2004/07/01

Sonho


Uns dias aqui fariam maravilhas!

Falácias

Em desespero de causa, ganha cada vez mais espaço, entre os detractores da solução de continuidade proposta pelo e para o governo, o argumento do tipo: "eu não votei em Santana Lopes para primeiro ministro!".

É uma verdade insofismável, e até acrescento mais: nenhum português votou em Santana Lopes para primeiro ministro! Mas também não será menos verdade que nenhum português votou alguma vez em Durão Barroso, ou em quem quer que fosse, para primeiro ministro, apenas e tão só porque em Portugal, democracia representativa, não se vota em pessoas para primeiro ministro mas sim em partidos para a constituição da Assembleia da República. É esta a falácia que a oposição, mas também alguns sociais democratas com problemas de indigestão, anda a tentar impingir ao País.

Mas a verdade é líquida e incontornável: nas últimas eleições legislativas o povo português votou maioritariamente no PSD, pelo que, como consta da constituição, foi este partido que o Presidente da República convidou para formar governo. Foi o PSD que, face a uma maioria relativa obtida, decidiu convidar o PP, terceira força política mais votada, para um governo de coligação que propôs ao Presidente da República, e que sujeitou ao sufrágio da Assembleia da República. Nesta sede, os deputados - estes sim, eleitos a partir dos resultados eleitorais - viabilizaram o governo então proposto, e o seu programa, para um mandato de quatro anos.

Ora, não venham agora oportunistas diversos invocar falsidades para tentar aproveitar uma janela de oportunidade; o governo continua, o seu programa também, e só manifesta má fé podem levar a considerar que Santana Lopes e/ou Paulo Portas não teriam o perfil para manter a linha de rumo até aqui traçada. Como se pode combater um putativo governo com um pressuposto inexistente ou pelo menos não confirmado - o de que Santana Lopes conduziria o país a uma situação de esbanjamento populista? Trata-se, obviamente, de preconceito, e este não é um critério aceitável em política.

Por outro lado, também não me parece que haja grande espaço para contestar a natural subida de Santana Lopes à liderança do seu partido; não sou militante, nem sequer simpatizante, do PSD, mas presumo que se trate de um partido com estatutos - e parece-me lógico calcular que esses estatutos refiram que, em caso de impossibilidade de continuidade em funções por parte do seu presidente, este seja substituído, em sede de Conselho Nacional, pelo seu vice. So, what's the big deal?

P.S.: Mas confesso que me daria um gozo perverso ver o país em eleições antecipadas, só para ver o tamanho dos sapos que Sócrates, Soares júnior ou Lamego teriam que engolir, ao manifestar o seu incondicional apoio a Ferro.

Como eu gosto do Euro 2004!

Graças a ele, ontem, à hora a que se disputava o jogo Portugal-Holanda, consegui encontrar um lugar onde jantar, sem televisões por perto e praticamente vazio. Ainda conseguia ouvir a ladaínha longínqua de um relato, e adivinhava os golos da nossa equipa através de rumores abafados, mas o saldo final da refeição foi calmo.

Depois, de regresso ao hotel, e graças ao barulho que os adeptos faziam na rua, não consegui adormecer cedo e acabei por aproveitar para ler "de uma penada" dois livros que tinha comprado umas horas antes: "Linguagem Seinfeld", de Jerry Seinfeld, e "A insubmissa", de António Modesto Navarro, uma boa surpresa. Nada disto teria sido possível sem o Euro 2004!

Podem começar então a desancar-me; podem-me chamar de snob, de intelectual "da treta", podem até ter pena de mim - sentimento que agradeço mas dispenso. Só não admito que me acusem de pouco patriotismo.

Vamos lá a ver se nos entendemos: teria tanto gosto em que fosse a nossa selecção a vencer este campeonato como qualquer outro português - só não consigo partilhar da euforia e quase histeria que tomou conta desta gente, a propósito de algo que não é mais do que um desporto. No dia em que o Estado gastar pelo menos 1% do que se gasta com o futebol com outras modalidades em que existem tantos jovens talentos sem possibilidades de mostrar o que valem - e, assim de repente, e com algum conhecimento de causa, lembro-me dos desportos motorizados, incluindo a motonáutica, em que o meu grande amigo Duarte Benavente anda a disputar o Campeonato Mundial de Fórmula 1 com excelentes resultados, do ténis ou do BTT - no dia em que as visões se tornarem abrangentes, dizia, e quem de direito perceber que desporto não é só futebol, nesse dia talvez alguém me veja entusiasmado com um simples jogo de bola - antes não!

Falem-me em "fenómeno de massas", e eu respondo: acham sadio andar a acicatar rivalidades e até ódios contra povos amigos, a desejar humilhá-los através de golos? Não percebem que todo esse sentimento contraria a essência do conceito de desporto? "Aljubarrota", professor Marcelo? Por amor de Deus!

2004/06/29

First things first!

O país vive tempos de instabilidade, e todos os portugueses estão ansiosos por importantes decisões que se tomarão por estes dias, e das quais pode estar dependente o seu futuro.

Estará o povo luso suspenso das palavras de Jorge Sampaio, sobre qual a solução governativa por que optará? Não, caros ingénuos - do resultado do jogo Portugal-Holanda!

2004/06/27

Ego inchado

Desculpem lá a imodéstia, mas ontem, na primeira saída semi-desportiva do meu Alfa Romeo 1750 berlina, o tal de 1972, ganhei o Rally Cidade de Almada acompanhado pelo meu amigo P. - e não, não era só um concorrente!

Ideias

E, de repente, toda a gente desata a criticar Durão Barroso pela sua opção de aceitar o cargo de Presidente da Comissão Europeia; mesmo quem não votou no homem e nunca gostou dele, fala agora de "traição", de "fuga", ou de "abandono dos portugueses", suspirando antecipadamente pela sua ida.

Mas vamos por partes:

1. Não me parece que o lugar agora proposto ao nosso Primeiro seja assim tão insignificante que não fosse importante para um país ter nele um seu representante. E esta, parece-me, é uma questão supra partidária - aliás, o próprio Durão Barroso mostrou ter esse entendimento do assunto ao apoiar, numa fase prévia, a putativa candidatura de António Vitorino ao cargo, isto antes de o seu próprio nome ser sequer uma hipótese.

2. Não há "abandono", ou "fuga" comparável áquela protagonizada por Guterres em 2001. Por um lado, não há queda do Governo, nem os partidos que o compõem pretendem eleições intercalares, ao contrário do PS naquela altura, que assumiu tacitamente a sua incapacidade para governar este país. Por outro lado, é natural que as políticas preconizadas por Barroso para a recuperação económica deste país sejam seguidas pelos seus sucessores - e afinal, votamos em ideias políticas ou em pessoas mais ou menos cativantes? (A resposta a esta última questão não será líquida para muita gente; vide a quantidade de pessoas que vota no BE, seduzidas pelo nouveau chic, sem terem sequer um lampejo das suas ideias, encostadas ao radicalismo de esquerda)

3. Na sequência do que escrevi acima, é de referir que os argumentos contra Santana Lopes também são pouco menos que risíveis: ou "não se gosta porque é engatatão", ou "porque bebe copos", ou "porque tem ar de gigolo" - em suma, por todos os motivos, menos pelas políticas que pode vir a apresentar para o nosso país, e que deveriam ser, em primeiríssima análise, o pincipal motivo pelo qual elegemos quem nos dirija. De resto, e ainda que isso possa parecer estranho a alguns, nas eleições legislativas não votamos em pessoas para constituir o governo, mas sim para exercerem cargos de deputados; depois de contabilizados os votos, o Presidente da República convida então o líder do partido mais votado a formar governo, podendo este (o governo) incluir ou não o nome do seu líder.

A personalização da política, o ataque à pessoa e não ao seu programa, costumam ser uma táctica recorrente da esquerda deste país - os "modernos" bloquistas deram o tom, a coisa pegou, e aí vão os socialistas encantados atrás do comboio. Só tenho pena de ver gente de centro e direita a afinar pelo mesmo diapasão. Mas pobres de espírito, oportunistas e abutres há-os em todos os quadrantes, é verdade.