2005/04/29

Dualidade

Sempre que participo numa prova de todo-o-terreno experimento sentimentos contraditórios: até cerca de metade do percurso vou a rezar para que o carro perca uma roda, ou coisa do género, para acabar aquele martírio de saltos e pó. Daí para a frente, e já que nos estamos a aproximar do fim, peço por tudo para que a viatura aguente mais uns quilómetrozecos, para sentirmos a gratificação do pódio final.

Não sei como é que fui cair nisto de novo, mas sexta feira, dia 6 de Maio, lá me apresentarei de novo no Estoril, preparado (estarei?) para cumprir os mais de 1000 quilómetros em pistas de terra de Portugal e Espanha, mais os 600 quilómetros de ligação, que irão constituir o percurso da Baja Vodafone 1000 deste ano. Nunca hei-de aprender.

2005/04/26

Surrealismo

Cenário: rua de Setúbal, onze da noite, à porta de um restaurante, o carro não pega nem por nada. Chamo o serviço de assistência do ACP, e apresenta-se um rapaz muito jovem, prestável e bastante educado mas que, infelizmente, percebia ainda menos de mecânica do que eu.

Rapaz - Bom, não sei o que se passa com o seu carro. O mais que eu posso fazer é rebocá-lo para uma oficina à sua escolha.
Eu - Acha que a Renault aqui de Setúbal aceita carros durante a noite?
Rapaz - Sim, está lá um segurança que abre as portas e amanhã de manhã o senhor só tem que lá ir e explicar o que se passa.
Eu - Óptimo, mas entretanto como é que vou para casa?
Rapaz - Não há problema; o ACP paga-lhe também um táxi até casa. Está incluido na assistência. Vou já ligar a pedir um táxi (O rapaz liga um número no telemóvel, espera um pouco, e depois começa a falar com um interlocutor). Sim? Fala fulano, da Companhia de Reboques não sei quantos. Estou aqui a fazer o serviço que me pediram, mas o carro não trabalha e vai ter que ficar em Setúbal. Era para pedir um táxi para o sócio ir para casa. Como? (depois para mim) Onde é que mora?
Eu - Na Quinta do Anjo, perto de Palmela.
Rapaz (para o telemóvel) - Na Quinta do Anjo, perto de Palmela. (Depois de uma pausa, de novo para mim) A quantos quilómetros é que isso fica daqui?
Eu - Não sei; talvez uns quinze...
Rapaz (de novo para o telemóvel) - A cerca de quinze. Como? Se calhar é melhor falarem os senhores com o cliente. (E para mim) Fale lá com eles, que eles dizem que só pagam táxi se estiver a mais de vinte quilómetros de casa.
Eu - Como? (E aceitando o telemóvel) Estou?
Operador do ACP em off - Boa noite.
Eu - Boa noite; penso que aqui o senhor do reboque já lhe explicou o que se passa...
Operador do ACP - Sim, mas tenho que o informar que no contrato de prestação de serviços que o senhor assinou está lá escrito que só tem direito a transporte para casa se se encontrar a mais de vinte quilómetros.
Eu - Bom, eu disse quinze, mas não sei bem a quantos quilómetros estou. Provavelmente até são vinte.
Operador do ACP - Não sabe a quantos quilómetros está da sua casa?
Eu - Não; devia saber?
Operador do ACP (ignorando a minha pergunta feita em tom irónico e já levemente irritado) - Onde é que o senhor mora?
Eu - Na Quinta do Anjo.
Operador do ACP - Só um momento, não desligue, que eu vou verificar a distância aqui no computador (segue-se música). Sim, senhor Aldino? Obrigado por ter esperado. Sabe, eu estive a ver a distância aqui no computador e, na verdade, não é nada parecida com a que o senhor afirmou.
Eu - Não?
Operador do ACP - Não; aqui no computador diz que entre a Quinta do Anjo e Setúbal distam exactamente treze vírgula nove quilómetros.
Eu - Bom, eu disse quinze, não me parece grande a diferença...
Operador do ACP - Pois, mas nestas condições não lhe podemos fornecer transporte para casa. Só se...
Eu - ...se estiver a mais de vinte quilómetros, já ouvi. Mas acha que isso tem alguma lógica, pagarem as deslocações grandes e não as pequenas?
Operador do ACP (depois de uma pausa para pensar) - O senhor devia ter lido o contrato de assistência.
Eu - Pois, mas não li, e nada disto me parece fazer sentido. Como é que o senhor acha que eu vou agora para casa, noutra localidade?
Operador do ACP - Só um momento, por favor (mais música). Estou? Obrigado por ter esperado. Caro senhor Aldino, tenho aqui uma colega que lhe vai confirmar o que lhe disse.
Eu - Uma colega?
Operadora do ACP (chamada em conferência) - Boa noite.
Eu - Boa noite...
Operadora do ACP - Caro senhor, acabei de verificar no meu computador que a distância entre Setúbal e a Quinta do Anjo é de treze vírgula nove quilómetros.
Eu - O seu colega chamou-a só para me dizer isso? Mas ele já mo tinha dito.
Operadora do ACP - Pois, mas infelizmente nessa situação o senhor não tem direito a transporte para casa.
Operador do ACP - Pois, vê?
Eu - Desculpem lá mas isto parece-me tudo um perfeito disparate. Então vocês acham normal que o ACP pague as viagens mais caras e não pague as teoricamente mais baratas?
Operadora do ACP - O senhor devia ter lido o contrato de assistência.
Eu - Está bem, mas não li; agora o que pergunto é o seguinte: eu estou numa cidade onde poderei recorrer a alguém para me levar a casa, mas se estivesse numa estrada deserta, às três da manhã, o meu carro se avariasse a dezanove quilómetros de casa, o reboque o levasse para uma oficina na direcção oposta, o que me restaria fazer? Andar dezanove quilómetros a pé?
Operadora do ACP (depois de pensar durante alguns momentos) - O senhor devia ter lido o contrato de assistência.
Eu - Bom, não interessa; vou chamar alguém que me leve a casa. Boa noite.
Operador do ACP - Há mais alguma coisa que possamos fazer por si, senhor Aldino?

Balanço do fim de semana

Estive num aniversário com pessoas de quem gosto, fui a um congresso mal contado, li "(o melhor das) Comédias da vida privada" de Luis Fernando Veríssimo, vi alguém de quem tinha saudades, adiei algo que não posso contar (porque é ilegal), e jantei no Portinho com a melhor das companhias que, de resto, esteve comigo durante quase todo o fim de semana. Acho que correu bem.