2004/04/03

Primeiro de Abril aprés la lettre

Ainda bem que acabei por não colocar aqui nenhuma mentirinha de primeiro de Abril; é que a aldrabice que eu tinha engendrada era anunciar o fim definitivo deste blog - eu, e metade da blogosfera, pelos vistos!

2004/04/01

Inseguranças

Por vezes há coisas assim: a solidão de um quarto de hotel torna-se difícil de suportar, e nada melhor que uma leitura para ajudar a passar as horas mortas longe de tudo (sim, já sei que há quem ache que há coisas melhores para fazer num quarto de hotel, mas este é um blog sério).

Numas breves incursões pela Bertrand lá do sítio, já por diversas vezes a minha atenção tinha ficado presa num volume azul, de capa muito do tipo easy reading, intitulado "Pai ao Domingo", e assinado por Claire Calman, uma ilustre inglesa desconhecida - pelo menos para mim. Já tinha lido até a badana do calhamaço, mas algo de púdico impedia-me sempre de o comprar; medo de ser "qualquer-coisa-do-tipo-Margarida-Rebelo-Pinto".

Mas ontem, num acesso de coragem, li as primeiras páginas ainda na livraria, e comprei o volume; em boa hora o fiz, pois só na primeira noite cheguei à página 122. Afinal a escrita está muito mais perto desta nova geração de escritores ingleses - como Nick Hornby ou Martin Amis - e a história... Bem, a história é simplesmente fascinante, sendo deliciosamente divertida ao mesmo tempo. Não vou adiantar grande coisa sobre o enredo, mas penso que não estragarei o prazer de quem vier a ler o livro posteriormente à leitura deste post, se revelar que o tema subjacente a toda a narrativa (pelo menos até onde li), tem a ver com inseguranças - mais concretamente, a insegurança que nós, adultos, sentimos face a tudo o que nos rodeia; a forma como, de repente, e sem aviso prévio, nos tornámos "crescidos", e nos é pedido e esperado que nos portemos como "crescidos".

E, no entanto, continuamos a sentir-nos crianças inseguras, apenas com a diferença de que já não temos quem olhe por nós; olhamos ao espelho e não notamos grandes diferenças entre a pessoa que somos e aquela que costumava arranjar-se para ir à discoteca, ou às festas de garagem.

Fomos nós que mudámos, ou foi o mundo que andou demasiado depressa?

Nota: Ainda sobre este tópico, se bem que abordado de forma diferente, não deixem também de ler um excelente artigo de Pedro Boucherie Mendes publicado na revista "Maxmen" deste mês.

2004/03/31

Neura

Sozinho desde domingo na Praia da Rocha, trabalho a correr mal, colaboradores insubordinados, ingleses bêbedos que batem as portas do hotel a noite toda, tristezas, ansiedades, chatices e, ainda por cima, más notícias lá de cima.

Bolas!

2004/03/29

Non sense

- Estás a ver, Lourenço, a Patrícia tem um Mini.
- E eu tenho um Mickey!

(este puto é um espectáculo)

2004/03/28

O que diria Freud disto?

Uma das minhas infantilidades preferidas consiste em imaginar momentos especiais que eu gostaria que acontecessem, e saboreá-los antecipadamente, sejam eles mais ou menos utópicos. Um dos mais recorrentes desses momentos é aquele em que eu soube há pouco que tinha ganho sozinho o Totoloto (ou que me tinha falecido uma tia americana rica, não interessa), e ligo para a sede da empresa numa segunda-feira, a meio da tarde:

"Estou, doutor? Sabe, nem sei como lhe hei-de dizer isto, mas lembra-se daqueles relatórios urgentes que me pediu para lhe enviar sem falta esta manhã? Pois, esses mesmo. Pois, o que se passa é que..."

Em vez disso, daqui a alguns minutos vou fechar o computador, comer qualquer coisa rápida (estou em dieta, lembram-se?), meter-me no carro e fazer quase 300 quilómetros, para amanhã às nove horas comparecer a uma reunião.

Poesia minimalista

E agora, já que outros não se decidem, vou escrever o mais depurado poema da blogosfera (e vou escrevê-lo porque posso, claro):

Tu!

O problema deste poema é que não lhe posso pôr um título, pois qualquer um que eu escolhesse seria sempre maior do que o próprio poema.

Listas


O Fernando tem andado a intercalar na sua escrita posts com o título genérico "12 discos da minha vida", normalmente seguido de um ordinal e do título de um álbum. Num divertidíssimo livro que li há pouco, "Alta fidelidade", de Nick Hornby, o protagonista, um fulano imaturo chamado Rob Flemming, passa toda a narrativa a fazer listas das "cinco-mais-quaisquer-coisas" da sua vida - aliás, o romance começa logo por nos apresentar "as minhas (dele) cinco namoradas mais memoráveis de todos os tempos", e segue com os melhores álbuns, as melhores músicas de soul, as melhores indies, etc., etc.

A ideia é tentadora, e acho que todos temos uma certa tendência para classificar de alguma forma, numa escala qualitativa, tudo aquilo com que contactamos de uma forma ou de outra nas nossas vidas; mas, por outro lado, existe sempre o risco de, ao elaborarmos essas listas, esquecermos algo ou alguém que merecia integrá-la (e Rob Flemming vivia deliciosamente atormentado com isso).

Mas, malgré tout, e voltando à interessante ideia do Fernando, leio a certa altura, a respeito do genial "Achtung Baby", dos U2, qualquer coisa como: "é um disco que se ouve do princípio ao fim, sem sentirmos a necessidade de saltar músicas". Isto fez-me tocar uma campainha cá dentro - a mim, que sou um compulsivo saltador de músicas, para grande irritação da Lu - e levou-me a pensar: existirão discos que eu consiga ouvir do princípio ao fim, sem sentir a tentação de avançar uma faixa?

Pensei, pensei, e mesmo correndo o risco acima aludido de me esquecer de algum, descobri que existem até muitos: para além do bem citado "Achtung Baby", também "The unforgettable fire" dos U2, inevitavelmente "London calling" dos The Clash, "Dog man star" dos Suede, "Knife" dos Aztec Camera, "Fold your hands child you walk like a peasant" dos Belle & Sebastian, qualquer um dos Portishead e, claro, "Out of season" de Beth Gibbons.

E existem, de certeza, muitos outros de que não me lembro agora; é a injustiça de se fazerem listas, estão a ver?

Nota: Já agora, gostava de saber a vossa opinião a este respeito; se tiver adesão, vou pensar em fazer regularmente uns questionários "cinco +", à Rob Flemming. Para já digam-me lá quais são, em vossa opinião, os cinco álbuns que se conseguem ouvir do princípio ao fim sem interrupções ou quebras de qualidade.

W.C.

Existe, desde há muito tempo, uma dúvida existencial que me atormenta o espírito - e, tanto quanto penso, esse mistério é extensivo a todos os seres do género masculino que conheço. É por isso, meninas, que aproveitando o relativo anonimato que estas coisas proporcionam, vos peço encarecidamente que me esclareçam sobre o seguinte:

Porque é que as mulheres vão sempre acompanhadas à casa de banho em lugares públicos? O que é que se passa, do que é que falam, nessas obscuras reuniões?

Eu, e mais alguns milhões de homens, agradecemos penhoradamente todas as respostas.