Portugal, e obtém sistematicamente votações bastante superiores às sondagens - em alguns casos, como recentemente nos Açores, quase o triplo do anunciado. E não me lembro de uma única ocasião em que o resultado efectivo do partido tenha sido inferior a qualquer sondagem que tenha visto antes.
2009/01/29
2009/01/28
E a Deborah assinou?
A comissão independente que avaliou a invulgar celeridade com que foram deferidos os projectos assinados pelo "engenheiro" Sócrates na Câmara da Guarda, alguns nuns fantásticos três dias, concluiu que tal não constitui novidade nem excepção nos procedimentos habituais daquela autarquia e, pelos vistos, na amostragem de dezoito processos que consultou, encontrou até algumas situações idênticas. Só eu, que assinei (e fiz, de facto) incontáveis projectos para Câmaras Municipais, nunca tive a felicidade de esperar menos de um mês, mesmo que se tratasse do mais insignificante projecto de alterações - mas, em contrapartida, em vários casos esperei mais de um ano.
Terá esta investigação sido também feita seguindo a "metodologia da OCDE"?
Terá esta investigação sido também feita seguindo a "metodologia da OCDE"?
2009/01/24
Sinais de desespero socialista ou "Fuga, Parte II"
1. Sócrates, ao ser confrontado com os óbvios indícios de irregularidades no caso Freeport, que agora voltam à baila, achou que o mais importante a destacar era o facto de o aparecimento de novos dados suceder normalmente em anos eleitorais. Das duas uma: ou acha que a sua oposição manipula o Ministério Público, ou acha que este é oposição ao PS. Uma e outra a raiar a paranóia, diga-se de passagem.
2. Ontem foi novamente votado na Assembleia da República um projecto de Decreto-Lei apresentado pelo CDS visando a suspensão do actual sistema de avaliação de professores, e a sua substituição por um modelo mais justo. O PS, que quando todos olham para a lua prefere olhar para o dedo que aponta, achou que a congregação de esforços de toda a oposição, e até de alguns deputados seus, em defesa desta proposta, constituia uma estranha aliança contra o governo. Ou seja, pouco lhes importou o conteúdo da coisa, mas sim a forma. Como se fosse verosímil esperar que o BE ou o PCP votassem ao lado do CDS apenas para fazer o jeito a este último, mesmo que não acreditassem ou concordassem com a matéria da votação.
O último de que nos lembramos assim, começou por ver fantasmas - que por acaso até lhe dava jeito ver - e acabou por se "refugiar" na ONU.
2. Ontem foi novamente votado na Assembleia da República um projecto de Decreto-Lei apresentado pelo CDS visando a suspensão do actual sistema de avaliação de professores, e a sua substituição por um modelo mais justo. O PS, que quando todos olham para a lua prefere olhar para o dedo que aponta, achou que a congregação de esforços de toda a oposição, e até de alguns deputados seus, em defesa desta proposta, constituia uma estranha aliança contra o governo. Ou seja, pouco lhes importou o conteúdo da coisa, mas sim a forma. Como se fosse verosímil esperar que o BE ou o PCP votassem ao lado do CDS apenas para fazer o jeito a este último, mesmo que não acreditassem ou concordassem com a matéria da votação.
O último de que nos lembramos assim, começou por ver fantasmas - que por acaso até lhe dava jeito ver - e acabou por se "refugiar" na ONU.
2009/01/21
Crise de imaginação
A Standard & Poor's é, provavelmente, a mais importante empresa de rating a nível mundial, o que, contudo, não é suficente para a transformar necessariamente numa instituição fiável, como infelizmente os seus graves falhanços têm vindo a demonstrar pelo mundo fora. Não obstante, é a agência que temos, e é a que avalia a performance das diversas economias espalhadas pelo globo.
Foi essa mesma Standard & Poor's que decidiu hoje aumentar o nível de risco Português de AA- para A+, concedendo mais uma machadada à nossa imagem internacional. Na prática isto significa que, da próxima vez que Sócrates e a sua comitiva forem tentar angariar um empréstimozito lá fora, no intervalo dos mediáticos joggings e das calinadas de "Piño & Lino", o seu interlocutor consultará a avaliação de risco disponível, e far-lhe-á a cara do tipo do banco quando lá vamos pedir mais um empréstimo para um aspirador especial de corrida, e o monitor mostra que ainda lá se encontram por pagar as prestações da viagem ao Brasil, do plasma que ocupa uma parede da sala ou do leasing do BMW.
Interessante, no entanto, é ouvir a naturalidade com que o Governo, pela boca de Teixeira dos Santos, explica tudo com esta crise de tão largas costas. Só falta explicar por que razão, se é de uma crise internacional que se trata, apenas Portugal e mais dois países foram penalizados, e apenas um país europeu, a Grécia, apresenta um rating inferior ao nosso. A crise, pelos vistos, não é para todos.
Foi essa mesma Standard & Poor's que decidiu hoje aumentar o nível de risco Português de AA- para A+, concedendo mais uma machadada à nossa imagem internacional. Na prática isto significa que, da próxima vez que Sócrates e a sua comitiva forem tentar angariar um empréstimozito lá fora, no intervalo dos mediáticos joggings e das calinadas de "Piño & Lino", o seu interlocutor consultará a avaliação de risco disponível, e far-lhe-á a cara do tipo do banco quando lá vamos pedir mais um empréstimo para um aspirador especial de corrida, e o monitor mostra que ainda lá se encontram por pagar as prestações da viagem ao Brasil, do plasma que ocupa uma parede da sala ou do leasing do BMW.
Interessante, no entanto, é ouvir a naturalidade com que o Governo, pela boca de Teixeira dos Santos, explica tudo com esta crise de tão largas costas. Só falta explicar por que razão, se é de uma crise internacional que se trata, apenas Portugal e mais dois países foram penalizados, e apenas um país europeu, a Grécia, apresenta um rating inferior ao nosso. A crise, pelos vistos, não é para todos.
Donde saíu este cromo?
José Saramago, um dos espanhóis que melhor domina a língua portuguesa, manifestou, no seu blog, perplexidade por Obama ser "uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida". A minha perplexidade é outra mas decorre dessa: mas qual será o político, seja de que quadrante for, que não invoca estes valores ao falar em público? Onde é que está a novidade? Até Hitler deve ter defendido a memória dos seus antecessores.
Até quando vai durar a adoração? Pouco faltará para vermos debates empolgados sobre o que Obama jantou, a marca de pasta de dentes que usa ou, ainda mais transcendente, o número que calça - e tudo isso passarão a ser novas referências mundiais, provindas que são do messias.
Até quando vai durar a adoração? Pouco faltará para vermos debates empolgados sobre o que Obama jantou, a marca de pasta de dentes que usa ou, ainda mais transcendente, o número que calça - e tudo isso passarão a ser novas referências mundiais, provindas que são do messias.
2009/01/20
Histeria
A crer na enjoativa irracionalidade que contagiou meio mundo relativamente à eleição de Obama, espero bem que amanhã, quando me levantar, já tenha acabado a fome em África, que o messias já tenha deixado cair a dívida, que alguém já tenha tapado o buraco da camada de ozono, e que os soldados americanos no Afeganistão e Iraque já tenham sido chamados de volta. En passant, não me admirarei também se a América, com o seu potencial bélico, expulsar amanhã os israelitas do seu país, que os palestinianos há tanto cobiçam - tanto que não hesitam em matar os seus filhos! - de forma a que estes pacíficos e razoáveis palestinianos, vítimas de uma perseguição injusta que apenas o HAMAS combate, possam finalmente viver em paz, sem ouvir a palavra "judeu".
O estado de demência que assola metade da população mundial lembra-me aqueles transes colectivos das plateias frente a um "pastor" brasileiro, que lhes vai curar todas as maleitas - mas para pior.
Como ouvi hoje, não deixa de ser curioso notar que esta esquerda sem rumo nem coerência que por aqui passeia o seu folclore, sempre condenou a influência dos Estados Unidos nos restantes países mundiais, mas agora, babados que estão com a chegada do seu salvador, já acham que ele traz no saco de golf as soluções para todo o mundo.
Lavem a cara, vejam-se ao espelho, ganhem juízo!
2008/12/16
Coerência
Uma das coisas mais tristes e deploráveis de observar nesta triste figura dos deputados que passam a independentes, como já se viu com a patética saga de Luísa Mesquita, e agora se pode observar com José Paulo Carvalho no CDS, é que todos tomam a decisão, auto-proclamada de corajosa e frontal (leiam-se as tiradas tragicómicas de Carvalho sobre as "conversas olhos nos olhos com Portas"), de pedirem a sua demissão, mas não são minimamente consequentes com essa suposta rectidão de carácter na hora de tomarem a única decisão decente que podiam tomar a seguir: renunciar ao cargo de deputados!
Nada disso; sabem-lhes muito bem os Euros garantidos no fim do mês, a imunidade, as mordomias. E assim mandam às malvas a vergonha e a decência e continuam a baixar - ainda mais - a perspectiva que o povo tem da política e dos políticos, se bem que aqui se possa reconhecer um módico de razão a quem os acha uns interesseiros sem princípios.
Eu, pessoalmente, não votei no Sr. José Paulo Carvalho, mas sim nas ideias do partido que ele, até hoje, representava. Se ele já não representa esse partido, e consequentemente as suas ideias, eu não me encontro na disposição de lhe sustentar a gula e a ambição pessoal, e penso que comigo qualquer pessoa que também tenha votado num modelo de política, e não numa qualquer vontade de protagonismo bacoco pessoal!
Nada disso; sabem-lhes muito bem os Euros garantidos no fim do mês, a imunidade, as mordomias. E assim mandam às malvas a vergonha e a decência e continuam a baixar - ainda mais - a perspectiva que o povo tem da política e dos políticos, se bem que aqui se possa reconhecer um módico de razão a quem os acha uns interesseiros sem princípios.
Eu, pessoalmente, não votei no Sr. José Paulo Carvalho, mas sim nas ideias do partido que ele, até hoje, representava. Se ele já não representa esse partido, e consequentemente as suas ideias, eu não me encontro na disposição de lhe sustentar a gula e a ambição pessoal, e penso que comigo qualquer pessoa que também tenha votado num modelo de política, e não numa qualquer vontade de protagonismo bacoco pessoal!
Carpideiras a metro
O CDS, vá-se lá saber porquê, sempre teve o dom de congregar em atenta observação do que se passa no seu interior muita gentinha, aparentemente sem nada de mais útil para fazer. Será razoável que os seus militantes, entre os quais me incluo há mais de vinte anos com orgulho, se interessem pelas movimentações cirúrgicas que avulsos materialistas desiludidos vão protagonizando no seu interior em cada momento; já será mais estranho que pessoas de outros partidos revelem uma obsessão a raiar a patologia, salivando pavlovianamente de cada vez que existe algum tipo de questão interna no CDS. Eu, pelo menos, não tenho essa tara voyeurista de me fascinar com o que se passa na casa do vizinho.
Há uns meses eram "centenas" os militantes de Setúbal que iriam protagonizar uma "desfiliação maciça", e as carpideiras do costume não se esqueceram de dar disso eco suficiente em tudo o que fosse suporte para tal. Infelizmente já não tiveram a mesma disponibilidade para proporcionar destaque idêntico ao facto de apenas se terem vindo a confirmar cerca de dez desfiliações, de pessoas pertencentes às mesmas famílias, com o toque irónico de os supostos "líderes" do processo, aqueles que vociferavam raios e coriscos contra tão ingrata madrasta, não se terem afinal desfiliado ou, em casos mais flagrantes, terem deixado um conveniente "pézinho" dentro do partido.
Agora novamente surgem as maciças desfiliações natalícias, e novamente também os outros partidos babam-se de êxtase, para ver se é desta que o vizinho de cima parte mesmo um braço à mulher ou, quem sabe, lhe espeta uma faca. Para já a dimensão da tragédia já vai em dois dirigentes, mas tudo indica que os números poderão ser catastróficos, e de novo poderão ser atingidos os níveis de destruição de Julho passado.
Há uns meses eram "centenas" os militantes de Setúbal que iriam protagonizar uma "desfiliação maciça", e as carpideiras do costume não se esqueceram de dar disso eco suficiente em tudo o que fosse suporte para tal. Infelizmente já não tiveram a mesma disponibilidade para proporcionar destaque idêntico ao facto de apenas se terem vindo a confirmar cerca de dez desfiliações, de pessoas pertencentes às mesmas famílias, com o toque irónico de os supostos "líderes" do processo, aqueles que vociferavam raios e coriscos contra tão ingrata madrasta, não se terem afinal desfiliado ou, em casos mais flagrantes, terem deixado um conveniente "pézinho" dentro do partido.
Agora novamente surgem as maciças desfiliações natalícias, e novamente também os outros partidos babam-se de êxtase, para ver se é desta que o vizinho de cima parte mesmo um braço à mulher ou, quem sabe, lhe espeta uma faca. Para já a dimensão da tragédia já vai em dois dirigentes, mas tudo indica que os números poderão ser catastróficos, e de novo poderão ser atingidos os níveis de destruição de Julho passado.
2008/12/12
Os equivocados da política
Já há dias falei dos "salta-pocinhas" da política, sempre prontos a renegar princípios por trinta dinheiros, e falo agora de outra espécie que, se bem que não ostente tão vergonhoso comportamento, também me deixa especialmente confuso: falo desta gente, como Manuel Alegre, Pacheco Pereira ou Marcelo Rebelo de Sousa, que são militantes de determinados partidos, mas não perdem uma oportunidade de atacar os mesmos - e, com a honrosa excepção de entre os citados de Manuel Alegre, na hora de poderem avançar e demonstrar a valia das suas opiniões, preferem assobiar para o lado, mantendo confortável silêncio e indisponibilidade, a raiar a cobardia do cão que ladra mas foge a sete pés quando enxotado.
Que diabo, a mim não me incomoda nada que cada qual tenha a ideia política que muito bem entender, e até entendo que seria desejável que toda a gente tivesse a sua; o que me confunde são estes comportamentos esquizofrénicos de se pertencer a um partido e defender sistematicamente ideias de outros.
Que diabo, a mim não me incomoda nada que cada qual tenha a ideia política que muito bem entender, e até entendo que seria desejável que toda a gente tivesse a sua; o que me confunde são estes comportamentos esquizofrénicos de se pertencer a um partido e defender sistematicamente ideias de outros.
2008/12/11
Lugares Comuns
Existe alguma distinção para um blog que tenha conseguido atravessar estes últimos dias sem ter falado na morte de Alçada Baptista ou nos cem anos de Manoel de Oliveira?
Fobias
Cada um tem as suas; a minha são condomínios, condóminos e tudo o que se aparente, ainda que vagamente, com o tema. Não consigo evitar ataques de ansiedade quando os reformados lá de cima me apanham à má fila na entrada, para me chatearem com a mudança das caixas de correio ou a revisão dos elevadores - e tudo com o ar conspirativo e solene de quem está a presidir à Assembleia Geral da ONU ou coisa parecida.
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