A vida, as suas condições, parecem-nos coisas estáveis, que não mudam, com as quais podemos contar sempre, mas de vez em quando algo nos diz que o tempo passa, e que nada se pode tomar como certo. A morte de quem nos é querido vem-nos sempre esbofetear para que acordemos e percebamos que as coisas mudam e as oportunidades perdem-se - a oportunidade de dizer algo, a oportunidade de um gesto que sempre adiámos porque pensávamos que teríamos muitas mais ocasiões de o fazer.
Mas há coisas mais simples, menos dolorosas, que, à sua maneira, também nos vão fazendo sentir que há pedacinhos de nós a desaparecer. Todos sentimos isso já uma vez ou outra na vida: o encerramento e desmantelamento, por estúpidas tricas políticas, do bar da Tia Luz, no Carvalhal, Zambujeira do Mar, é apenas um exemplo de como de repente, e sem aviso prévio, alguém nos tira um bocadinho de chão de debaixo dos pés.
Agora outra notícia triste me chega: a livraria da Assírio e Alvim que existia na cave do Cinema King fechou as portas por falta de rentabilidade. Quem me deu a notícia diz que parece que as pessoas gostavam muito de folhear os livros antes dos filmes, mas raramente os compravam. Desolado, respondi que esse era um dos motivos que me levavam a achar o King um dos melhores cinemas lisboetas, e que praticamente de todas as vezes em que lá ia não conseguia resistir à tentação e acabava por exceder frequentemente o orçamento disponível. Pois, responderam-me, mas nem todos compravam os livros. Ingénuo de mim, que acreditava que aquele era um espaço de grande sucesso comercial.
Hoje irei lá ver "Volver", se Deus quiser, mas já me preparei para o choque de ver aquela porta encerrada, se bem que cá no fundo ainda luza uma esperança ínfima de que quem me deu a notícia se tenha enganado, que tenha sido apenas um encerramento para férias ou remodelações...
Update: Afinal as portas não estão fechadas; é necessário passar pelo espaço onde funcionava a livraria para se aceder à cafetaria, lá ao fundo. Mas a visão daquelas prateleiras vazias ainda é pior do que se nos barrassem a passagem, parece-me - como olhar para o sítio onde estava o bar do Carvalhal. E "Volver" é excelente, mas vindo de Pedro Almodôvar isso não é novidade, pois não?
Algarve, 1985
Há 1 hora
4 comentários:
Al,
chega de coisas tristes,Homem!
Estamos todos a precisar é de algo que nos deixe bem dispostos, e olha que tu agora não te podes queixar...
Anda lá mas é comer a cabeça do "dito" e fazer a carta ao "Pai Natal" a pedir o "burro".
Um abraço
AN
Por acaso agora disseste umas coisas acertadas, Armindo - não é que das outras vezes digas asneiras, mas essa do "burro", apesar de ser ainda apenas uma hipótese remota, tem que ser muito bem explorada. Já a cabeça do outro bicho é uma hipótese bem mais próxima e adequada para estes dias de Outono que se aproximam. Deixa-me lá voltar às Brotas por estes dias que eu depois conto-te uma história!
Aquele abraço
Meu Caro Al,
Para além de ter visto no Rali Casinos do Algarve, nunca mais soube nada de ti, e o Blog, está mesmo parado...
Espero, pelo menos, que a tua vida continue “melhor que nunca”.
Para e ti, para o AN e para todos os que por aqui passam, um bom ano de 2007 com muito saúde, alegria, felicidade e sucesso.
(com ou sem burro). ;-)
Grande abraço
ECA
Afinal há "burro"...
Parabéns AN!
O meu problema é que me esqueci de escrever a carta ao pai natal. Parece que funciona. ;-)
Abraço e bom ano
ECA
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