A vida, as suas condições, parecem-nos coisas estáveis, que não mudam, com as quais podemos contar sempre, mas de vez em quando algo nos diz que o tempo passa, e que nada se pode tomar como certo. A morte de quem nos é querido vem-nos sempre esbofetear para que acordemos e percebamos que as coisas mudam e as oportunidades perdem-se - a oportunidade de dizer algo, a oportunidade de um gesto que sempre adiámos porque pensávamos que teríamos muitas mais ocasiões de o fazer.
Mas há coisas mais simples, menos dolorosas, que, à sua maneira, também nos vão fazendo sentir que há pedacinhos de nós a desaparecer. Todos sentimos isso já uma vez ou outra na vida: o encerramento e desmantelamento, por estúpidas tricas políticas, do bar da Tia Luz, no Carvalhal, Zambujeira do Mar, é apenas um exemplo de como de repente, e sem aviso prévio, alguém nos tira um bocadinho de chão de debaixo dos pés.
Agora outra notícia triste me chega: a livraria da Assírio e Alvim que existia na cave do Cinema King fechou as portas por falta de rentabilidade. Quem me deu a notícia diz que parece que as pessoas gostavam muito de folhear os livros antes dos filmes, mas raramente os compravam. Desolado, respondi que esse era um dos motivos que me levavam a achar o King um dos melhores cinemas lisboetas, e que praticamente de todas as vezes em que lá ia não conseguia resistir à tentação e acabava por exceder frequentemente o orçamento disponível. Pois, responderam-me, mas nem todos compravam os livros. Ingénuo de mim, que acreditava que aquele era um espaço de grande sucesso comercial.
Hoje irei lá ver "Volver", se Deus quiser, mas já me preparei para o choque de ver aquela porta encerrada, se bem que cá no fundo ainda luza uma esperança ínfima de que quem me deu a notícia se tenha enganado, que tenha sido apenas um encerramento para férias ou remodelações...
Update: Afinal as portas não estão fechadas; é necessário passar pelo espaço onde funcionava a livraria para se aceder à cafetaria, lá ao fundo. Mas a visão daquelas prateleiras vazias ainda é pior do que se nos barrassem a passagem, parece-me - como olhar para o sítio onde estava o bar do Carvalhal. E "Volver" é excelente, mas vindo de Pedro Almodôvar isso não é novidade, pois não?
2006/09/21
2006/09/19
Agradecimento
Eu sei, vocês têm razão: a euforia dos acontecimentos recentes na minha vida tornou-me desleixado com este blog, e ele (o blog) não merece, nem tampouco os meus 2,7 leitores. Há muita coisa sobre a qual me apetece falar ou escrever, desde a situação interna do meu partido de sempre, ao péssimo início de temporada do meu clube, o Vitória de Setúbal (que hoje já vai ganhar, espero). Há também notícias lindas sobre o Lourenço, as crónicas sobre a Arrábida de João Bénard da Costa, o regresso aos ralis, os toiros em Espanha, entre muitas outras coisas e, evidentemente, a minha situação pessoal, que não será objecto de grandes aprofundamentos públicos, mas que - isto não é segredo - está melhor do que nunca.
Prometo um regresso rápido a partir de agora, está bem? Desculpem o hiato, e obrigado por terem mantido esta consulta nos vossos hábitos. Espero que nunca se arrependam.
Prometo um regresso rápido a partir de agora, está bem? Desculpem o hiato, e obrigado por terem mantido esta consulta nos vossos hábitos. Espero que nunca se arrependam.
2006/08/07
2006/07/23
Há males que vêm por bem!
Na semana passada pensei que o meu programa cultural para esta semana bem que poderia passar por um reencontro com David Gahan y sus muchachos na próxima sexta-feira, em Alvalade. Não estava completamente convencido, não só porque seria a terceira vez que veria a banda - e a segunda no espaço de alguns meses - mas principalmente porque começo a ficar um bocadinho farto destes espaços demasiado grandes, cheios de gente com idade para serem meus filhos, e tudo numa noite que podia revelar-se de sauna. A única coisa que mantinha a minha decisão pendente era apenas o gosto que teria em reouvir ao vivo "Enjoy the silence" e "It´s just a question of time", mas os rapazes, ou os seus promotores em Portugal, fizeram o favor de decidir por mim ao cancelar o concerto, e assim pouparam-me provavelmente a uma noite demasiado agitada para alguns cabelos brancos que me começam a despontar.
Posta de parte a hipótese Depeche Mode, surgiu-me de imediato nova opção de concerto para o mesmo dia. O meu Lourenço descobriu que os D'zrt iriam actuar na mesma sexta-feira no espaço da Feira de Santiago, em Setúbal. Novamente apenas havia um único argumento a favor da comparência, mas era um argumento que facilmente se superiorizava a qualquer outro: a felicidade do Lourenço. Quero lá saber que a feira tenha perdido o carisma de outros tempos, de quando era na Avenida Luísa Todi, desterrada que foi para lugares da cidade do Sado que mal conhecia. Não me interessa também que os sons emitidos pelos imberbes actores se situe bem abaixo de medíocre numa hipotética escala qualitativa. Tampouco me importaria o convívio com alguns milhares de teenagers em delírio, desde que com isso pudesse satisfazer o ainda pouco ambicioso gosto cultural do meu filho. Mas de novo houve quem decidisse por mim: os avós do petiz irão resgatá-lo já quarta-feira para umas férias a quatrocentos quilómetros daqui, junto ao Douro, e agora a minha dúvida reside apenas em saber se serei capaz de aguentar mais de duas semanas sem o ver, ou se terei que improvisar um raid-relâmpago intercalar para matar saudades.
Mas voltando à agenda cultural desta semana, parece afinal que os deuses se estavam a conluiar para me proporcionar algo bem mais condizente com a minha disposição actual: em viagem recente aos lados do Cabo da Roca recordei, através dos cartazes afixados na marginal, que Ive Mendes actua na próxima quinta-feira no espaço intimista da Cidadela de Cascais. Pode ser que seja agora que algo comece a correr bem na minha vida...
Posta de parte a hipótese Depeche Mode, surgiu-me de imediato nova opção de concerto para o mesmo dia. O meu Lourenço descobriu que os D'zrt iriam actuar na mesma sexta-feira no espaço da Feira de Santiago, em Setúbal. Novamente apenas havia um único argumento a favor da comparência, mas era um argumento que facilmente se superiorizava a qualquer outro: a felicidade do Lourenço. Quero lá saber que a feira tenha perdido o carisma de outros tempos, de quando era na Avenida Luísa Todi, desterrada que foi para lugares da cidade do Sado que mal conhecia. Não me interessa também que os sons emitidos pelos imberbes actores se situe bem abaixo de medíocre numa hipotética escala qualitativa. Tampouco me importaria o convívio com alguns milhares de teenagers em delírio, desde que com isso pudesse satisfazer o ainda pouco ambicioso gosto cultural do meu filho. Mas de novo houve quem decidisse por mim: os avós do petiz irão resgatá-lo já quarta-feira para umas férias a quatrocentos quilómetros daqui, junto ao Douro, e agora a minha dúvida reside apenas em saber se serei capaz de aguentar mais de duas semanas sem o ver, ou se terei que improvisar um raid-relâmpago intercalar para matar saudades.
Mas voltando à agenda cultural desta semana, parece afinal que os deuses se estavam a conluiar para me proporcionar algo bem mais condizente com a minha disposição actual: em viagem recente aos lados do Cabo da Roca recordei, através dos cartazes afixados na marginal, que Ive Mendes actua na próxima quinta-feira no espaço intimista da Cidadela de Cascais. Pode ser que seja agora que algo comece a correr bem na minha vida...
2006/07/18
Que cabeça a minha!
Este blog, que se orgulha de ser dos primeiros do país (desculpem lá a vaidade, mas de alguma coisa me hei-de orgulhar, não?), fez na passada sexta feira, dia 14, três aninhos. Já anda e corre sozinho, já não pede chupeta, e apenas tem algumas dificuldades na articulação das palavras, mas está a melhorar!
2006/07/16
A derreter
Esta altura, como os meus leitores já devem ter notado, não tem sido das mais apropriadas para postar, e vários são os factores que concorrem para alguma apatia:
O calor, desde logo. Calor desumano, passe o trocadilho.
Algum aumento de trabalho, logo agora, e incertezas sobre férias: se as terei, quando, e, se as tiver, o que devo fazer? A Zambujeira chama-me, mas não antes de Setembro... E São Pedro de Moel também me deixou saudades, desde que não volte para o meio dos nove milhões de portugueses que tiram férias em Julho ou Agosto.
E há concertos para ir ver (a propósito, onde é que vocês andavam com a cabeça que deixaram passar uma coisa óptima como os Waterboys só com "meia dúzia" de assistentes?), corridas de automóveis (o Lourenço quer voltar ao autódromo, mas acho que já está a chegar a altura de lhe mostrar the real thing, os ralis!), a decisão se vendo esta casa enorme ou se fico aqui, a mota para ir buscar ao mecânico, só coisas, só coisas...
Desculpem lá o tom confuso, mas... it's more than I can bare!
O calor, desde logo. Calor desumano, passe o trocadilho.
Algum aumento de trabalho, logo agora, e incertezas sobre férias: se as terei, quando, e, se as tiver, o que devo fazer? A Zambujeira chama-me, mas não antes de Setembro... E São Pedro de Moel também me deixou saudades, desde que não volte para o meio dos nove milhões de portugueses que tiram férias em Julho ou Agosto.
E há concertos para ir ver (a propósito, onde é que vocês andavam com a cabeça que deixaram passar uma coisa óptima como os Waterboys só com "meia dúzia" de assistentes?), corridas de automóveis (o Lourenço quer voltar ao autódromo, mas acho que já está a chegar a altura de lhe mostrar the real thing, os ralis!), a decisão se vendo esta casa enorme ou se fico aqui, a mota para ir buscar ao mecânico, só coisas, só coisas...
Desculpem lá o tom confuso, mas... it's more than I can bare!
2006/07/06
On the road again
Soube-se ontem, numa espécie de confirmação dos rumores que já há algum tempo andavam no ar, que o Rally de Portugal vai voltar ao Campeonato Mundial de Ralis já a partir do próximo ano. Uma óptima notícia para os muitos amantes do desporto automóvel, e mais especificamente dos ralis, que existem por este país, dirão talvez os mais desatentos.
Mas as coisas não são bem assim; muita coisa mudou na competição de estrada nos últimos anos e dos difíceis ralis cheios de público disputados nas décadas de 80 e 90, que a maior parte das pessoas lembram, pouco ou nada ficou. O Rally de Portugal que se disputará em 2007 na zona do Algarve é uma competição formatada segundo regras de normalização rígidas, de desenvolvimento mais ou menos asséptico que tanto poderia ter lugar em Portugal como noutra parte do mundo, com a ressalva natural da diferença de paisagens e de estradas. E note-se bem que não estou a falar da forma saudosista como muitos apreciadores, principalmente do norte do país, lamentam o abandono de troços tradicionais do rali, como os das zonas de Arganil ou de Fafe, entre outros. Eu participei em seis edições do rali sentado num carro de competição, e acompanhei muitas outras em equipas de assistência, como jornalista, ou mesmo como mero espectador. Conheço bem a mística de todos os lugares onde estive, sei bem o que é sair de Viseu às quatro da manhã, ver nascer o sol em troços de Arganil com mais de quarenta quilómetros, dormir duas ou três horas por noite, descer para o Confurco a olhar para as dezenas de milhares de pessoas que nos esperam na encosta do outro lado da estrada, ou reencontrar os amigos na chegada ao Estoril. Vivi as lágrimas e as alegrias do rali como poucos e, desculpem-me a imodéstia, sinto-me um privilegiado por isso. Mas sei também que não se vive do passado, e que, neste momento, não existe outro local em Portugal para realizar o rali que não o Algarve, dada a quantidade de infraestruturas logísticas disponíveis, a par com boas estradas de montanha, conjugação única no país.
No entanto, ainda aqui há tempos, em conversa com o meu grande amigo N.R.S., comentava que os ralis de hoje em dia perderam a magia de outros tempos, muito por culpa das organizações, para as quais o público é visto como um empecilho e que, se fosse possível, realizariam as suas provas dentro de pavilhões fechados com transmissão unicamente pela televisão. Com excepção de meia dúzia de credenciados, que perceberão tanto de ralis como de lagares de azeite, o acesso ao contacto com os bólides é controlado de forma quase ditatorial, sejam quais forem as circunstâncias - e não estou a falar de palhaçadas arriscadas no meio da estrada, mas de visitas a assistências, observação dos stops, ou "aquela" curva gira, cujo acesso, no entanto, está vedado cinco quilómetros antes por zelosos agentes da lei. O público conhecedor deixou de interessar, e um rali do Mundial hoje em dia não é um produto para o verdadeiro aficcionado, mas sim para o curioso, que tanto vai ao rali, como ao concerto dos Rolling Stones, como à festa lá da terra, e sempre com o mesmo grau de interesse.
Por isso, e porque assisti aos dois últimos ralis de Portugal como espectador e fiquei indignado com o que vi, garanto-vos desde já que, se não surgir um convite para participar na próxima edição do Rally de Portugal (já agora, aceito propostas), muito dificilmente me verão no sul do país entre 30 de Março e 1 de Abril do próximo ano. Façam bom proveito os que forem.
Lá se foi a taça!
Os comerciantes de móveis de Paços de Ferreira já podem respirar fundo; não ganharam para o susto!
2006/07/03
O apelo
Depois de ler, sem parar sequer para respirar, "As Duas Águas do Mar", do Francisco José Viegas (a propósito, parabéns atrasados pelo prémio APE), é que percebi que a minha vida não estará completa enquanto não for a Finisterra!
Oportunidade única
A falta de visão estratégica do nosso Primeiro Ministro vê-se mais nas oportunidades que deixa escapar do que no (pouco) que faz; com o país de olhos postos no Mundial de Futebol, Sócrates podia aumentar o IVA para 50%, vender o Algarve a uma empresa offshore (com transporte incluído até às instalações do cliente) e até nomear Zézé Camarinha para ministro de qualquer coisa, que ninguém dava por isso.
2006/07/01
Fairplay
A julgar pela reportagem apresentada na versão online do Daily Mirror, escassos minutos após o término da partida dos quartos de final do Mundial de Futebol 2006, que opôs Portugal à Inglaterra, é de supôr que as televisões inglesas não passaram o mesmo jogo que os portugueses viram. Senão, porquê escrever isto?
"But Simao scored the first and Cristiano Ronaldo hit the fifth after Jamie Carragher failed to put England back on terms. The shoot-out was particularly harsh on the Liverpool man, who had been brought on as substitute in the dying minutes of extra time with penalties in mind, as his first effort easily beat Ricardo in the Portugal goal. However, the referee decided he wasn't ready and ordered Carragher to re-take the kick."
(Estará o jornalista, quando diz que "bateu facilmente Ricardo", a referir-se a um penalty que Carragher marcou antes do apito do árbitro, e para o qual Ricardo nem se mexeu?)
E isto?
"Wayne Rooney - alone and upfront for much of the match - was given a straight red card in the 62nd minute as he reacted while being challenged and hacked by three Portuguese players in the centre of the pitch. It felt another harsh decision against England by the Argentinian referee. (...) The most remarkable incident of the second period was Rooney's sending off - not helped by Ronaldo running over to the referee in a blatant attempt to get him to take action against his Manchester United colleague. With the excellent Gary Neville and impeccable Rio Ferdinand also on the pitch, it's hard to see how Ronaldo can be assured a warm reception when he next returns to training at Carrington. If he does. He has said he wants to join Real Madrid - as far as many English fans are concerned (not to mention Manchester United's own) that might not be a bad idea."
(Gostei especialmente da candura com que se diz que Rooney levou um cartão vermelho directo "por ter reagido enquanto estava a ser pressionado por três jogadores portugueses...")
Há mais coisas giras na imprensa inglesa, mas o tom não varia muito. A dôr de cotovelo é uma coisa do arco da velha...
"But Simao scored the first and Cristiano Ronaldo hit the fifth after Jamie Carragher failed to put England back on terms. The shoot-out was particularly harsh on the Liverpool man, who had been brought on as substitute in the dying minutes of extra time with penalties in mind, as his first effort easily beat Ricardo in the Portugal goal. However, the referee decided he wasn't ready and ordered Carragher to re-take the kick."
(Estará o jornalista, quando diz que "bateu facilmente Ricardo", a referir-se a um penalty que Carragher marcou antes do apito do árbitro, e para o qual Ricardo nem se mexeu?)
E isto?
"Wayne Rooney - alone and upfront for much of the match - was given a straight red card in the 62nd minute as he reacted while being challenged and hacked by three Portuguese players in the centre of the pitch. It felt another harsh decision against England by the Argentinian referee. (...) The most remarkable incident of the second period was Rooney's sending off - not helped by Ronaldo running over to the referee in a blatant attempt to get him to take action against his Manchester United colleague. With the excellent Gary Neville and impeccable Rio Ferdinand also on the pitch, it's hard to see how Ronaldo can be assured a warm reception when he next returns to training at Carrington. If he does. He has said he wants to join Real Madrid - as far as many English fans are concerned (not to mention Manchester United's own) that might not be a bad idea."
(Gostei especialmente da candura com que se diz que Rooney levou um cartão vermelho directo "por ter reagido enquanto estava a ser pressionado por três jogadores portugueses...")
Há mais coisas giras na imprensa inglesa, mas o tom não varia muito. A dôr de cotovelo é uma coisa do arco da velha...
2006/06/30
Novidades da medicina:
Diogo Freitas do Amaral apresentou hoje a demissão do cargo que ocupava no Governo devido a problemas na coluna vertebral que, segundo o seu porta-voz, se têm vindo a agravar nos últimos tempos. Duas informações curiosas podemos extrair inequivocamente desta notícia:
Afinal o professor sempre tem coluna vertebral.
O contorcionismo, como já se calculava, é bastante prejudicial à dita.
Afinal o professor sempre tem coluna vertebral.
O contorcionismo, como já se calculava, é bastante prejudicial à dita.
2006/06/28
Dependências
É sabido que nem tudo o que dá prazer nos é permitido; aliás, a maior parte das coisas que sabem bem são proibidas, engordam, ou ambas.
Há muitos anos que não dispensava a compra do jornal "Blitz", mas isto apenas até à altura em que percebi o quão pernicioso esse hábito se andava a tornar para a minha carteira - não pela parca quantia que custava o jornal em si, mas pelas excursões que logo em seguida fazia à FNAC para adquirir CD's que, face à crítica, se apresentavam como simplesmente indispensáveis. São desta fase as minhas "descobertas" de muitas bandas, tais como os Mansun, Mercury Rev, ou, mais recentemente, os Ordinary Boys, Delays ou The Libertines, e isto só para citar alguns. A decisão teve que ser drástica: deixar de comprar o jornal, com apenas algumas recaídas ocasionais, tão frequentes nos viciados. Olhos que não veêm, coração que não sente.
As finanças reorganizaram-se, até ao dia em que apareceram estes tipos a perturbar-me o espírito. Também lhes vou enviar, em breve as facturas referentes a despesas não previstas, se bem que gratificantes. Desta fase recordo, ainda a semana passada, a compra do álbum dos Final Fantasy, com o mentor dos Arcade Fire, cujo nome agora não recordo (e estou demasiado preguiçoso para pesquisas).
Agora a tentação voltou: o Blitz deixou o seu formato de pasquim semanal e passou a apresentar-se numa revista mensal que é impossível não comprar. Tempos difíceis se aproximam. A propósito, sabiam que Richard Hawley (o que eu penei à espera do primeiro CD, "Lowedges") já tem um novo álbum? E que Thom Yorke, dos Radiohead, lançou um álbum a solo? E que Neil Hannon, aka The Divine Comedy, também tem novo trabalho? Ai, ai...
Há muitos anos que não dispensava a compra do jornal "Blitz", mas isto apenas até à altura em que percebi o quão pernicioso esse hábito se andava a tornar para a minha carteira - não pela parca quantia que custava o jornal em si, mas pelas excursões que logo em seguida fazia à FNAC para adquirir CD's que, face à crítica, se apresentavam como simplesmente indispensáveis. São desta fase as minhas "descobertas" de muitas bandas, tais como os Mansun, Mercury Rev, ou, mais recentemente, os Ordinary Boys, Delays ou The Libertines, e isto só para citar alguns. A decisão teve que ser drástica: deixar de comprar o jornal, com apenas algumas recaídas ocasionais, tão frequentes nos viciados. Olhos que não veêm, coração que não sente.
As finanças reorganizaram-se, até ao dia em que apareceram estes tipos a perturbar-me o espírito. Também lhes vou enviar, em breve as facturas referentes a despesas não previstas, se bem que gratificantes. Desta fase recordo, ainda a semana passada, a compra do álbum dos Final Fantasy, com o mentor dos Arcade Fire, cujo nome agora não recordo (e estou demasiado preguiçoso para pesquisas).
Agora a tentação voltou: o Blitz deixou o seu formato de pasquim semanal e passou a apresentar-se numa revista mensal que é impossível não comprar. Tempos difíceis se aproximam. A propósito, sabiam que Richard Hawley (o que eu penei à espera do primeiro CD, "Lowedges") já tem um novo álbum? E que Thom Yorke, dos Radiohead, lançou um álbum a solo? E que Neil Hannon, aka The Divine Comedy, também tem novo trabalho? Ai, ai...
Olé!
Sexta passada, por las ocho de la tarde, retomei um dos meus maiores prazeres: os toiros no único lugar onde podem ser vistos - em Espanha, claro.
A corrida foi mediana, com um El Juli razoavelmente inspirado e um Miguel Angel Perera numa das piores exibições que já lhe vi, ambos a terem que se defrontar com a nova estrela ascendente do toureio espanhol e, por inerência, mundial: Alejandro Talavante!
Há já dois anos, desde que vi César Jimenez em Almendralejo, que não tinha tamanha surpresa ao ver uma lide. Talavante, de apenas dezoito anos, e que tomou a alternativa há apenas duas semanas numa praça de nome impronunciável, confirmou todas as críticas que já tinha conhecido, e que o tornam no maior fenómeno da temporada, pelo menos até ver. Certo que algumas impetuosidades, a par com alguma dificuldade na avaliação da aprendizagem dos toiros durante a lide, pechas apenas imputáveis à sua juventude, o impediram de colher como troféus mais do que duas discutíveis orelhas na segunda lide. Mas a forma corajosa e elegante como executa as estatuárias, as gaoneras perfeitas, e a maestria com a muleta tornam-no, para já, num matador que aconselho vivamente aos aficcionados. Eu fiquei admirador, e decerto tudo farei para voltar a assistir a uma corrida onde ele conste no cartel - de preferência na Real Maestranza, em Sevilha, afinal a verdadeira "catedral" do toureio!
2006/06/26
Delírio duma noite quente
A minha vida bem que poderia ser um longo fim de semana, com ar condicionado em todos os lugares, bons restaurantes, cheios de coisas boas que não engordassem nem fizessem mal (incluindo charutos), livros por todo o lado, varandas sobre o mar, boas conversas, boas companhias, aqueles CD's que nos arrepiam, os jornais do dia espalhados pelo chão da sala, dinheiro no bolso, estrada para rolar, e o meu filho sempre perto de mim...
2006/06/20
O dinheiro afinal não compra tudo!
Ontem, ao folhear uma revista que se encontrava na mesa do café onde parei ao fim da tarde, daquelas que saem como suplemento num jornal qualquer, dei com uma entrevista de um tal Renato Berardo, filho de um famoso coleccionador de arte moderna com o mesmo apelido. A minha costela voyeur não me poupou, e lá acabei por dar comigo a ler as declarações do herdeiro. Não comentarei agora a maior parte do que lá ficou dito, mas não consegui conter um enorme arrepio quando li a descrição, pelo próprio, das suas primeiras tentativas de comprar arte. Segundo o entrevistado, só depois de ter adquirido, há alguns anos, um quadro, é que teve conhecimento de que este era uma reprodução, e isto por amável esclarecimento da esposa. Indignado, perguntou então a quem lhe facultou a informação por que motivo não tinham comprado o original, ao que a sua consorte conselheira o voltou a informar de que tal teria sido muito, mas mesmo muito difícil, já que o original se encontra no Louvre e se chama Mona Lisa. E ele contou isto, assim, numa revista.
Pensando bem, acho que também não vou comentar esta parte da entrevista.
Pensando bem, acho que também não vou comentar esta parte da entrevista.
2006/06/18
Carta aberta a Sílvia Alberto
Existem, definitivadamente, duas épocas no jornalismo escrito português: antes e depois de Miguel Esteves Cardoso (MEC). Para além da informalidade e paródia que introduziu na escrita, desde os seus tempos do "Se7e", passando pelas crónicas no "Expresso" (assim de repente lembro-me da "Causa das Coisas", "As minhas aventuras na República Portuguesa", "Os meus problemas"...), e culminando nos excelentes textos e legendas de "O Independente", que comprei desde o número 1, para além disso, dizia, MEC tinha ainda uma outra capacidade extraordinária: a de nos pôr a sofrer os seus próprios problemas, tal a forma como expunha despudoradamente os seus estados de espírito pessoais nas páginas das publicações em que escrevia. Foi talvez por isso que me veio há bocado à memória um artigo (mais à frente já perceberão porque me lembrei disto agora) em que o autor, tanto quanto sabemos encantado com as belezas de uma apresentadora de um programa televisivo de surf - também isto uma novidade naqueles dias - de sua graça Rita Seguro, dedicava toda uma crónica, em jeito de declaração pública, a confessar-nos o seu deslumbramento e paixão pela radical diva; aliás, se não estou em erro, o autor dirigia-se directamente à visada, isto apesar de, aparentemente, nunca terem sido sequer apresentados. Nunca percebi ao certo se a coisa era mesmo sentida ou se havia ali uma pequena pontinha de ironia, mas fascinou-me absolutamente a forma como escarrapachou nas páginas de um jornal coisas que até aí só se diziam em privado ao melhor amigo - e, mesmo assim, nunca antes do segundo gin tónico!
Lembrei-me disto há bocado quando, depois de jantar em casa da minha mãe com o meu filho, acabei por ceder às insistências de ambas as gerações para assistir a um programa televisivo, aparentemente de grande popularidade, chamado "Dança comigo". Curiosamente, foi a primeira vez que assisti a tal coisa (quem me conhece melhor já sabe da minha obstinada abstinência - tentem lá dizer isto depressa - em relação à televisão), e foi também, feliz ou infelizmente, o último programa exibido ("desta série", conforme nos foi dito, o que não augura nada de bom). O programa em si é banalíssimo, apelando permanentemente à palmadinha nas costas entre intervenientes e às emoções facilmente manipuladas de uma plateia já convenientemente instruída para assistir ao espectáculo das suas vidas, com muita lagriminha marota à mistura. Nada a acrescentar, portanto.
Contudo, algo ali me fez assistir ao programa com redobrada atenção até ao seu final: o "reencontro" com Sílvia Alberto, agora mulher, mas com o mesmo ar de menina que, há já alguns anos, me fazia levantar de manhã aos domingos para assistir ao "Clube dos Amigos Disney"! Sim, já sei, não esperavam isto de mim, mas também nunca vos garanti que não vos iria desiludir, pois não?
Bom, mas voltando ao assunto, e aproveitando a introdução sobre a desavergonhada atitude de MEC, e transpondo-a para este micro-espaço, vou, eu também, aproveitar a prolixidade e o desaforo que tenho na escrita para fazer aqui um convite público: convido-a, pois, a si, Sílvia Alberto, caso eventualmente faça uma pesquisa no Google e venha aqui parar, para dois almoços ou jantares por estes dias, preferencialmente depois de Outubro, altura em que a temperatura começa a voltar a níveis civilizados. Relativamente à escolha dos lugares, e como bom cavalheiro que prezo ser, deixarei este agradável assunto ao seu cuidado, Sílvia, certo aliás de que o seu leque de conhecimentos nesta área é muito superior ao meu. No entanto, se tiver a amabilidade de me incumbir dessa tarefa, poderei sugerir alguns que fujam ao óbvio de Lisboa como, por exemplo, o "Mar do Peixe" no Meco, o "Ribamar" em Sesimbra, o "Sacas" na Zambujeira do Mar, o "Aqui há peixe" no Carvalhal, o "Trinca-Espinhas" em São Torpes, ou outros em que pensarei se se dignar aceitar este convite duplo. Por fim, calculo que esteja intrigada pelo preciosismo de a convidar para duas refeições, e não simplesmente para almoçar ou jantar; bom, é que, conhecendo-me como me conheço, sei que no primeiro deles não conseguirei dizer mais que "pois...", "ah..." e "ia dizer qualquer coisa mas passou-me" - assim, só o segundo servirá para conversarmos normalmente. Está explicado?
Lembrei-me disto há bocado quando, depois de jantar em casa da minha mãe com o meu filho, acabei por ceder às insistências de ambas as gerações para assistir a um programa televisivo, aparentemente de grande popularidade, chamado "Dança comigo". Curiosamente, foi a primeira vez que assisti a tal coisa (quem me conhece melhor já sabe da minha obstinada abstinência - tentem lá dizer isto depressa - em relação à televisão), e foi também, feliz ou infelizmente, o último programa exibido ("desta série", conforme nos foi dito, o que não augura nada de bom). O programa em si é banalíssimo, apelando permanentemente à palmadinha nas costas entre intervenientes e às emoções facilmente manipuladas de uma plateia já convenientemente instruída para assistir ao espectáculo das suas vidas, com muita lagriminha marota à mistura. Nada a acrescentar, portanto.
Contudo, algo ali me fez assistir ao programa com redobrada atenção até ao seu final: o "reencontro" com Sílvia Alberto, agora mulher, mas com o mesmo ar de menina que, há já alguns anos, me fazia levantar de manhã aos domingos para assistir ao "Clube dos Amigos Disney"! Sim, já sei, não esperavam isto de mim, mas também nunca vos garanti que não vos iria desiludir, pois não?
Bom, mas voltando ao assunto, e aproveitando a introdução sobre a desavergonhada atitude de MEC, e transpondo-a para este micro-espaço, vou, eu também, aproveitar a prolixidade e o desaforo que tenho na escrita para fazer aqui um convite público: convido-a, pois, a si, Sílvia Alberto, caso eventualmente faça uma pesquisa no Google e venha aqui parar, para dois almoços ou jantares por estes dias, preferencialmente depois de Outubro, altura em que a temperatura começa a voltar a níveis civilizados. Relativamente à escolha dos lugares, e como bom cavalheiro que prezo ser, deixarei este agradável assunto ao seu cuidado, Sílvia, certo aliás de que o seu leque de conhecimentos nesta área é muito superior ao meu. No entanto, se tiver a amabilidade de me incumbir dessa tarefa, poderei sugerir alguns que fujam ao óbvio de Lisboa como, por exemplo, o "Mar do Peixe" no Meco, o "Ribamar" em Sesimbra, o "Sacas" na Zambujeira do Mar, o "Aqui há peixe" no Carvalhal, o "Trinca-Espinhas" em São Torpes, ou outros em que pensarei se se dignar aceitar este convite duplo. Por fim, calculo que esteja intrigada pelo preciosismo de a convidar para duas refeições, e não simplesmente para almoçar ou jantar; bom, é que, conhecendo-me como me conheço, sei que no primeiro deles não conseguirei dizer mais que "pois...", "ah..." e "ia dizer qualquer coisa mas passou-me" - assim, só o segundo servirá para conversarmos normalmente. Está explicado?
2006/06/17
Orçamento
Apesar de, graças a Deus, nunca ter passado dificuldades financeiras por aí além, noto em mim, por vezes e cada vez mais, uma tendência para o "forretismo", se bem que, na maior parte dos casos, a consiga justificar com a simples invocação da razão.
Para ilustrar o que digo, não consigo conceber como, por exemplo, se gastam fortunas abissais em peças de roupa quando, muitas vezes, apenas estamos a comprar o emblema ou a griffe. Como diz com alguma graça e muita razão o meu amigo P.R., é absolutamente despudorado comprar uma peça de vestuário, seja ela qual for, cujo custo seja superior ao ordenado mínimo nacional. Claro que este raciocínio não poderá valer, por exemplo, para uma camisa, em que o plafond terá que ser forçosamente muito mais baixo, e cujo valor razoável de aquisição não poderá exceder nunca os cinquenta ou sessenta euros, e isto para casos de comprovada qualidade.
O mesmo para os automóveis: por muitos Euromilhões que me pudessem sair, não me veria em caso algum a comprar aqueles carros estranhos que os príncipes árabes ou o Vítor Baía compram, com preços superiores a meio milhão de euros. Acho que é um desrespeito a todas as pessoas com necessidades este tipo de desperdícios e, apesar de ser um grande adepto de automóveis em muitas das suas vertentes, considero que existem excelentes carros com todas as comodidades exigíveis muito abaixo dos cinquenta mil euros.
Por fim, um fenómeno recente: os telemóveis. Observo frequentemente, mesmo no meu círculo de amigos mais restrito, mudanças frequentes e dispendiosas de aparelhos cujo único defeito é não serem os últimos do catálogo, por forma a dispor permanentemente de toda a parafernália dos gadgets mais recentes que estes aparelhos oferecem, tais como máquina fotográfica, berbequim, cortadora de fiambre, máquina de café, e sei lá mais o quê. Esta mentalidade impressiona-me e arrepia-me, a mim que só compro um telemóvel quando o anterior está mesmo kaput. Aconteceu há dias e, contrariado, dirigi-me a uma loja da especialidade para adquirir um novo telemóvel. O vendedor bem me queria convencer da utilidade de comprar um modelo que podia receber e-mails, telegramas e correio azul, mas os meus olhos desde a entrada na loja recaíram num singelo aparelho que, por cerca de cinquenta euros, me oferece a possibilidade de fazer e receber chamadas, afinal tudo aquilo para que eu quero um telemóvel!
Em adenda às reflexões expressas acima, gostaria ainda de informar que o anterior aparelho, talvez ressabiado com a sua troca por uma unidade mais jovem e pujante, se recusou a colaborar na hora de passagem do testemunho, isto é, quando tentei salvar os números que possuía em agenda. É, pois, por esse motivo, que aproveito a amplitude deste espaço blogosférico para solicitar a todos os meus leitores e amigos, principalmente àqueles que ainda não incomodei através de e-mail ou mensagem de Hi5, o favor de me reenviarem os vossos números, usando para o efeito o endereço electrónico situado ao lado (em "Recados"), ou, caso o possuam já, o meu número de telemóvel, que não sofreu alterações.
Para ilustrar o que digo, não consigo conceber como, por exemplo, se gastam fortunas abissais em peças de roupa quando, muitas vezes, apenas estamos a comprar o emblema ou a griffe. Como diz com alguma graça e muita razão o meu amigo P.R., é absolutamente despudorado comprar uma peça de vestuário, seja ela qual for, cujo custo seja superior ao ordenado mínimo nacional. Claro que este raciocínio não poderá valer, por exemplo, para uma camisa, em que o plafond terá que ser forçosamente muito mais baixo, e cujo valor razoável de aquisição não poderá exceder nunca os cinquenta ou sessenta euros, e isto para casos de comprovada qualidade.
O mesmo para os automóveis: por muitos Euromilhões que me pudessem sair, não me veria em caso algum a comprar aqueles carros estranhos que os príncipes árabes ou o Vítor Baía compram, com preços superiores a meio milhão de euros. Acho que é um desrespeito a todas as pessoas com necessidades este tipo de desperdícios e, apesar de ser um grande adepto de automóveis em muitas das suas vertentes, considero que existem excelentes carros com todas as comodidades exigíveis muito abaixo dos cinquenta mil euros.
Por fim, um fenómeno recente: os telemóveis. Observo frequentemente, mesmo no meu círculo de amigos mais restrito, mudanças frequentes e dispendiosas de aparelhos cujo único defeito é não serem os últimos do catálogo, por forma a dispor permanentemente de toda a parafernália dos gadgets mais recentes que estes aparelhos oferecem, tais como máquina fotográfica, berbequim, cortadora de fiambre, máquina de café, e sei lá mais o quê. Esta mentalidade impressiona-me e arrepia-me, a mim que só compro um telemóvel quando o anterior está mesmo kaput. Aconteceu há dias e, contrariado, dirigi-me a uma loja da especialidade para adquirir um novo telemóvel. O vendedor bem me queria convencer da utilidade de comprar um modelo que podia receber e-mails, telegramas e correio azul, mas os meus olhos desde a entrada na loja recaíram num singelo aparelho que, por cerca de cinquenta euros, me oferece a possibilidade de fazer e receber chamadas, afinal tudo aquilo para que eu quero um telemóvel!
Em adenda às reflexões expressas acima, gostaria ainda de informar que o anterior aparelho, talvez ressabiado com a sua troca por uma unidade mais jovem e pujante, se recusou a colaborar na hora de passagem do testemunho, isto é, quando tentei salvar os números que possuía em agenda. É, pois, por esse motivo, que aproveito a amplitude deste espaço blogosférico para solicitar a todos os meus leitores e amigos, principalmente àqueles que ainda não incomodei através de e-mail ou mensagem de Hi5, o favor de me reenviarem os vossos números, usando para o efeito o endereço electrónico situado ao lado (em "Recados"), ou, caso o possuam já, o meu número de telemóvel, que não sofreu alterações.
2006/06/12
Problemas de hardware
Ontem, enquanto tentava criar um manjerico para o Lourenço, utilizando, como me mandaram no infantário, papel crepe e um copo de plástico, deixei cair umas grossas gotas de cola-tudo UHU aqui em cima do computador portátil (e agora perguntam vocês: mas para que raio usaste cola UHU numa coisa que se resolve só com agrafos e jeito, e eu, em vez de vos responder, mostro-vos as minhas notas do secundário em trabalhos manuais, ou oficinais, ou lá o que lhes chamam agora). Bom, mas voltando aqui ao meu fiel companheiro, tentei limpá-lo de imediato com um lenço de papel, mas só consegui espalhar mais o visco. Agora, a coisa já secou e o plástico apresenta uma textura como que "arrepanhada" junto ao mouse digital - mas o aparelhómetro vai funcionando na mesma.
Será grave, doutor?
Será grave, doutor?
Lindo!
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
(Alexandre O'Neill by M.G.)
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
(Alexandre O'Neill by M.G.)
A ternura dos quarenta
Este blog teve a característica original de acompanhar o final da minha quarta década de vida (os "trintas") e a entrada na quinta (os "quarentas"). Se bem que pareça um lugar comum, a verdade, verdadinha mesmo, é que muita coisa mudou "aqui dentro" com este franquear.
Houve diversos e importantíssimos factos que aconteceram nestes quase três anos que modificaram de forma irreversível a minha vida, mas houve também mudanças de atitude importantes, quando percebi que me estava irremediavelmente a afastar da minha juventude. Uma das principais diferenças que noto, e pela qual já me fizeram pagar a incoerência, foi o meu súbito interesse pelo futebol, quiçá por falta de coisas mais apelativas por que me interessar. Mas nada de precipitações! Consigo ver um jogo de princípio ao fim mas, em relação por exemplo aos lugares que cada jogador ocupa em campo, continuo a apenas distinguir o guarda-redes e todos os outros. Isto para grande desespero de quem me acompanha ao estádio (do Vitória de Setúbal, claro!), e que, com grande paciência, me vai elucidando sobre mudanças de flanco, faltas de ânimo e outras preciosidades do género (obrigado, F.C., grande amigo!).
Mas, se há coisa para que ainda não consegui a devida garra (e, nesta fase, duvido que venha a obtê-la já), é para embandeirar (literalmente) em relação à selecção Nacional. Que me desculpem os mais nacionalistas, e acreditem que gostaria tanto que os portugueses ganhassem este Mundial como qualquer um de vós - apesar de confessar que, se tivesse dinheiro para apostar, o faria no Brasil, ou melhor, na sua selecção. Talvez a coisa melhore, mas para me galvanizarem têm que passar a jogar bem melhor do que fizeram esta noite. Depois falaremos.
Entretanto, lembrem-me um destes dias de postar aqui qualquer coisa sobre outras mudanças fundamentais que chegaram com os quarentas - as que já chegaram e as que podem estar para vir.
Houve diversos e importantíssimos factos que aconteceram nestes quase três anos que modificaram de forma irreversível a minha vida, mas houve também mudanças de atitude importantes, quando percebi que me estava irremediavelmente a afastar da minha juventude. Uma das principais diferenças que noto, e pela qual já me fizeram pagar a incoerência, foi o meu súbito interesse pelo futebol, quiçá por falta de coisas mais apelativas por que me interessar. Mas nada de precipitações! Consigo ver um jogo de princípio ao fim mas, em relação por exemplo aos lugares que cada jogador ocupa em campo, continuo a apenas distinguir o guarda-redes e todos os outros. Isto para grande desespero de quem me acompanha ao estádio (do Vitória de Setúbal, claro!), e que, com grande paciência, me vai elucidando sobre mudanças de flanco, faltas de ânimo e outras preciosidades do género (obrigado, F.C., grande amigo!).
Mas, se há coisa para que ainda não consegui a devida garra (e, nesta fase, duvido que venha a obtê-la já), é para embandeirar (literalmente) em relação à selecção Nacional. Que me desculpem os mais nacionalistas, e acreditem que gostaria tanto que os portugueses ganhassem este Mundial como qualquer um de vós - apesar de confessar que, se tivesse dinheiro para apostar, o faria no Brasil, ou melhor, na sua selecção. Talvez a coisa melhore, mas para me galvanizarem têm que passar a jogar bem melhor do que fizeram esta noite. Depois falaremos.
Entretanto, lembrem-me um destes dias de postar aqui qualquer coisa sobre outras mudanças fundamentais que chegaram com os quarentas - as que já chegaram e as que podem estar para vir.
2006/06/09
Secção "No gira-discos do meu carro":
Comecemos pelo mais óbvio: o álbum "At War with the Mystics" dos The Flaming Lips, e não me parece que seja necessário falar muito dele, pois toda a gente já deve conhecer, por esta hora, pelo menos a canção do Yeah, Yeah, Yeah... Se não conhecem, ainda vão a horas - se já conhecem, aproveitem para ouvir o resto do álbum que, apesar de algumas críticas menos favoráveis, é muito, mas mesmo muito bom. É claro que não podemos esperar que os rapazes agora criem um "Yoshimi battles the pink robot" em cada álbum que façam - Da Vinci também só criou uma Gioconda, o que não significa que os seus restantes trabalhos fossem maus. De qualquer forma este último trabalho chegou ao sexto lugar de vendas no Reino Unido, mas presumo que cá teria muita dificuldade em combater a qualidade melódica de um Tony Carreira!
Passando a "Here come the Tears" dos... The Tears, trata-se de nomes provavelmente desconhecidos da maior parte dos leitores, e - digo-o por experiência própria - mesmo da maior parte dos empregados da FNAC, até daqueles "especializados" nas prateleiras do "Alternativos". Mas se eu disser que na formação desta banda entram Brett Anderson, ex-vocalista dos defuntos Suede, bem como Bernard Butler, guitarrista dos dois primeiros álbuns da mesma banda (os melhores, de longe), a sobrancelha já começa a levantar, não é? Então oiçam lá as músicas e depois digam qualquer coisa.
Por fim temos os Babyshambles: o seu vocalista constitui uma das maiores fontes de rendimento dos tablóides britânicos, e já começa também a aparecer com frequência nas secções de curiosidade das publicações portuguesas - infelizmente nunca é por razões relacionadas com a música que produz, nem sequer é por boas razões: Pete Doherty, assim se chama o rapaz, foi suspenso da sua anterior banda, os magistrais The Libertines, devido à sua grande adição às drogas, e resolveu formar esta banda onde nos continua a encantar com a sua voz rouca. Infelizmente, apenas o faz nos intervalos entre as suas detenções, que começam a ser cada vez mais frequentes. Mas as notícias nunca referem a qualidade do trabalho produzido, razão porque este blog de espírito missionário vem asseverar aos seus estimados leitores que vale a pena deixar de pensar por um pouco nos problemas pessoais do jovem e escutar as suas palavras cantadas, com atenção, neste álbum, "Down in Albion". Para os curiosos das referências mais famosas, ainda posso deixar aqui a informação extraordinária de que esta personagem foi namorado da modelo Kate Moss a qual, de resto, faz um sensual coro logo na primeira faixa do álbum.
Passando a "Here come the Tears" dos... The Tears, trata-se de nomes provavelmente desconhecidos da maior parte dos leitores, e - digo-o por experiência própria - mesmo da maior parte dos empregados da FNAC, até daqueles "especializados" nas prateleiras do "Alternativos". Mas se eu disser que na formação desta banda entram Brett Anderson, ex-vocalista dos defuntos Suede, bem como Bernard Butler, guitarrista dos dois primeiros álbuns da mesma banda (os melhores, de longe), a sobrancelha já começa a levantar, não é? Então oiçam lá as músicas e depois digam qualquer coisa.
Por fim temos os Babyshambles: o seu vocalista constitui uma das maiores fontes de rendimento dos tablóides britânicos, e já começa também a aparecer com frequência nas secções de curiosidade das publicações portuguesas - infelizmente nunca é por razões relacionadas com a música que produz, nem sequer é por boas razões: Pete Doherty, assim se chama o rapaz, foi suspenso da sua anterior banda, os magistrais The Libertines, devido à sua grande adição às drogas, e resolveu formar esta banda onde nos continua a encantar com a sua voz rouca. Infelizmente, apenas o faz nos intervalos entre as suas detenções, que começam a ser cada vez mais frequentes. Mas as notícias nunca referem a qualidade do trabalho produzido, razão porque este blog de espírito missionário vem asseverar aos seus estimados leitores que vale a pena deixar de pensar por um pouco nos problemas pessoais do jovem e escutar as suas palavras cantadas, com atenção, neste álbum, "Down in Albion". Para os curiosos das referências mais famosas, ainda posso deixar aqui a informação extraordinária de que esta personagem foi namorado da modelo Kate Moss a qual, de resto, faz um sensual coro logo na primeira faixa do álbum.
2006/06/06
Desinteressante
Sei bem que o que vou escrever não tem o mínimo interesse para quem quer que seja, mas mesmo assim deixo aqui registado que vou aproveitar o pôr do sol deste dia cansativo para fumar um Romeo y Julieta n.º 2 aqui, no meu terraço.
2006/06/05
A pergunta:
Numa vanguardista iniciativa de antecipação da legislação Portuguesa, inédita para já e ao que sei, apresenta hoje este blog o presente post, que pretende ser um percursor da lei da paridade aplicada à blogosfera - com efeito, trata-se do primeiro post destinado exclusivamente a mulheres, se bem que não se possa, naturalmente, impedir os homens de o ler. Outras acções de justiça social decerto se seguirão.
Mas, voltando ao tema do post, trata-se de apresentar às minhas queridas leitoras uma questão muito simples, mas que poderá ajudar-nos a todos a definir onde se situa exactamente a fronteira entre o que é politicamente correcto e o que se sente na realidade. Então é assim: é um facto insofismável e conhecido que praticamente todas as mulheres afirmam, quando questionadas e com razoável convicção, que preferem como companheiro um homem não necessariamente bonito, mas sensível, culto, com sentido de humor, e com outros atributos similares, que fica sempre bem apresentar como quesitos a quem não quer passar por fútil ou superficial.
Mas a prática mostra-nos muitas vezes o contrário, ou seja: entre um tipo gorducho, careca, de mediana aparência física, mas que seja capaz de proporcionar uma conversa agradável e uma boa companhia, ou um loiro bronzeado, praticante de surf, que pensa que Beckett é o novo central do Chelsea e que Modigliani é o nome de uma pizzaria da linha, nem vale a pena perguntar para que lado vai o coração feminino pender, não é?
Bom, exposta a verificação, e apelando à honestidade das minhas leitoras que poderão, sem remorsos ou sentimentos de culpa, refugiar-se no anonimato, para mais numa questão tão delicada como é a presente, deixo aqui a questão: onde fica, exactamente, a ponderação entre o aspecto estético e os restantes aspectos de um homem na altura de escolher?
Posso deixar aqui mais umas pistas para uma possível resposta: da minha observação pessoal, penso que há uma altura em todas as mulheres em que, devido às experiências passadas bem como à maturidade adquirida, os pratos da balança se começam a equilibrar. Não gostaria de balizar, mas acredito que tal tenda a suceder por volta dos trinta anos. Estarei correcto, ou pelo menos a aproximar-me da realidade?
No entanto, penso que não existe mulher imune ao aspecto exterior do homem, seja qual for a sua idade e estágio de maturidade, e muitas, inclusive, dispostas a arriscar tudo numa relação que a conduza a anos de sofrimento, desde que ao lado de um sósia de George Clooney. Será isto uma reacção genética, ou tem a ver com algo que nos é imposto pela sociedade consumista? Afinal, trata-se da velha história de comprar um mau produto num bom embrulho...
P.S.: Antes que me acusem de machista, desde já deixo aqui bem claro que sei muito bem que, com a devida inversão dos termos, toda esta teoria é igualmente aplicável ao género masculino, em alguns casos com sérias agravantes. Afinal, serão muito poucos os homens que desdenhariam pavonear-se na Expo de braço dado com a Isabel Figueira, se bem que a cachopa já tenha declarado publicamente que "não leva livros para férias, porque as férias são para descansar" (in revista "Maxmen" há uns meses atrás).
Mas, voltando ao tema do post, trata-se de apresentar às minhas queridas leitoras uma questão muito simples, mas que poderá ajudar-nos a todos a definir onde se situa exactamente a fronteira entre o que é politicamente correcto e o que se sente na realidade. Então é assim: é um facto insofismável e conhecido que praticamente todas as mulheres afirmam, quando questionadas e com razoável convicção, que preferem como companheiro um homem não necessariamente bonito, mas sensível, culto, com sentido de humor, e com outros atributos similares, que fica sempre bem apresentar como quesitos a quem não quer passar por fútil ou superficial.
Mas a prática mostra-nos muitas vezes o contrário, ou seja: entre um tipo gorducho, careca, de mediana aparência física, mas que seja capaz de proporcionar uma conversa agradável e uma boa companhia, ou um loiro bronzeado, praticante de surf, que pensa que Beckett é o novo central do Chelsea e que Modigliani é o nome de uma pizzaria da linha, nem vale a pena perguntar para que lado vai o coração feminino pender, não é?
Bom, exposta a verificação, e apelando à honestidade das minhas leitoras que poderão, sem remorsos ou sentimentos de culpa, refugiar-se no anonimato, para mais numa questão tão delicada como é a presente, deixo aqui a questão: onde fica, exactamente, a ponderação entre o aspecto estético e os restantes aspectos de um homem na altura de escolher?
Posso deixar aqui mais umas pistas para uma possível resposta: da minha observação pessoal, penso que há uma altura em todas as mulheres em que, devido às experiências passadas bem como à maturidade adquirida, os pratos da balança se começam a equilibrar. Não gostaria de balizar, mas acredito que tal tenda a suceder por volta dos trinta anos. Estarei correcto, ou pelo menos a aproximar-me da realidade?
No entanto, penso que não existe mulher imune ao aspecto exterior do homem, seja qual for a sua idade e estágio de maturidade, e muitas, inclusive, dispostas a arriscar tudo numa relação que a conduza a anos de sofrimento, desde que ao lado de um sósia de George Clooney. Será isto uma reacção genética, ou tem a ver com algo que nos é imposto pela sociedade consumista? Afinal, trata-se da velha história de comprar um mau produto num bom embrulho...
P.S.: Antes que me acusem de machista, desde já deixo aqui bem claro que sei muito bem que, com a devida inversão dos termos, toda esta teoria é igualmente aplicável ao género masculino, em alguns casos com sérias agravantes. Afinal, serão muito poucos os homens que desdenhariam pavonear-se na Expo de braço dado com a Isabel Figueira, se bem que a cachopa já tenha declarado publicamente que "não leva livros para férias, porque as férias são para descansar" (in revista "Maxmen" há uns meses atrás).
2006/06/03
Parar para pensar
Depois de mais uma relativamente longa hibernação, cá estou eu de novo, caro leitor, mas desta vez para lhe falar de um assunto que apenas poderá interessar a alguns - contudo, é essa uma das principais vantagens deste espaço blogosférico: a possibilidade de gastarmos milhares de caracteres a divagar sobre o nosso umbigo, se for essa a nossa vontade, aceitando tacitamente as regras do jogo, isto é que, do outro lado, qualquer pessoa é livre de saltar por cima deste post (ou de todo o blog, até!), se nele não vislumbrar qualquer interesse ou mais valia para a sua informação ou cultura pessoal.
Pois bem, apresentado este intróito, passo então a falar do CDS-Partido Popular, e da sua situação actual, basicamente aquilo que me traz aqui. Desde já ressalvo que me considero insuspeito para o fazer nos termos que se seguem, pois sou seu militante há mais de vinte anos (a que deverei juntar mais de sete de Juventude Popular, então Juventude Centrista), e em todo este tempo nunca esperei, mendiguei ou obtive qualquer tipo de colocação ou vantagem decorrentes da minha condição de filiado e dirigente - no entanto, durante estes muitos anos, pude observar muito "pára-quedista" a chegar às fileiras do partido, sem qualquer tipo de coerência ideológica (em relação a muitos deles duvido mesmo que tenham algum tipo de ideia política de todo), mas com uma devoção canina a quem está na liderança em cada momento (e, na sua única atitude coerente com o seu grau de dignidade, apresentando rapidamente um olímpico desprezo por aqueles que ontem aparentemente idolatravam, desde que já não ocupem lugares de poder), e tudo isto com o único fito de arranjarem "tachinhos" para si e para os seus. Este fenómeno, não exclusivo do meu partido, teve no entanto, e durante muito tempo, uma dimensão marginal e os "penduras" eram identificáveis à légua e facilmente mantidos a uma adequada distância higiénica. Contudo, com a subida do partido ao Governo, há poucos anos atrás, a coisa precipitou-se e foi com um misto de estupefacção, repulsa e até vergonha que, de um momento para o outro, começo a ver por todo o lado à minha volta a saída dos seus buracos dos tais boys que tanto condenava nos outros partidos, todos eles a alcandorar-se a lugares de alguma responsabilidade, a maior parte das vezes sem capacidades sequer para gerir uma mercearia de bairro, e frequentemente sendo alvo recorrente da chacota de quem com eles trabalhava. Mas o fundamental, para este tipo de criaturas, não é o seu desempenho, mas sim esse conceito vago que designam de "aparecer": "aparecer" num jornal, "aparecer" numa cerimónia pública ou - suprema realização pessoal! - "aparecer" numa reportagem de televisão.
Bom, saltemos agora, cronologicamente falando, por cima do espaço de governação do CDS-Partido Popular até chegarmos aos dias de hoje, em que o país é governado por uma personagem de valor dúbio, mas que tenta disfarçar as suas muitas insuficiências culturais, políticas e cívicas através de grandes doses de arrogância e petulância, com algumas citações de filósofos pelo meio (recorrente, esta forma pífia de mostrar suposta cultura política). Neste cenário encontramos também um CDS-Partido Popular que mudou de direcção, encontrando-se a presente equipa à frente dos destinos do partido há pouco mais de um ano. No entanto, não obstante a sua juventude, e devido a aparentes problemas de auto-estima, complexos de perseguição e outras teorias da conspiração avulsas, foi já esta direcção sufragada internamente por três (!) vezes neste curto espaço de tempo. Curiosamente, e apesar de algumas leituras enviezadas do assunto por parte de quem tem interesse em manipular a informação, a verdade é que a opinião do interior do partido não tem coincidido de todo com a do eleitorado, já que esta direcção também foi entretanto julgada pelo voto Nacional por duas vezes - contudo, em ambas as vezes resultados desastrosos foram convertidos em confortáveis vitórias morais ou coisa que o valha, ao melhor estilo comunista! Na segunda das eleições em que estivémos envolvidos, de resto, para a Presidência da República, decidiu-se até o partido pelo apoio a um candidato cujas únicas negociações conhecidas com o CDS-Partido Popular ficaram confinadas ao auricular do telemóvel do Dr. José Ribeiro e Castro, e em que o candidato demonstrou durante a quase totalidade da campanha um desrespeito pelo nosso partido (que sistemática e intencionalmente designava por "o outro partido que me apoia"), desrespeito esse que, com uma direcção digna desse nome e dos pergaminhos do partido, teria merecido no mínimo uma veemente chamada de atenção e até, em caso de reincidência, a retirada do apoio. Medo de quê? Eu, pela parte que me toca, orgulho-me de afirmar que não votei no Prof. Aníbal Cavaco Silva, tendo sido esta a primeira vez que não votei no CDS-Partido Popular, nos seus candidatos ou de acordo com as suas indicações de voto, e isto desde o longínquo dia do meu recenseamento.
Mas voltemos ao país: vivem-se dias difíceis, os impostos sobem, o Governo anuncia megalómanas e dispendiosas formas de, à custa do já pouco dinheiro dos contribuintes, satisfazer as suas clientelas - vide casos da Ota e do TGV, entre outros - e, não obstante, o que acontece nas sondagens? O PS desce, como seria lógico e expectável num país civilizado e inteligente? Não, a popularidade do Eng. Sócrates continua a subir. Estranho, não é? Nem nos tempos do despesismo populista do Eng. Guterres, outro subproduto felizmente já exportado, o trabalho de propaganda demagógica do PS foi tão fácil. Mas tudo isto, é bom que se diga, não se deve a mérito do PS, mas sim a um evidente e constrangedor demérito por parte das oposições.
A direcção do CDS-Partido Popular adoptou, neste último ano da sua vida, um discurso beato, quase a raiar o reaccionário até em alguns pontos, com o qual o eleitorado moderno, mesmo que de direita, não se identifica; entretanto, as poucas boas ideias que vão surgindo simplesmente não passam para a opinião pública porque o líder apenas o é às quintas, sextas e sábados - devemos ser precavidos, pois ninguém sabe o que nos espera no futuro. Desconhecerá, talvez, esta gente que a política não é apenas ter ideias, mas sim, e principalmente, passá-las para o eleitorado, essa grande massa anónima que decide quem governa. Fica sempre bem, e dá um ar informado, trazer um punhado de autores para citar à sobremesa, mas é de uma tocante ingenuidade esperar que a população leia Oakeshott nos transportes públicos ou Burke antes do jantar!
O Bloco de Esquerda, o maior embuste conhecido até hoje na política nacional, já percebeu há muito o funcionamento da coisa e preocupa-se tanto ou mais com o marketing das suas ideias do que com o seu conteúdo - quando o há! O resultado é que, por mais demagógicas e inexequíveis que surjam sempre as propostas da esquerda-caviar, elas passam a uma população sedenta de novidades e de murros na mesa, enquanto que as imberbes considerações da excelsa Direcção do CDS-Partido Popular sobre turismo, por exemplo, debitadas em ciclo de conferências, não chegam sequer ao único Ministro do Pelouro que este país já teve, o Dr. Telmo Correia, porque os organizadores decidiram não o convidar para o evento. O meu filho tem cinco anos mas já há muito que não tem este tipo de birras e retaliações.
Bom, posto isto chegamos à noite de ontem, noite de Assembleia Distrital de Setúbal, à qual sou delegado por decisão dos militantes que amavelmente me elegeram também para Vice-Presidente da Comissão Política Concelhia de Setúbal. Entre outros pontos da agenda, eminentemente propagandística, da recém empossada Comissão Política Distrital (CPD), encontrava-se a eleição dos quatro delegados ao Conselho Nacional do Partido que representarão naquele orgão os militantes do distrito de Setúbal. O que não estava, certamente, na ordem de trabalhos nem nas previsões de quem os conduziu (que não percebi exactamente quem foi, já que o Presidente da CPD falava quando lhe apetecia e dava indicações directas ao Presidente da Assembleia sobre a forma de dirigir a mesma, decidindo quem podia ou não falar), seria a existência de intervenções não alinhadas com o statu quo vigente. Assim, depois de uma sucessão de intervenções (e respectivas respostas) ao melhor estilo encarneirado, do tipo "Vai dirigir bem esta distrital, não vai?", "Sim, vou dirigir bem esta distrital", passe a caricatura, chegou finalmente a minha vez de usar da palavra, algo para que me inscrevi desde o princípio dos trabalhos, mas que, apesar de constituir um direito meu alienável, só consegui ao fim de muita insistência junto da parcialíssima mesa.
Destinavam-se os breves minutos a que putativamente teria direito, em contraste com o tempo não controlado de todos os partidários da CPD, a fazer uma breve apresentação da lista de candidatos ao Conselho Nacional do partido que eu orgulhosamente encabecei e, como seria razoável, a contextualizar e justificar as razões de tal candidatura. No entanto, ao fim de alguns segundos (!) das minhas reflexões foi-me cortada a palavra, com todo o tipo de argumentos destrambelhados e contraditórios, primeiro sobre a alegada não adequação da intervenção ao tema em discussão, depois com malcriados insultos e sinais de enfado de quem não concordava comigo, mas que eu ouvira antes em respeitoso silêncio, e por fim, em desespero de causa, com argumentos de ordem temporal. No entanto, numa dualidade de critérios a que infelizmente já nos vamos habituando, esses mesmos argumentos já não foram válidos para impedir que o Presidente da nóvel CPD, meu caro amigo Dr. Carlos Dantas (ao contrário de outros, não confundo relações institucionais com pessoais), usasse em seguida da palavra pela enésima vez para alegadamente me responder (a quê, se não me deixaram falar?). Só que aquilo que deveria ser uma resposta às minhas proibidas explicações, rapidamente se transformou, novamente em tom auto-apologético, na apresentação e enaltecimento da única lista adversária à minha (curiosamente, lista a que ele não pertencia, e com a qual oficialmente se desconhecia qualquer relação) - algo que me foi negado no mais puro estilo ditatorial - e ainda, en passant, em algumas pouco educadas e até abusivas insinuações sobre a lista que eu integrei, suas motivações e pessoas que a compunham.
Corolário: face a tão pouco curial ataque e manipulação, pedi a defesa da honra, figura regimental que permite ao seu utilizador utilizar um dos seus mais elementares direitos, isto é, defender precisamente a sua honra. Foi-me negado tal direito, por "falta de tempo". Engraçado, não é? Isto depois de várias horas somadas de intervenções de todos os elementos e apaniguados da CPD, com natural destaque para o seu Presidente...
Após o encerramento destes tão sui generis trabalhos, uma das mais importantes integrantes da recém empossada CPD do partido, a minha estimada Dr.ª Isabel Fernandes, dirigiu-se-me dizendo, em tom solene mas deliberadamente acusatório, qualquer coisa como: "sabes, eu penso que existe aqui um grupo de pessoas que está a tentar acabar com o partido", ao que eu, naturalmente, lhe respondi da única forma possível: "mas olha que eu acho o mesmo - a única diferença é que eu acho que essas pessoas não são as mesmas em que tu pensas".
Face a tudo isto sinto-me agora muito triste, confuso e até algo perdido; não foi neste partido que me filiei há muitos anos, não foi por este partido que me arrisquei em muitas campanhas num distrito difícil como é o de Setúbal, e não é este partido beato e ensimesmado que eu consigo defender em discussões com outras pessoas, eventualmente indecisas. Por tudo isso, e por outras razões que não digeri ainda, creio que é chegada a altura de parar para reavaliar tudo aquilo por que tenho passado em termos políticos. Mais notícias em breve, talvez...
Pois bem, apresentado este intróito, passo então a falar do CDS-Partido Popular, e da sua situação actual, basicamente aquilo que me traz aqui. Desde já ressalvo que me considero insuspeito para o fazer nos termos que se seguem, pois sou seu militante há mais de vinte anos (a que deverei juntar mais de sete de Juventude Popular, então Juventude Centrista), e em todo este tempo nunca esperei, mendiguei ou obtive qualquer tipo de colocação ou vantagem decorrentes da minha condição de filiado e dirigente - no entanto, durante estes muitos anos, pude observar muito "pára-quedista" a chegar às fileiras do partido, sem qualquer tipo de coerência ideológica (em relação a muitos deles duvido mesmo que tenham algum tipo de ideia política de todo), mas com uma devoção canina a quem está na liderança em cada momento (e, na sua única atitude coerente com o seu grau de dignidade, apresentando rapidamente um olímpico desprezo por aqueles que ontem aparentemente idolatravam, desde que já não ocupem lugares de poder), e tudo isto com o único fito de arranjarem "tachinhos" para si e para os seus. Este fenómeno, não exclusivo do meu partido, teve no entanto, e durante muito tempo, uma dimensão marginal e os "penduras" eram identificáveis à légua e facilmente mantidos a uma adequada distância higiénica. Contudo, com a subida do partido ao Governo, há poucos anos atrás, a coisa precipitou-se e foi com um misto de estupefacção, repulsa e até vergonha que, de um momento para o outro, começo a ver por todo o lado à minha volta a saída dos seus buracos dos tais boys que tanto condenava nos outros partidos, todos eles a alcandorar-se a lugares de alguma responsabilidade, a maior parte das vezes sem capacidades sequer para gerir uma mercearia de bairro, e frequentemente sendo alvo recorrente da chacota de quem com eles trabalhava. Mas o fundamental, para este tipo de criaturas, não é o seu desempenho, mas sim esse conceito vago que designam de "aparecer": "aparecer" num jornal, "aparecer" numa cerimónia pública ou - suprema realização pessoal! - "aparecer" numa reportagem de televisão.
Bom, saltemos agora, cronologicamente falando, por cima do espaço de governação do CDS-Partido Popular até chegarmos aos dias de hoje, em que o país é governado por uma personagem de valor dúbio, mas que tenta disfarçar as suas muitas insuficiências culturais, políticas e cívicas através de grandes doses de arrogância e petulância, com algumas citações de filósofos pelo meio (recorrente, esta forma pífia de mostrar suposta cultura política). Neste cenário encontramos também um CDS-Partido Popular que mudou de direcção, encontrando-se a presente equipa à frente dos destinos do partido há pouco mais de um ano. No entanto, não obstante a sua juventude, e devido a aparentes problemas de auto-estima, complexos de perseguição e outras teorias da conspiração avulsas, foi já esta direcção sufragada internamente por três (!) vezes neste curto espaço de tempo. Curiosamente, e apesar de algumas leituras enviezadas do assunto por parte de quem tem interesse em manipular a informação, a verdade é que a opinião do interior do partido não tem coincidido de todo com a do eleitorado, já que esta direcção também foi entretanto julgada pelo voto Nacional por duas vezes - contudo, em ambas as vezes resultados desastrosos foram convertidos em confortáveis vitórias morais ou coisa que o valha, ao melhor estilo comunista! Na segunda das eleições em que estivémos envolvidos, de resto, para a Presidência da República, decidiu-se até o partido pelo apoio a um candidato cujas únicas negociações conhecidas com o CDS-Partido Popular ficaram confinadas ao auricular do telemóvel do Dr. José Ribeiro e Castro, e em que o candidato demonstrou durante a quase totalidade da campanha um desrespeito pelo nosso partido (que sistemática e intencionalmente designava por "o outro partido que me apoia"), desrespeito esse que, com uma direcção digna desse nome e dos pergaminhos do partido, teria merecido no mínimo uma veemente chamada de atenção e até, em caso de reincidência, a retirada do apoio. Medo de quê? Eu, pela parte que me toca, orgulho-me de afirmar que não votei no Prof. Aníbal Cavaco Silva, tendo sido esta a primeira vez que não votei no CDS-Partido Popular, nos seus candidatos ou de acordo com as suas indicações de voto, e isto desde o longínquo dia do meu recenseamento.
Mas voltemos ao país: vivem-se dias difíceis, os impostos sobem, o Governo anuncia megalómanas e dispendiosas formas de, à custa do já pouco dinheiro dos contribuintes, satisfazer as suas clientelas - vide casos da Ota e do TGV, entre outros - e, não obstante, o que acontece nas sondagens? O PS desce, como seria lógico e expectável num país civilizado e inteligente? Não, a popularidade do Eng. Sócrates continua a subir. Estranho, não é? Nem nos tempos do despesismo populista do Eng. Guterres, outro subproduto felizmente já exportado, o trabalho de propaganda demagógica do PS foi tão fácil. Mas tudo isto, é bom que se diga, não se deve a mérito do PS, mas sim a um evidente e constrangedor demérito por parte das oposições.
A direcção do CDS-Partido Popular adoptou, neste último ano da sua vida, um discurso beato, quase a raiar o reaccionário até em alguns pontos, com o qual o eleitorado moderno, mesmo que de direita, não se identifica; entretanto, as poucas boas ideias que vão surgindo simplesmente não passam para a opinião pública porque o líder apenas o é às quintas, sextas e sábados - devemos ser precavidos, pois ninguém sabe o que nos espera no futuro. Desconhecerá, talvez, esta gente que a política não é apenas ter ideias, mas sim, e principalmente, passá-las para o eleitorado, essa grande massa anónima que decide quem governa. Fica sempre bem, e dá um ar informado, trazer um punhado de autores para citar à sobremesa, mas é de uma tocante ingenuidade esperar que a população leia Oakeshott nos transportes públicos ou Burke antes do jantar!
O Bloco de Esquerda, o maior embuste conhecido até hoje na política nacional, já percebeu há muito o funcionamento da coisa e preocupa-se tanto ou mais com o marketing das suas ideias do que com o seu conteúdo - quando o há! O resultado é que, por mais demagógicas e inexequíveis que surjam sempre as propostas da esquerda-caviar, elas passam a uma população sedenta de novidades e de murros na mesa, enquanto que as imberbes considerações da excelsa Direcção do CDS-Partido Popular sobre turismo, por exemplo, debitadas em ciclo de conferências, não chegam sequer ao único Ministro do Pelouro que este país já teve, o Dr. Telmo Correia, porque os organizadores decidiram não o convidar para o evento. O meu filho tem cinco anos mas já há muito que não tem este tipo de birras e retaliações.
Bom, posto isto chegamos à noite de ontem, noite de Assembleia Distrital de Setúbal, à qual sou delegado por decisão dos militantes que amavelmente me elegeram também para Vice-Presidente da Comissão Política Concelhia de Setúbal. Entre outros pontos da agenda, eminentemente propagandística, da recém empossada Comissão Política Distrital (CPD), encontrava-se a eleição dos quatro delegados ao Conselho Nacional do Partido que representarão naquele orgão os militantes do distrito de Setúbal. O que não estava, certamente, na ordem de trabalhos nem nas previsões de quem os conduziu (que não percebi exactamente quem foi, já que o Presidente da CPD falava quando lhe apetecia e dava indicações directas ao Presidente da Assembleia sobre a forma de dirigir a mesma, decidindo quem podia ou não falar), seria a existência de intervenções não alinhadas com o statu quo vigente. Assim, depois de uma sucessão de intervenções (e respectivas respostas) ao melhor estilo encarneirado, do tipo "Vai dirigir bem esta distrital, não vai?", "Sim, vou dirigir bem esta distrital", passe a caricatura, chegou finalmente a minha vez de usar da palavra, algo para que me inscrevi desde o princípio dos trabalhos, mas que, apesar de constituir um direito meu alienável, só consegui ao fim de muita insistência junto da parcialíssima mesa.
Destinavam-se os breves minutos a que putativamente teria direito, em contraste com o tempo não controlado de todos os partidários da CPD, a fazer uma breve apresentação da lista de candidatos ao Conselho Nacional do partido que eu orgulhosamente encabecei e, como seria razoável, a contextualizar e justificar as razões de tal candidatura. No entanto, ao fim de alguns segundos (!) das minhas reflexões foi-me cortada a palavra, com todo o tipo de argumentos destrambelhados e contraditórios, primeiro sobre a alegada não adequação da intervenção ao tema em discussão, depois com malcriados insultos e sinais de enfado de quem não concordava comigo, mas que eu ouvira antes em respeitoso silêncio, e por fim, em desespero de causa, com argumentos de ordem temporal. No entanto, numa dualidade de critérios a que infelizmente já nos vamos habituando, esses mesmos argumentos já não foram válidos para impedir que o Presidente da nóvel CPD, meu caro amigo Dr. Carlos Dantas (ao contrário de outros, não confundo relações institucionais com pessoais), usasse em seguida da palavra pela enésima vez para alegadamente me responder (a quê, se não me deixaram falar?). Só que aquilo que deveria ser uma resposta às minhas proibidas explicações, rapidamente se transformou, novamente em tom auto-apologético, na apresentação e enaltecimento da única lista adversária à minha (curiosamente, lista a que ele não pertencia, e com a qual oficialmente se desconhecia qualquer relação) - algo que me foi negado no mais puro estilo ditatorial - e ainda, en passant, em algumas pouco educadas e até abusivas insinuações sobre a lista que eu integrei, suas motivações e pessoas que a compunham.
Corolário: face a tão pouco curial ataque e manipulação, pedi a defesa da honra, figura regimental que permite ao seu utilizador utilizar um dos seus mais elementares direitos, isto é, defender precisamente a sua honra. Foi-me negado tal direito, por "falta de tempo". Engraçado, não é? Isto depois de várias horas somadas de intervenções de todos os elementos e apaniguados da CPD, com natural destaque para o seu Presidente...
Após o encerramento destes tão sui generis trabalhos, uma das mais importantes integrantes da recém empossada CPD do partido, a minha estimada Dr.ª Isabel Fernandes, dirigiu-se-me dizendo, em tom solene mas deliberadamente acusatório, qualquer coisa como: "sabes, eu penso que existe aqui um grupo de pessoas que está a tentar acabar com o partido", ao que eu, naturalmente, lhe respondi da única forma possível: "mas olha que eu acho o mesmo - a única diferença é que eu acho que essas pessoas não são as mesmas em que tu pensas".
Face a tudo isto sinto-me agora muito triste, confuso e até algo perdido; não foi neste partido que me filiei há muitos anos, não foi por este partido que me arrisquei em muitas campanhas num distrito difícil como é o de Setúbal, e não é este partido beato e ensimesmado que eu consigo defender em discussões com outras pessoas, eventualmente indecisas. Por tudo isso, e por outras razões que não digeri ainda, creio que é chegada a altura de parar para reavaliar tudo aquilo por que tenho passado em termos políticos. Mais notícias em breve, talvez...
2006/03/30
2006/03/13
Banda sonora
É bem verdade: há coisas que fazemos e outras que deixamos de fazer, sem que nos apercebamos disso, sem sequer um motivo para tal. Há uns anos, poucas coisas na vida me davam mais prazer do que um passeio pelo Chiado ao Sábado de manhã - mas a vida mudou, aos poucos fui deixando o hábito e, percebi hoje, deixei de percorrer aquelas ruas, como a "menina das tranças pretas".
Mas como não há acasos, sucedeu este fim de tarde, de forma inesperada e especialíssima, marcar um encontro para o Chiado e, como num filme, todas as memórias voltaram, até ao distante início da minha vida universitária na Rua das Flores, quando todos os dias palmilhava aquelas calçadas.
A ocasião merecia uma comemoração e um marco, achei, e acabei por descer até à FNAC do sítio e resgatar da prateleira a banda sonora de "Storytelling", de Todd Solondz (que não vi, confesso, mas de quem vi o brutal e genial "Happiness"), cantada pelos ("say no more, say no more!") Belle and Sebastian.
A vida podia ser perfeita...
2006/03/05
A vida é bela!
Os Kings of Convenience dão um espectáculo na Aula Magna, Lisboa, no próximo dia 29 de Abril. É preciso dizer mais alguma coisa?
2006/02/26
Rally Magic
Sempre que digo isto sinto-me pedante, mas é a mais pura das verdades: depois de já se ter experimentado um rali "por dentro", perde-se mais de metade do gosto de os ver na berma da estrada. E, não obstante, já passei muitas noites no carro, já apanhei muito frio nas orelhas, tudo para ver evoluir os "colegas" e poder saudá-los à saída duma curva - tal como, quando vou "lá dentro", gosto de ver os amigos a incentivar-me nos lugares mais improváveis.
Não foi o caso ontem, dia do Rali Casino da Póvoa, primeira prova do Campeonato Nacional de Ralis: depois de muitas hesitações "vou-não-vou", e na ressaca de uma semana de mudança de emprego anormalmente agitada, acabei mesmo por me decidir por ficar em casa. Eram quase 1000 km a fazer, e depois havia ainda aquela dificuldade de digestão do facto de este ano não ter conseguido um lugar dentro de um carro de corrida (está bem, eu sei que andei meio "perdido" e que acordei tarde), pelo que o apelo de um pacato Sábado de descanso partilhado com o meu filho falou mais alto - isso e a perspectiva de poder encontrar alguém cá, confesso, mesmo que só de vislumbre.
Pelos vistos tive razão: a intempérie causou bastantes problemas a organizadores, concorrentes e público, e várias classificativas tiveram mesmo que ser anuladas, deixando um amargo de boca a todos os intervenientes. Mesmo assim, vendo hoje as fotos publicadas, não consigo deixar de sentir uma pontinha de inveja dos bravos que por lá andaram (sim, aquilo é neve, e a foto foi tirada ontem na zona de Vieira do Minho!). Talvez se lembrem de mim numa próxima prova, mas talvez então eu não possa... Talvez as coisas possam começar agora a correr-me melhor.
2006/02/17
Secção de leituras
Há dias lia numa crónica de João Bénard da Costa que, muitas vezes, não somos nós que encontramos os livros, mas sim eles, livros, que nos encontram. Certíssimo, como sempre.
Há mais de um ano, no aeroporto de Recife, aguardando o embarque para um voo transatlântico de muitas horas e com o stock de leituras que havia levado de cá já completamente lido, entrei numa livraria. Como livro do dia, "64 contos" de Rubem Fonseca, um calhamaço de mais de 800 páginas, aspecto algo tosco, mas que, contudo, se riu para mim. Comprei-o, claro. As referências que tinha de Rubem Fonseca eram praticamente nulas, confesso, mas durante o voo deu para inverter radicalmente essa situação. Aeroporto de Lisboa, trâmites alfandegários, o livro vai para o porão de um saco de mão, o saco que normalmente uso em viagens profissionais, e começa a "ganhar cama" lá no fundo, maioritariamente por preguiça. Nos hotéis nacionais, quando conseguia chegar mais cedo ao quarto, ainda o resgatava ao seu refúgio, mas o cansaço não me permitia ler mais que quatro ou cinco páginas avulsas, sem tempo, portanto, para tomar o gosto (melhor diria relembrar) ao seu esplendor.
E eis que chegam os últimos dias, catadupas de acontecimentos, e de repente disponho de mais algum tempo para ler. Os contos lá continuavam, a olhar para mim - e fizeram bem nessa persistência, pois as tais 800 páginas parecem agora 8, de tão depressa que se estão a passar!
Que crueza, que realismo, e, ao mesmo tempo, que mistério, que beleza. O Brasil deve ter mais a ver com isto, acho eu.
Há mais de um ano, no aeroporto de Recife, aguardando o embarque para um voo transatlântico de muitas horas e com o stock de leituras que havia levado de cá já completamente lido, entrei numa livraria. Como livro do dia, "64 contos" de Rubem Fonseca, um calhamaço de mais de 800 páginas, aspecto algo tosco, mas que, contudo, se riu para mim. Comprei-o, claro. As referências que tinha de Rubem Fonseca eram praticamente nulas, confesso, mas durante o voo deu para inverter radicalmente essa situação. Aeroporto de Lisboa, trâmites alfandegários, o livro vai para o porão de um saco de mão, o saco que normalmente uso em viagens profissionais, e começa a "ganhar cama" lá no fundo, maioritariamente por preguiça. Nos hotéis nacionais, quando conseguia chegar mais cedo ao quarto, ainda o resgatava ao seu refúgio, mas o cansaço não me permitia ler mais que quatro ou cinco páginas avulsas, sem tempo, portanto, para tomar o gosto (melhor diria relembrar) ao seu esplendor.
E eis que chegam os últimos dias, catadupas de acontecimentos, e de repente disponho de mais algum tempo para ler. Os contos lá continuavam, a olhar para mim - e fizeram bem nessa persistência, pois as tais 800 páginas parecem agora 8, de tão depressa que se estão a passar!
Que crueza, que realismo, e, ao mesmo tempo, que mistério, que beleza. O Brasil deve ter mais a ver com isto, acho eu.
Dominó
Existem estigmas e sindromas que, por um motivo ou outro, teremos que carregar toda a vida. No meu caso pessoal, uma das coisas que mais frustrado me deixa consiste na incapacidade de, no contacto pessoal, transmitir às outras pessoas o tipo de ser humano que eu sou. Uma grande timidez desde pequeno, a rasar as fronteiras do caso patológico, a juntar a uma memória fotográfica de duração inferior à de um peixinho vermelho, criam em muitas das pessoas que me conhecem a ideia de que sou afectado e até antipático - o que, como poucos saberão, é uma ideia perfeitamente injusta!
Agora a história repete-se: divorciado recente, mas, contrariando as imagens feitas, mantendo uma vida relativamente sossegada e praticamente sem casos boémios, tenho dificuldade em fazer as pessoas acreditarem que é assim que a minha vida se passa na verdade e que o meu sonho, longe de ser o de um playboy, passa por coisas muito mais prosaicas e mundanas - comezinhas até, secalhar.
Mas afinal a culpa só pode ser minha, não é?
Agora a história repete-se: divorciado recente, mas, contrariando as imagens feitas, mantendo uma vida relativamente sossegada e praticamente sem casos boémios, tenho dificuldade em fazer as pessoas acreditarem que é assim que a minha vida se passa na verdade e que o meu sonho, longe de ser o de um playboy, passa por coisas muito mais prosaicas e mundanas - comezinhas até, secalhar.
Mas afinal a culpa só pode ser minha, não é?
2006/02/10
E não se pode exportá-los?
Há umas horas atrás ouvi uma daquelas eminências pardas do Partido Socialista, Vitalino Canas de seu nome, dizer, na Assembleia da República (onde eu lhe pago para ser deputado!), que tão condenáveis eram os ataques islâmicos recentes como as caricaturas que, alegadamente, lhes deram origem. Isto, depois das anteriores declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Camaleão do Amaral, dá bem uma ideia da tacanhez de ideias que grassa no partido em que mais de metade dos eleitores portugueses que se dirigiram às urnas nas últimas legislativas depositaram a sua confiança.
2006/02/09
Parte II
Está bem, não precisam de começar já a bater; eu sei que foi uma ausência demasiado grande, mas acreditem que existiram razões para tal - não as vou especificar agora, porque também não têm nenhum interesse para quem lê este blog (aliás, não têm nenhum interesse para ninguém a não ser para mim), mas aconteceram. A boa notícia, no entanto, é que este blog vai voltar a ter alguma regularidade, e espero que os posts acompanhem alguma boa evolução pessoal e espiritual da sua equipa redactorial. E pronto, era isto que eu queria dizer...
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