Há dias lia numa crónica de João Bénard da Costa que, muitas vezes, não somos nós que encontramos os livros, mas sim eles, livros, que nos encontram. Certíssimo, como sempre.
Há mais de um ano, no aeroporto de Recife, aguardando o embarque para um voo transatlântico de muitas horas e com o stock de leituras que havia levado de cá já completamente lido, entrei numa livraria. Como livro do dia, "64 contos" de Rubem Fonseca, um calhamaço de mais de 800 páginas, aspecto algo tosco, mas que, contudo, se riu para mim. Comprei-o, claro. As referências que tinha de Rubem Fonseca eram praticamente nulas, confesso, mas durante o voo deu para inverter radicalmente essa situação. Aeroporto de Lisboa, trâmites alfandegários, o livro vai para o porão de um saco de mão, o saco que normalmente uso em viagens profissionais, e começa a "ganhar cama" lá no fundo, maioritariamente por preguiça. Nos hotéis nacionais, quando conseguia chegar mais cedo ao quarto, ainda o resgatava ao seu refúgio, mas o cansaço não me permitia ler mais que quatro ou cinco páginas avulsas, sem tempo, portanto, para tomar o gosto (melhor diria relembrar) ao seu esplendor.
E eis que chegam os últimos dias, catadupas de acontecimentos, e de repente disponho de mais algum tempo para ler. Os contos lá continuavam, a olhar para mim - e fizeram bem nessa persistência, pois as tais 800 páginas parecem agora 8, de tão depressa que se estão a passar!
Que crueza, que realismo, e, ao mesmo tempo, que mistério, que beleza. O Brasil deve ter mais a ver com isto, acho eu.
2006/02/17
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