2008/12/16

Coerência

Uma das coisas mais tristes e deploráveis de observar nesta triste figura dos deputados que passam a independentes, como já se viu com a patética saga de Luísa Mesquita, e agora se pode observar com José Paulo Carvalho no CDS, é que todos tomam a decisão, auto-proclamada de corajosa e frontal (leiam-se as tiradas tragicómicas de Carvalho sobre as "conversas olhos nos olhos com Portas"), de pedirem a sua demissão, mas não são minimamente consequentes com essa suposta rectidão de carácter na hora de tomarem a única decisão decente que podiam tomar a seguir: renunciar ao cargo de deputados!

Nada disso; sabem-lhes muito bem os Euros garantidos no fim do mês, a imunidade, as mordomias. E assim mandam às malvas a vergonha e a decência e continuam a baixar - ainda mais - a perspectiva que o povo tem da política e dos políticos, se bem que aqui se possa reconhecer um módico de razão a quem os acha uns interesseiros sem princípios.

Eu, pessoalmente, não votei no Sr. José Paulo Carvalho, mas sim nas ideias do partido que ele, até hoje, representava. Se ele já não representa esse partido, e consequentemente as suas ideias, eu não me encontro na disposição de lhe sustentar a gula e a ambição pessoal, e penso que comigo qualquer pessoa que também tenha votado num modelo de política, e não numa qualquer vontade de protagonismo bacoco pessoal!

Carpideiras a metro

O CDS, vá-se lá saber porquê, sempre teve o dom de congregar em atenta observação do que se passa no seu interior muita gentinha, aparentemente sem nada de mais útil para fazer. Será razoável que os seus militantes, entre os quais me incluo há mais de vinte anos com orgulho, se interessem pelas movimentações cirúrgicas que avulsos materialistas desiludidos vão protagonizando no seu interior em cada momento; já será mais estranho que pessoas de outros partidos revelem uma obsessão a raiar a patologia, salivando pavlovianamente de cada vez que existe algum tipo de questão interna no CDS. Eu, pelo menos, não tenho essa tara voyeurista de me fascinar com o que se passa na casa do vizinho.

Há uns meses eram "centenas" os militantes de Setúbal que iriam protagonizar uma "desfiliação maciça"
, e as carpideiras do costume não se esqueceram de dar disso eco suficiente em tudo o que fosse suporte para tal. Infelizmente já não tiveram a mesma disponibilidade para proporcionar destaque idêntico ao facto de apenas se terem vindo a confirmar cerca de dez desfiliações, de pessoas pertencentes às mesmas famílias, com o toque irónico de os supostos "líderes" do processo, aqueles que vociferavam raios e coriscos contra tão ingrata madrasta, não se terem afinal desfiliado ou, em casos mais flagrantes, terem deixado um conveniente "pézinho" dentro do partido.

Agora novamente surgem as maciças desfiliações natalícias
, e novamente também os outros partidos babam-se de êxtase, para ver se é desta que o vizinho de cima parte mesmo um braço à mulher ou, quem sabe, lhe espeta uma faca. Para já a dimensão da tragédia já vai em dois dirigentes, mas tudo indica que os números poderão ser catastróficos, e de novo poderão ser atingidos os níveis de destruição de Julho passado.