2008/07/31

Lugares #17


Cernache do Bonjardim, esta manhã.

2008/07/29

O Céu pode esperar!


É minha sina, está visto, gostar daquilo a quem toda a gente gosta de vaticinar a morte próxima. É assim na política, há quase trinta anos (25 de militância) sempre a ouvir que o meu partido vai desaparecer nas próximas eleições. É assim, também, no futebol: sócio há poucos anos do Vitória, mas seu adepto há muito, foi com agrado que soube do "fumo branco" que espantou abutres e outras aves agoirentas que (outra vez) profetizavam o apocalipse do clube. Luís Lourenço é um homem de Setúbal, um vitoriano e, apesar de não ser o fundamental, amigo íntimo de José Mourinho, o "Zé Mário", para quem com ele partilhou a geração e os lugares de Setúbal e da Arrábida. Pode não querer dizer nada, eu sei, até porque nem "creo en brujas", mas no futebol, como na política, normalmente o que parece, é. E amanhã lá estarei, no lugar do costume, a ver o jogo com o Belenenses.

Como dizia um anúncio televisivo, "grandes para quê"?

2008/07/28

Toca a todos!

Irónicas, as coisas; ainda de manhã falava sobre problemas de carácter e de postura em forças partidárias opostas à minha, e eis que ao almoço voz amiga me alerta para as notícias, que dão conta da próxima desfiliação de cerca de trinta pessoas, no partido e no distrito em que tenho responsabilidades dirigentes. Conhececendo as pessoas envolvidas, não posso dizer que tenha sido grande a minha admiração; fiquei, outrosim, admirado com a dimensão da manobra, já que os seus promotores afirmavam, há já algum tempo, que seriam 120, no mínimo, os dissidentes nesta acção, que se queria mediática. Mas, mais do que dissecar as motivações de quem dizia professar determinada ideologia, e que no momento a seguir assume estratégias para atingir o único partido que as defende, interessa personalizar um pouco o caso, pois só assim poderemos perceber o que está, realmente, em causa.

Carlos Dantas, último presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal, que cessou funções em Abril, e meu amigo pessoal, não obstante profundas discordâncias que com ele mantenho no campo partidário, declarou aos media que «não compreendo que não haja rotatividade dos deputados do CDS/PP na Assembleia da República, tal como acontece com o Bloco de Esquerda». Deixando de lado a embaraçosa comparação com o Bloco (pelos vistos, isto é guerra em que não se pugna pela seriedade da argumentação), faltou dizer que Setúbal elegeu um deputado, o meu querido amigo Nuno Magalhães, e que o segundo na lista era precisamente o Dr. Carlos Dantas. Em aritmética simples, a rotatividade anunciada apenas iria beneficiar directamente o reclamante, ficando por provar os benefícios que tal pudesse trazer aos militantes ou à população do distrito.

Existem mais declarações avulsas, todas elas resumíveis no descontentamento com a ausência de colocações para boys e girls (não é só na canção dos Blur ou nos outros partidos que os há) de Setúbal e arredores nos lugares a que se acham com direito. No entanto, e salvo a existência de eventuais raras excepções (não sei exactamente quem são estes trinta, e duvido que a maior parte deles tenha alguma vez estado presente para o partido em mais do que um jantar de campanha), é curioso notar a desfaçatez de quem assim reclama direitos, sem ter cumprido, já não digo deveres, mas as mais elementares noções de lealdade. Com efeito, as pessoas que agora se queixam, votaram contra Telmo Correia e a favor de Ribeiro e Castro, numa recente divisão do partido, e com isso alcandoraram-se a lugares de relevo na direcção do penúltimo líder. Mais, patearam, e vi-o eu com os meus olhos, intervenções de quem defendia a candidatura de Telmo, como mais tarde o fizeram, em Torres Novas, a quem era adepto da moção de João Almeida. Para os mais distraídos, isto significa que estiveram sistematicamente contra as candidaturas mais próximas de Paulo Portas, pelo menos enquanto Ribeiro e Castro parecia manter o controle do partido. No entanto, quando Portas anunciou a sua intenção de desafiar Ribeiro e Castro em directas, e se percebeu que o partido iria mudar, em três tempos (tantos quantos o galo cantou) renegaram Castro e passaram a anunciar, a quem os quisesse ouvir, a sua devoção a Portas desde o berço. Foi ingenuidade, pensarão agora, pensar que ninguém teria reparado no seu sinuoso percurso, e que este desapareceria por artes mágicas; mas houve outros, que fizeram a travessia do deserto com o partido, e que esperavam também o momento da justiça, e esses mostraram aos agora demissionários o quão perigoso é acreditarmos única e exclusivamente na nossa inteligência, subestimando a alheia.

Como corolário, soube, de forma privada, que muitos desses demissionários não pretendem afastar-se da política, equacionando alguns a filiação no PSD, e outros até no PS - ou seja, de forma cínica, em partidos que podem mais facilmente garantir lugares do que um partido pequeno, mas de ideais, como o CDS. So much para as ideologias. Mas ainda alguém acreditava em almoços grátis?

P.S.: Depois de escrever o desabafo supra, pesquisei um pouco mais na net para tentar perceber o que afinal não tem muito que perceber, e deparei com nova notícia sobre o assunto, desta vez no "Diário Digital": nesta, Tiago Cabanas Alves, um jovem barreirense com uma carreira tão curta como meteórica dentro do partido, ainda que com alguns sobressaltos, possivelmente fruto da juventude e inexperiência, faz-nos o favor de "anunciar o fim do partido naquele distrito (Setúbal)". Agradecemos, naturalmente, a informação, mas pensamos que ela peca por desconhecimento de causa, desculpável a quem tão superficialmente tocou o partido, e dele saíu com tanta mágoa e desilusão. O partido já cá estava muito antes de chegarem estes novos messias, já sobreviveu a piores ataques (apesar de quem o ataca pensar sempre, na sua imodéstia, que o feriu de morte), e certamente sobreviverá, mesmo a nível local, a algo que dificilmente poderá ser condiderado algo mais do que um mero amuo. Menos surpreendido fiquei com a admissão de que "alguns dos demissionários possam aderir a outros partidos no futuro". A previsibilidade desta gente é algo de absolutamente tocante.

"O Zé (ainda) faz falta(?)"

É algo dramático, mas quando acontece a quem mostrou tanta arrogância e sobranceria, dá vontade de rir bem alto. Como quando um tipo armado em "pintas" pisa uma casca de banana.

Depois de andarem a apregoar aos sete ventos que José Sá Fernandes, um desses irmãos em que a vontade de protagonismo está anos luz à frente das suas capacidades efectivas, "fazia falta" à cidade de Lisboa, eis agora que o dito acha que "faz mais falta" ao PS do que aos bloquistas que lá o puseram. E, além disso, deve achar que "faz mais falta" à sua conta bancária a garantia de surgir em 2009 como candidato a uma qualquer Câmara Metropolitana pelos sociaistas, do que a insegurança de voltar a concorrer por um BE que, depois do fogacho, inicia agora a sua curva descendente. Por enquanto o tom do BE é contido, para não passarem pela vergonha de se assumir como parte traída, com a humilhação inerente, mas as explicações de JSF para os seus ternos convívios com os seus novos amiguinhos do Rato são para lá de caricatas. Por exemplo, o vereador quase-quase a ficar independente, diz que participou numa reunião da Concelhia do PS, para "ir lá dar contas do meu pelouro". Ou sou eu que ando muito desactualizado, ou as reuniões entre diferentes pelouros, atribuídos a diferentes partidos, fazem-se em sede camarária, seja em reuniões ou assembleias. Excepto, pelos vistos, para JSF, que acha o regaço do PS mais aconchegadinho para explicar - a quem o quiser ouvir - por onde anda a gastar o dinheiro dos lisboetas. O Bloco, qual esposa que não quer acreditar nas evidências, continua a negar que existam divergências, mas dentro de casa vai tentando dar os seus puxões de orelhas a JSF. Mas, como no fado, "eles sabem bem, que ele vai para outra...".

Chá

Curiosa, a forma como toleramos ou não determinadas situações: José Mourinho foi treinar para Itália, e preocupou-se em aprender o italiano suficiente para dar a primeira conferência de imprensa na língua do país para onde emigrou. Recusou, até, falar em português (se bem que não tenha tido o mesmo grau de exigência para com quem o interpelou em inglês), para não confundir o seu italiano recente com outra língua latina. Hoje, no final de um jogo meio "a feijões", em Vila Real de Santo António, vimos (não fui só eu) o novo treinador do Benfica, um fulano bronzeado de olhar esbugalhado, a falar o seu espanhol materno, sem sequer se preocupar em introduzir, de forma educada, algumas expressões em português - e não acredito que não as conheça, assim como qualquer um de nós sabe pelo menos meia dúzia de palavras em castelhano.

Não sou benfiquista, como todos sabem, e por isso não me incomoda minimamente que esta equipa, de orçamento milionário, ande a fazer jogos mais próprios de protagonizar a "Liga dos Últimos". Mas sou português, e acho de uma arrogância extrema que este tipo não se dê sequer ao trabalho de simular algum esforço. Decerto, se fosse benfiquista, queixar-me-ia a quem de direito pela falta de educação. Mas, como não sou, fico a apreciar o profissionalismo e inteligência de Mourinho, por oposição ao seu colega acima citado, e a orgulhar-me de que ele seja um português de Setúbal.