2009/02/07

Lugares #27


Lisboa vista da Ponte Vasco da Gama, hoje ao fim da tarde.

Sondagens em profundidade

É curioso perceber como a comunicação social institucionalizada, assim como todo o aparelho alinhado, manipula de forma aparentemente inócua a informação que nos chega. Numa sondagem recente da Eurosondagem (não encontrei link), a propósito do "caso Freeport", uma das hipóteses de resposta à questão que os inquiridores colocavam sobre o grau de envolvimento de Sócrates no assunto, era qualquer coisa como "Sócrates não tem culpa do que a família faz". Consegue-se assim, de forma tosca (mas pretensamente subtil), insinuar o duvidoso pressuposto de que tudo isto não passa de um problema de terceiros, a que o primeiro ministro é completamente alheio.

Aproveitando o ensejo, e nesta tendência laudatória e desculpabilizante, gostaria desde já de deixar à Eurosondagem sugestões de perguntas para próximas inquiriçoes:

- Acha que o nosso competentíssimo primeiro ministro tem alguma culpa das asneiras que fazem os seus ministros?

- Com que percentagem de votos é que acha que Sócrates vai conquistar a próxima maioria absoluta?

- Considera o desempenho do nosso primeiro ministro: a) Excelente, b) Excepcional, c) Brilhante.

2009/02/05

Quantos são, quantos são?

Vital Moreira, para quem não sabe, é aquela figura que se tem desdobrado na defesa de Sócrates neste caso Freeport, mais até do que o próprio, se tal é possível. A genuina raiva que VM nutre por quem quer que seja que lhe tente atingir o impoluto líder, leva-o a escrever pérolas como esta: "Manuel Pedro, associado da Smith & Pedro, em comunicado enviado à Lusa, afirma que nunca procedeu a «pagamentos ilícitos» e que a única vez que se encontrou com Sócrates foi no Ministério do Ambiente numa reunião pedida pela autarquia de Alcochete. Ficam assim categoricamente desmentidas pelos próprios as suspeitas de reuniões "clandestinas" e de pagamento de "luvas" (o mesmo desmentido já tinha sido feito por Charles Smith)". O itálico é citado de outro lado, mas o rosa (não foi de propósito...), incluindo o bold, é do próprio que, na sua ingenuidade, aguarda ainda que os criminosos ou suspeitos emitam comunicados "categóricos" a assumir o seu envolvimento em ilícitos.

No entanto, VM, apesar da lealdade apenas comparável à do ministro iraquiano da propaganda de há uns anos, também é humano, e certamente a sua tensão arterial não lhe permitirá passar 24 sobre 24 horas a escrever posts chamados "Freeport número não sei quantos" - e, nesses intervalos, preocupa-se solidariamente com acontecimentos fortuitos que possam prejudicar outros percursos, como o cruzamento com Sócrates tem prejudicado o seu.

Mas, com o devido respeito pelo seu estado de nervos actual, que se deve afigurar calamitoso, não lhe ocorrerá que há coisas que dirão respeito a outros e não a si - ainda que lhe fique bem a preocupação?

2009/02/03

O espírito da coisa

Está descoberto o mistério: a pessoa que tramou o Belenenses, por achar que "goal average" significa "diferença de golos", só pode ser alguém que escreve no seu blog "who do girls like they're boys".

2009/02/01

A ignomínia


Cento e um anos de vergonha!

Obrigatório:


Só Woody Allen conseguiria o milagre de colocar um narrador em voz off, a explicar-nos de forma paternalista o que vai na cabeça dos personagens, e ao mesmo tempo deixar-nos tanto espaço para a imaginação. Genial Penelope, ao nível de "Volver", com as suas peixeiradas em espanhol!

Termómetro

Na sua edição de ontem, o "Semanário Económico" apresenta os resultados de uma nova sondagem de opinião relativa às eleições que terão local este ano. Como são forretas, no link para a notícia não incluiram os resultados da dita auscultação, para obrigar os curiosos a comprar o jornal, mas o "Margens de Erro" fez-nos o favor de transcrever o que lá vem escrito, que reproduzimos com a devida vénia:

PS: 39,6%
PSD: 24,9%
CDU: 11,9%
BE: 10,1%
CDS-PP: 9,7%

Três notas breves sobre o assunto, uma específica e duas genéricas, se bem que todas factuais e não subjectivas:

1. Como bem nota o autor do post linkado, o trabalho de inquirição terminou a 23 de Janeiro, pelo que não poderá reflectir o evidente decréscimo de confiança, justo ou injusto, que o "caso Freeport" e as "forças ocultas" trouxeram ao primeiro ministro e, por arrastamento, ao seu governo;

2. Desde sempre que nas sondagens o BE surge com uma simpática votação, que em muitos casos lhe dá a terceira posição nas preferências dos eleitores, mas nunca, na sua curta carreira, atingiu melhor que o quinto lugar em eleições - sempre a considerável distância do quarto, normalmente menos de metade;

3. Ao invés, o CDS é normalmente "massacrado" nas sondagens, onde amiúde surge com votações residuais de 2 ou 3%, para gáudio do exército de carpideiras que salivam com este tipo de exercícios. Contudo, e felizmente, na realidade o partido oscila entre o terceiro e o quarto lugares no escalonamento das forças políticas em Portugal, e obtém sistematicamente votações bastante superiores às sondagens - em alguns casos, como recentemente nos Açores, quase o triplo do anunciado. E não me lembro de uma única ocasião em que o resultado efectivo do partido tenha sido inferior a qualquer sondagem que tenha visto antes.